Desenvolvimento e ódio

Não é por acaso a xenofobia palpável em São Paulo nos comentários sobre coreanos, bolivianos e outros imigrantes dedicados ao comércio ou a trabalhos braçais. A cidade, em certos círculos, virou um poço de intransigência”, constata Fernando Rodrigues, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 06-11-2010. Eis o artigo.

A eleição de Dilma Rousseff, primeira mulher e também filha de um imigrante, para o Palácio do Planalto coincidiu com um movimento de forte caráter preconceituoso contra nordestinos. No dia seguinte à vitória da petista, a rede social Twitter foi invadida por comentários do tipo “mate um nordestino”, “seca eterna pra vocês” ou “Dilma presidente parabéns povo burro”.

Houve reação imediata nos meios de comunicação do Nordeste. O jornal “Correio” da Bahia publicou em sua primeira página a foto da quem teria iniciado a onda com o título “A paulista”. Era um alerta: a inimiga de São Paulo.

Esse choque de culturas é inevitável em um país tão desigual como o Brasil. Era menos visível há pouco tempo por causa do subdesenvolvimento secular.

A afluência das classes emergentes escancarou as diferenças. Basta viajar de avião. Sempre haverá alguém usando o transporte pela primeira vez. Madames empertigadas e alguns engravatados exalam incompreensão quando um passageiro mais humilde não localiza seu assento e atrasa a acomodação de todos após o embarque.

Shopping centers com alguma estação de metrô por perto passaram a ter um público diversificado entre todos os estratos sociais.

Conviver com as diferenças e aceitar a diversidade é uma obrigação cívica. Sociedades como a brasileira, ao contrário da lenda, são atrasadas e pouco propensas à tolerância. O desenvolvimento do país explicita esse traço.

Não é por acaso a xenofobia palpável em São Paulo nos comentários sobre coreanos, bolivianos e outros imigrantes dedicados ao comércio ou a trabalhos braçais. A cidade, em certos círculos, virou um poço de intransigência.

O estranhamento piorará com a ascensão de milhões à classe média. Eis aí um desafio complexo. Mais difícil do que extirpar a pobreza extrema, como prometeu Dilma.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=38087

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