Índios e jesuítas: a experiência de um império nas fronteiras

Reportagem: Márcia Junges

Ativos participantes da colonização europeia no continente americano, de 1549, ano em que a Companhia de Jesus chegou no Brasil, a 1767. Assim eram os padres jesuítas, que tinham a catequese e os cuidados espirituais como seus campos de mais destacada atuação entre os povos indígenas. Estabelecidos em grandes centros, mas também em fronteiras como a Baixa Califórnia, Amazônia, Cordilheira dos Andes, Deserto do Chaco e a Pampa Patagônia, os missionários foram agentes fundamentais no contexto da conquista-colonização. “Esse é um movimento que ocorreu paralelamente”, explicou a historiadora Maria Cristina Bohn Martins no minicurso “Missiones” e “Pueblos de índios”: o império nas fronteiras, na tarde desta terça-feira, 26-10-2010, parte integrante da programação do XII Simpósio Internacional IHU: a experiência missioneira: território, cultura e identidade.


Na América, afirma a pesquisadora, foi confiada à Igreja a missão de auxiliar no trabalho de submissão e europeização dos índios. No Paraguai as primeiras missões surgiram em 1607. No Peru há uma espécie de ensaio das missões jesuíticas. Em 1609-1610 se inicia a missão entre os guarani, que ao longo do século XVII conheceu forte expansão e estabilidade. No Paraguai, destaca Maria Cristina, surgem os 30 pueblos.

O século dos jesuítas

Quando os jesuítas foram expulsos do continente, em 1767, deixam uma rica combinação de religião, missão cristã e geopolítica. “Aliás, o século XVIII pode ser considerado como o século dos jesuítas”. Nesse período é notável a expansão ativa da Companhia de Jesus em viagens e abertura de novas frentes de missão. Pode-se falar, inclusive, de uma segunda conquista da América realizada pelos jesuítas. A ampliação do território de ação dos sacerdotes é notável, acrescenta.

Maria Cristina apresentou diversos mapas localizando essas missões, além de apontar detalhes das construções dos aldeamentos. Duas das missões apresentadas nas imagens foram a Redução de Timbó e a de Maynar, no Peru, no Alto Amazonas. A historiadora comentou, também, sobre as Missões Austrais, localizadas na região do Pampa Patagônia, compostas por grupos nomeados pelos jesuítas como pampas e serranos. Entretanto, essas nomenclaturas não eram, na maioria das vezes, reconhecidas pelos indígenas.

Protagonismo indígena

Os indígenas eram observados pelos padres a partir de sua maior ou menor predisposição para o Evangelho. Além disso, ficava clara a distinção entre os missionários, tidos pelos indígenas como bons e virtuosos, enquanto que os espanhóis eram fontes de maus exemplos. O mundo indígena em contato com os missionários europeus viveu transformações significativas, com uma atualização da autoridade dos caciques e a introdução do gado na economia autóctone. “Isso mudou definitivamente a realidade daqueles povos”, afirmou.

Conforme Maria Cristina, muitos indígenas solicitavam a proteção dos padres para se refugiarem do domínio espanhol. Não se tratava de um desejo sincero de ser cristãos, aponta. Outra curiosidade é que as missões eram consideradas pelos índios como bem sucedidas se não faltasse comida. Caso o alimento deixasse de ser oferecido nas reduções, poderia haver um colapso. Assim, a permanência, ou não, da missão, não significava uma adesão inconteste ao cristianismo. Os índios tinham resistência em aderir ao trabalho agrícola, pois sua concepção era de que não haviam nascido para se fatigar.

A palestrante encerrou sua fala destacando que a historiografia moderna concede protagonismo aos indígenas na forma como estes participaram do processo de criação, manutenção e encerramento das missões. A história das missões tem tudo a ver com a participação dos indígenas em seus desdobramentos.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37722

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