Vazanteiros do São Francisco – mais uma vez aterrorizados, ameaçados e com seus direitos violentados

Os Vazanteiros da Ilha Pau de Légua, do Município de Matias Cardoso Norte de Minas, vêm sendo tratados como invasores e são sistematicamente pressionados pelos técnicos do IEF, que se utilizam do poder da instituição como órgão fiscalizador ambiental para repreender, punir e coibir a ocupação da área. Tudo vem sendo feito disconsiderando as especificidades do grupo e os seus vínculos territoriais. A ação empreendida pelo orgão ambiental é de vigilância ostensiva em relação aos vazanteiros e vazanteiras do Pau de Légua, o que envolve intimidações, ameaças de despejo e notificações constantes. Desta forma, os órgãos cerceiam as atividades produtivas tradicionais dificultando a permanência das famílias no lugar.

As Comunidades Vazanteiras, que vêm se organizando e lutando pela reconhecimento de seus territorios vêm sofrendo ameaças e violação constantes dos seus direitos. Não bastase a Invasão do acampamento e a Prisão de Jesuito Gonçalves, Presidente da Associação do Quilombo da Lapinha, em julho de 2010. Agora vimos informar e relatar os fatos ocorridos nestes dias na comunidade de Pau Preto e Ilha Pau de Légua.

No dia 23 de Setembro de 2010, três policiais de Manga foram até a comunidade do Pau Preto e entraram em algumas casas dos vazanteiros, intimidando as famílias, à procura de armas de fogo (espingardas) e coagindo e amedrontando até criança de 10 anos.

No dia 05 de Novembro, o Gerente do Parque da Mata Seca, Senhor José Luiz, acompanhado por um cabo, dois policiais de Manga e três brigadistas, foi até a Ilha de Pau de Légua. No momento da ação, ao serem abordados e ameaçados, os vazanteiros que ali se encontravam cuidando de suas roças perguntaram aos mesmos “vocês t^wm um mandado da Justiça para executar esta repressão?”. Eles não apresentaram nada e nem responderam.

Em seguida caminharam pela Ilha, chegando nos barracos do Senhor Antonio Alves dos Santos e José Ranolfo Moreira de Souza. Derrubaram os barracos, quebraram as telhas, destruiram as hortas, deixando sobre os escombros as ferramentas de trabalho, vasilhas e roupas. Levaram a rede e a tarrafa que se encontrava na malha.

Assustados com a violência um vazanteiro diz: “Estamos assustados e temerosos com tantas ameaças que sofremos quase todo dia. Estas ameaças nos lembram quando fomos expulsos pela primeira vez da Lavagem de Imbari, logo aqui perto, onde morávamos até o ano de 1973.

Convocamos a todos a se indignarem com as ações de um estado que não respeita o direito humano, que impõe as leis ambientas, definindo as regras em função dos grandes investimentos do hidro e agronegócio, sem levar em conta as comunidades tradicionais que secularmente viveram nestas região, numa relação de solidariedade, partilha e harmonia com a terra e todos os seres vivos.

Zilah de Mattos
Comissão Pastoral da Terra Norte de Minas

Enviado por Ricardo Álvares.

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