Mudar o sistema: eis a luta!

Elaine Tavares

Tenho acompanhado nas redes sociais as manifestações de centenas de pessoas protestando contra o fato de um assumido homofóbico e racista ser o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Confesso que ainda não consegui entender muito bem o motivo da estupefação. Eu, particularmente, acho magnífico. Penso que essas ditas “aberrações” conseguem fazer com que as pessoas, que no geral não se preocupam com política, percebam que alguma coisa não cheira bem. Mas é só isso.

O fato é que o legislativo brasileiro não é espaço de representação dos movimentos sociais organizados, nunca foi. Não é locus das maiorias. O legislativo é lugar dos interesses de grupos muito específicos, que representam negócios lucrativos e que legislam para eles. No universo dos 503 deputados há uma ínfima parcela – mas ínfima mesmo – de pessoas que representam alguma demanda popular. Os demais, ou é testa de ferro de algum interesse, ou é o chefe mesmo: vide Sarney.

O Congresso Nacional é composto por gente que se elege a partir de milionárias campanhas bancadas pelos interesses do mundo dos negócios: construtoras, fazendeiros, empresas multinacionais, coisa graúda mesmo. Não é lugar para “zezinhos”. Os poucos que conseguem se eleger apesar de toda essa frente econômica dos poderosos de plantão, acabam apenas legitimando a algaravia dos sem-vergonha que vendem a ideia de que as eleições são uma “festa democrática”.  Pode até ser festa, mas não é democrática.

Eleição democrática é aquela em que as pessoas podem escolher um candidato que foi indicado pelos movimentos sociais, uma pessoa que se conhece, que trabalha para as causas coletivas. Como acontece em Cuba, por exemplo. Os candidatos são indicados nas assembleias de bairro, por gente que sabe em quem está depositando sua confiança. Não há campanha com rios de dinheiro correndo porque ninguém vai ao parlamento para “encher os bolsos”, nem o deles nem o de ninguém. As pessoas se elegem para fazer o país caminhar. E também não recebem altos salários para servir ao seu país. O fazem, ou trabalhando no seu trabalho de sempre, ou recebendo o mesmo salário que receberia se estivesse no seu local de trabalho original. Opa, isso sim é que é um legislativo passível de ser confiável. E aí sim causaria estupor se um indicado à comissão de minorias e direitos humanos fosse um reacionário. Porque seria uma excrescência total.

Mas, aqui, no Brasil, onde os congressistas se elegem a partir o poder econômico, e muitas vezes são completos desconhecidos dos eleitores, o que se poderia esperar? É óbvio que os que vão comandar as comissões, de direitos humanos ou qualquer outra, serão os prepostos do capital, dos interesses alheios aos desejos das gentes. É o óbvio!!! É ululante!! Uma pessoa comprometida com os interesses da nação numa presidência de comissão qualquer é que seria algo inédito e perturbador.

Assim que respeito muito as pessoas que estão aí a se manifestar contra o pastor homofóbico. Mas isso não é suficiente. Vejam que controla a comissão de Finanças, a da Amazônia, da Agricultura, Ciência e Tecnologia, Educação, Desenvolvimento Urbano e as demais… Cada um deles mereceria o repúdio massivo das gentes. Defendem interesses que não são os nossos. Não são! Então, talvez, a partir de momentos como esse, em que, por um particularismo, a maioria se dá conta sobre os lobos que estão a cuidar do galinheiro, fosse tempo de se começar a pensar em mudar esse sistema político, como vimos tratando de fazer – em poucos  – há tanto tempo. Mudar o sistema eleitoral, mudar o sistema inteiro. Acabar com o controle dessa minoria predadora que suga as riquezas e a vida do povo.

Essa luta sim, seria bonita de a gente travar.

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