Índios pressionam senadores pela aprovação de Secretaria da Saúde Indígena

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Senado vota criação da secretaria na terça-feira (3), que vai tirar a responsabilidade da Funasa no atendimento à saúde dos povos indígenas.  Índios devem iniciar manifestações em Brasília, em prol da Secretaria, ainda hoje (2)

Bruno Calixto

Será votado na próxima terça-feira (3), no Senado, Projeto de Lei de Conversão (PLV) 8/2010, antiga Medida Provisória 483 (MP 483), que altera a organização de secretarias da Presidência da República e de ministérios.  Entre as mudanças, o projeto altera o atendimento a saúde indígena. Atualmente, a saúde indígena é de responsabilidade da Fundação Nacional da Saúde (Funasa).  Se aprovado, o PLV vai transferir essa competência diretamente para o Ministério da Saúde, criando a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

O PLV diz que as “ações de saneamento básico e ambiental em áreas indígenas devem ser transferidas da Funasa para a nova Secretaria e desenvolvidas sob a responsabilidade das unidades administrativas denominadas Distritos Sanitários Especiais Indígenas”.  Com a medida, serão criados 118 novos cargos destinados a estruturação da secretaria e dos distritos sanitários.

O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 07 de julho.  O prazo para a votação do PLV no Senado é até a próxima quarta-feira (4).  Se não for aprovado até lá, a MP perde a validade, e o atendimento da saúde indígena continua com a Funasa.

Apoio dos povos indígenas

Diversas organizações e movimentos indígenas apoiam a mudança.  O tratamento da saúde nas aldeias é uma das questões mais problemáticas da política indígena recentemente, com muitas etnias criticando os convênios entre Funasa e ONGs para o atendimento da saúde.

Segundo Edmilson Terena, líder indígena da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a expectativa na criação da Secretaria de Saúde Indígena é a melhor possível.

“Nós temos a perspectiva de ter uma secretaria, em Brasília, que vai gerenciara saúde sem aquele meio termo, que as comunidades estão reclamando, que antes era feito pela Funasa.  A expectativa é que os distritos sejam autônomos, junto com os Conselhos Municipais Indígenas, para fazer as ações nas aldeias”, disse Edmilson.

O líder Terena explica que está sendo organizada uma manifestação em Brasília, para pressionar os senadores a aprovarem a MP.  “Nós estaremos lá para cobrar que o projeto seja aprovado pelo Senado”.  Também o líder Yanomami David Kopenawa mandou mensagem aberta endereçada a todas as lideranças indígenas do Brasil, convocando-os para ir a Brasília apoiar a criação da Secretaria.

O que muda

De acordo com a advogada Ana Paula Caldeira Souto Maior, do Instituto Socioambiental (ISA), a principal mudança com a nova secretaria será a realocação dos recursos financeiros destinados ao atendimento da saúde.

Segundo Ana Paula, atualmente a Funasa enfrenta uma série de escândalos de corrupção, e os chefes dos distritos sanitários atuais foram escolhidos por indicação política, e não técnica.  “É esperado também que a Secretaria vá poder finalmente dar condições para que os Distritos de Saúde Indígena possam funcionar de maneira autônoma administrativa e financeiramente, com maior controle social”, explica.

A advogada acredita que o maior entrave da nova secretaria especial seria a de construir uma política de recursos humanos mais adequada à realidade do atendimento nas aldeias.  “O desafio imediato será selecionar o pessoal que hoje trabalha na Funasa com base em critérios que levem uma nova forma de atuação da secretaria, sem os vícios que o órgão tem hoje”, diz.

Além de criar a secretaria especial indígena, o PLV 08/2010 também confere status de ministério às secretárias especiais de Direitos Humanos, de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e de Políticas para as Mulheres.

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