Madeireiros retornam ao assentamento de Dorothy

Uma ilha de floresta cercada de pasto por todos os lados, o assentamento pelo qual morreu a missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang vem sendo, desde o final do ano passado, constantemente invadido por madeireiros. A reportagem é de João Carlos Magalhães e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 04-10-2010.

A retirada ilegal de madeira do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, em Anapu (750 km de Belém), reacendeu a violência na região do Pará – uma das mais resistentes fronteiras do desmatamento na floresta amazônica.

Nos últimos dois meses, ao menos três veículos utilizados pelos madeireiros foram queimados – uma picape, um caminhão e um trator. Para evitar mais conflitos, o Ministério Público Federal pediu o envio de agentes da Força Nacional de Segurança ao local. Até sexta, a solicitação não havia sido atendida.

É comum ver madeireiros entrarem no assentamento “armados até as goelas”, conta a missionária Jane Dwyer, herdeira do trabalho deixado por Dorothy Stang. “Agora, entra madeireiro escoltado por pistoleiro. Parece procissão”, diz Dwyer. Para ela, “só Deus sabe” quem queimou os veículos e preferiu não envolver os assentados no episódio.

Dwyer diz que alguns trabalhadores rurais acabam recebendo dinheiro para colaborar com os invasores, mas Felício Pontes, procurador da República que atua no caso, afirma que eles, desde a morte de Stang, se conscientizaram sobre a necessidade de não se corromperem.

INVASÕES “BRUTAIS”

Segundo Dwyer, as invasões começaram em dezembro de 2009 e se tornaram mais constantes, mais ferozes e mais brutais conforme as eleições se aproximaram. Isso porque, afirma, a proximidade do pleito aumentou o poder de articulação do prefeito de Anapu, Francisco de Assis Sousa, o Chiquinho do PT, ex-pupilo de Stang, hoje aliado de fazendeiros. “Ele [Chiquinho] diz: pode vender, pode derrubar, porque aqui não entra Ibama.”

Em uma operação há cerca de dez dias em Anapu, funcionários do Ibama foram hostilizados por Chiquinho.

Para fiscais do órgão federal ouvidos pela Folha, há indícios de que a governadora Ana Júlia Carepa (PT), por apoio político, “blindou” os fazendeiros contra ações federais. A ideia também circula entre assentados do PDS. Mas o governo estadual nega veementemente a possibilidade e diz que Ana Júlia e Stang eram amigas. Segundo sua assessoria, o governo não “blinda” ninguém.

Outro indício da teoria é que, desde julho, o Estado deixou de ceder policiais militares para acompanhar o Ibama em missões.

Na sexta-feira, a reportagem procurou a assessoria da PM, que não pôde dar sua versão, pois disse estar “focada na operação das eleições”. A Folha também ligou para a prefeitura de Anapu, mas não localizou o prefeito.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=36933

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