Mato Grosso do Sul famoso

Egon Dionísio Heck *

Adital – Tristemente famoso. Mas também alegremente esperançoso. O Estado está na boca do Brasil e do Mundo, num inesquecível setembro da revelação da corrupção. Véspera de eleições. O povo se engana só uma vez. Ou melhor, não consegue manter toda uma população iludida o tempo todo. Uma hora a casa da corrupção cai. Ruíram as “torres gêmeas”, num 11 de setembro. Dia em que também foram expulsos de sua terra a um ano os Kaiowá de Laranjeira Nhanderu. Mês em que os chefes do executivo e legislativo de Dourados foram para a cadeia. Mês em que foram reveladas falcatruas com o dinheiro público nos três poderes do Estado. Mas também o mês em que os povos indígenas açoitados historicamente pela invasão de suas terras e agora a negação a um pedaço de seu sagrado chão, também se rebelaram e partiram para suas terras tradicionais.

Dourados- capital da corrupção, mas também da Missão

O setembro de uma pílula nada dourada ficará na memória da população, como o fim de um tempo. Tempo de negação sistemática do direito da terra das populações indígenas, com atitudes de descriminação e racismo contra as populações indígenas, especialmente os Kaiowá Guarani. Tempo em que alguns se apossaram do poder para se locupletar com o dinheiro público, instaurando um regime aberto e amplo de corrupção.

Mas é também neste mês de setembro que se lançam as sementes da nova missão. Missão de justiça, de solidariedade, de transparência e reconstrução da democracia, verdade e do amor. O regional Oeste 1 da CNBB foi construindo ao longo deste último ano um processo de reflexão e preparação do 2 Congresso Missionário Regional. O primeiro se realizou em Miranda em 2004 e agora o segundo teve sua abertura ontem à noite em Dourados.

O 2° Congresso missionário.

Depois de uma longa estiagem, chega a chuva bendita. Com ela traz ao chão a vida. Tempo de lançar a semente. Tempo de primavera. Tempo de um novo tempo, de uma nova missão!

É assim que os quase mil participantes deste Congresso Missionário vêem sua presença em Dourados durante esses dias. Nunca a cidade viu tantos assessores nacionais da CNBB reunidos num só local e momento no Mato Grosso do Sul.

O chão em que acontece o seminário não poderia ser mais propício. Não é apenas a fértil terra vermelha que se prepara para receber as sementes lançadas pela multidão, mas é a certeza de que será também daqui que partirão iniciativas corajosas e evangélicas em favor da missão para a vida, e vida plena para todos.

Solidariedade e apoio da CNBB aos Povos Guarani Kaiowá

A grave violência e violação dos direitos de comunidades dos povos Guarani Kaiowá, levou a direção da CNBB a se manifestar mais uma vez em favor da vida e dos direitos dessa população “Repudiamos as ameaças que pesam sobre as comunidades indígenas Y’poí, (localizada no município de Paranhos) e Ita’y Ka’aguyrusu (no município de Douradina). São ataques à mão armada numa brutal intimidação aos habitantes dessas comunidades que se veem não só cerceadas no seu direito de ir e vir como também privadas de bens essenciais à vida como água, comida, educação e saúde”.
Diante dessa realidade os bispos fazem um apelo para que uma ação urgente e eficaz por parte do Governo federal. “Essa situação exige uma solução rápida, urgente e eficaz. Por isso, a CNBB dirige um veemente apelo ao Governo para que faça cumprir os dispositivos da Constituição Federal de demarcar as áreas tradicionalmente ocupadas pelos Guarani-Kaiowá. Tal medida é o caminho para reverter o deplorável quadro de violência naquela região e, assim, garantir a vida deste povo que honra o país com sua cultura e seus costumes”.

Certamente também os participantes do Segundo Congresso Missionário que está se realizando em Dourados estará expressando sua solidariedade ao povo Indígena Kaiowá Guarani, que são aproximadamente 40 mil pessoas, estando quase todos na diocese de Dourados.

Assim como a CNBB, a Anistia Internacional e várias instituições regionais e internacionais têm manifestado sua preocupação e solidariedade aos povos Guarani. Só com essa ampla mobilização e solidariedade os direitos fundamentais desse povo, especialmente às suas terras, estarão asseguradas. Os grupos de Trabalho estão voltando às áreas para concluir os trabalhos de identificação. Os Kaiowá Guarani esperam que o compromisso do presidente Lula de publicar a identificação de suas terras antes do final de seu governo seja cumprido.

Movimento Povo Guarani Grande Povo

Dourados, 24 de setembro de 2010

* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=51191

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