Carroceiros e baqueiros fazem ocupação e obrigam Norte Energia a reconhecer direitos

Movimento Xingu Vivo para Sempre

Na última sexta-feira, 07 de agosto, os carroceiros do tradicional “Porto das Carroças”, como é conhecido popularmente o local onde barcos atracam e são atendidos pelos carroceiros, que levam e trazem pessoas e mercadorias, espaço situado há mais de 40 anos na rodovia Ernesto Acioli, Altamira/Xingu, foram surpreendidos por uma terceirizada da Norte Energia S.A (NESA), responsável pela obra de reurbanização da orla de Altamira (Projeto Parques e Reurbanização), que fechou com tapumes a única via de acesso e locomoção das carroças e pessoas que transitam pela área do porto, espaço já encurralados por outros tapumes, operários e máquinas pesadas.

Imediatamente os carroceiros se posicionaram contra a atitude da empresa, retirando os tapumes que ali foram colocados, abrindo novamente o espaço fechado pela terceirizada.

Ao mesmo tempo em que retiravam os tapumes a categoria se mobilizou para defender o seu território, ameaçado de forma arbitrária pela NESA, ocupando, juntamente com o apoio dos barqueiros, categoria que também sofre a mesma violência gerada pela UHE Belo Monte, o canteiro de obra do Parque Orla, na citada rodovia, proibindo a continuação das obras enquanto os seus direitos não fossem reconhecidos pela NESA.

Segundo carroceiros e barqueiros de Altamira o projeto de reurbanização da Orla, apresentado pela Norte Energia no último dia 24 de julho, não garante em nenhum momento a permanência de ambas as categorias, frente a isso exigem da Norte Energia a permanência de seus pontos físicos neste local.

Tanto carroceiros quanto barqueiros observam que é inadmissível que a NESA desconsidere categorias fundamentais para o território do Xingu, pois ambas, há mais de 100 anos, ajudam na construção da cidade de Altamira, contribuindo com a população local, prestando serviços fundamentais no transporte de materiais e pessoas. Este elemento histórico e cultural está sendo apagado pela NESA e pelo Governo Federal, dando continuidade inclusive ao que se pode chamar de “limpeza étnica” da orla de Altamira.

Devido à manifestação que ocorria, logo apareceu um grande aparato de segurança pública, policia militar, e também privada, outra terceirizada da NESA, para intimidar os manifestantes que lutavam por seus direitos.

Dada esta conflituosa situação, os representantes da Norte Energia foram chamados pelo defensor Público da União, Dr. Danilo Nascimento, mobilizado por carroceiros e barqueiros para apoiá-los. O defensor a partir de documentos, rodadas anteriores de negociação e analise in loco, questionou a NESA pela ausência dos pontos de ambas as categorias no projeto de reurbanização da orla. Frente à importância histórica das categorias para o município de Altamira, o mesmo comentou o seguinte “O carroceiro está para o rio assim como o estivador está para o porto de Santos. O rio Xingu é o coração e as veias são os carroceiros e barqueiros. Não posso admitir que as atividades dessas categorias, atividades que garantem o meio de sobreviver, sejam asfixiadas”.

Após a mobilização e pressão da categoria, com o apoio da DPU, a Norte Energia se comprometeu a construir um ponto provisório para carroceiros e barqueiros na “nova orla”.

Mesmo com esta definição, as duas categorias questionam este “ponto provisório”, exigindo que seus pontos sejam permanentes, e que tanto a Norte Energia, empresa responsável pela construção da “nova orla”, quanto a Prefeitura, que fará a gestão deste espaço após a construção, garanta a identidade é o sentimento de “pertencer aquilo que os pertence”, pois o território é o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício do cotidiano da vida.

Um dos participantes do ato, o jovem carroceiro Bruno, exemplificou bem como a empresa e os governos pensam, indicando em sua fala o caminho que deve ser tomado, “Eles impõe a vontade deles, sem nenhuma negociação, sem opção, ou é isso ou nada, por isso retiramos os tapumes”.

A unidade entre carroceiros e barqueiros, expressa pela ação que realizaram, fez e faz a diferença no avanço das conquistas dos trabalhadores massacrados pelo projeto da UHE Belo Monte, mostrando na prática que quando todos os atingidos estiverem juntos será possível parar a destruição do rio Xingu e da vida das pessoas da região. Sendo assim, que venham novas alianças, novas lutas e novas vitórias.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Dion Monteiro.

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