Tribunal de Iquitos suspende temporariamente expulsão do padre inglês Paul McAuley

Um tribunal de Iquitos acatou  medida cautelar contra a ordem de expulsão do Padre Paul McAuley, horas antes do término do prazo dado pelo governo para que ele deixasse o Perú. Segundo a advogada do religioso, “o processo para anular a ordem de expulsão pode levar de um mês a seis meses ou mais”.

A decisão de expulsar McAuley acontece em meio a grande tensão entre os povos originários e o governo, a partir do veto do Executivo à lei votada pelo Congresso que tornaria obrigatória a consulta aos povos indígenas antes de aprovar operações de exploração de recursos naturais em seus territórios, de acordo com o que estabelece o Convênio 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), integrada pelo Peru integra.

Paul McAuley, de 65 anos, vive no Peru há 20 anos e  trabalha na Amazônia há dez. Ele vem questionando as empresas petroleiras que contaminam a selva amazônica e apóia os povos indígenas contra as transnacionais em defesa de seus territórios.

O primeiro-ministro do Peru, Javier Velásquez Quesquén, acusou o sacerdote britânico de agitador, por questionar as políticas governamentais: “Não podemos permitir que um estrangeiro vá contra o modelo de desenvolvimento. Nós defendemos os investimentos”, disse Velásquez, com referência às críticas de McAuley às transnacionais que exploram recursos naturais nos territórios indígenas.

Em Iquitos, capital da região de Loreto e principal cidade da Amazônia peruana, o sacerdote britânico, que preside a Rede Ambiental Loretana, rejeitou as acusações do governo: “Essa decisão do governo chegou como uma surpresa. Não entendo a razão. Eu não animei ninguém à violência. O que fazemos é exigir que a lei seja aplicada. Isso é um crime? E trabalhamos pela defesa dos direitos indígenas e do meio ambiente, segundo o ensinamento social da Igreja Católica. Apelamos contra essa decisão, que é um abuso”, indicou McAuley. Nos últimos dias, o Padre havia criticado severamente a petroleira argentina Pluspetrol por causa do derramamento de 400 barris de petróleo no rio Marañón, afluente do Amazonas.

A expulsão de McAuley despertou uma ampla rejeição entre as comunidades indígenas, grupos ambientalistas e de direitos humanos, órgãos internacionais como a Anistia Internacional, intelectuais e organizações sociais e sindicais, inclusive a CIMI, no Brasil. No entanto, a mais alta hierarquia da Igreja Católica, representada pelo arcebispo de Lima, Juan Luis Cipriani, membro da Opus Dei e próximo do governo, optou pelo silêncio.
A ordem de expulsão contra o sacerdote

O governo acusou os congressistas do opositor Partido Nacionalista, organizações ambientalistas e membros da Igreja Católica que trabalham na Amazônia, entre eles o sacerdote McAuley, de promover o protesto indígena e a violência. O líder dos índios amazônicos, Alberto Pizango, teve que pedir asilo político na Nicarágua, depois que o governo o responsabilizou pelas mortes. Há pouco mais de um mês, Pizango voltou ao Peru e, embora não tenha sido preso, teve que enfrentar um julgamento, junto com outros dirigentes indígenas, por rebelião e outras acusações.

A tensão aberta entre o governo e os indígenas amazônicos começou em 2008, quando o Congresso aprovou um pacote legal que facilitava a entrega das terras indígenas às transnacionais. No dia 5 de junho de 2009, um protesto indígenas de mais de dois meses contra essa decisão terminou em um violento enfrentamento com a polícia, que deixou 34 mortos.

Observação: texto construído a partir de reportagem de Carlos Noriega, publicada no jornal Página/12, 08-07-2010, traduzida por Moisés Sbardelotto e publicada na versão original pela Unisinos, em http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34146

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