“Os brasileiros não aceitam os índios”, afirma diretor de ‘Xingu’

Cao Hamburguer, diretor de 'Xingu', falou da produção do longa, que conta a história dos irmãos Villas-Bôas Foto: Fernando Borges/Terra

Gisele Alquas

Estreia no dia 6 de abril o filme Xingu, de direção de Cao Hamburguer. O longa conta a história dos irmãos Villas-Bôas: Cláudio (João Miguel), Orlando (Felipe Camargo) e Leonardo (Caio Blat), que se alistam na Expedição Roncador-Xingu, na década de 1940, e partem em uma missão com o objetivo de proteger os índios dos brancos. Elenco e direção receberam a imprensa na tarde desta terça-feira (27), em São Paulo.

Hamburguer falou de suas expectativas em relação ao projeto e citou algo que percebeu durante suas pesquisas: o preconceito que ainda há com os índios: “vi que infelizmente os brasileiros não aceitam os índios até hoje. É um absurdo essa rejeição, mas ela existe”. O diretor chegou a esta conclusão durante as gravações, que ocorreram na floresta amazônica, devido as queimadas nas fazendas próximas e o desmatamento: “o tanto de queimadas que há naquele local, o tanto que desrespeito em não se importar com a preservação da floresta é absurda. É um tesouro que temos que o Brasil está destruindo”, afirmou.

O diretor chegou até o tema por meio do cineasta Fernando Meirelles – produtor do filme – que, por sua vez, foi procurado pela família de Orlando para que levasse a história dos irmãos Villas-Bôas para as telonas. Meirelles, a princípio, ignorou o projeto, mas ao ler o livro A Marcha para o Oeste, um diário escrito pelos irmãos durante a expedição, o cineasta logo se encantou pelo conteúdo. “Quando o Fernando me explicou, pedi um tempo para pesquisar, pois tinha poucas informações deles. Mas, ao entender quem eram os Villas-Bôas, achei a história muito envolvente”, explicou o diretor.

Hamburguer contou com a colaboração da antropóloga Maria Büller, que trouxe para o projeto peculiaridades retiradas das famílias e conhecidos dos irmãos. O filme demorou cinco anos para ficar pronto, entre produção e filmagens. Em um período de 25 dias, durante o início, a equipe viajou três dias para o Parque Indígena do Xingu, que fica no Nordeste do Mato Grosso, em plena floresta amazônica. “Conseguimos um material riquíssimo e infelizmente muitas cenas tiveram que ficar de fora”, lamentou o diretor.

Para a escolha do elenco, Hamburguer contou que já imaginava João Miguel para o papel de Cláudio, o líder da expedição: “Já conhecia o trabalho dele e sabia que tinha a capacidade. A partir do João, pensei no Caio porque já tínhamos trabalhado juntos e conheço o seu talento. E o Felipe eu tinha certeza que iria dar o tom certo para o papel. Fiquei muito satisfeito com o resultado”. O núcleo dos índios foi escolhido por meio de testes. Segundo o diretor, esses “atores” se dedicaram e se entregaram demais ao projeto. “Escolhemos os melhores e nem pareciam que estavam atuando”, disse. A produção de Xingu custou R$ 14 milhões.

Atualmente, 16 povos indígenas habitam o Parque do Xingu, que completou 50 anos em 2011.

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