No Dia do Índio, indígenas de aldeia em Mangueirinha lutam por terras

Cerca de 1,5 vivem na Reserva Terra Indígena Mangueirinha, no Paraná. Reserva é considerada a maior reserva de Araucária Nativa do mundo.

Por Adriana Justi, do G1 PR

O domingo (19), Dia do Índio, começou com festa para os descendentes daqueles que já habitavam o Brasil quando os portugueses aqui chegaram, em 1500. A data é tida como um dia de reflexão sobre a importância da preservação dos povos, da manutenção de suas terras e respeito às suas manifestações culturais.

No Paraná, em especial na Reserva Terra Indígena Mangueirinha, no sudoeste do estado, são cerca de 1,5 mil indígenas, entre Caingangues e Guaranis, que lutam diariamente pela demarcação de terras.

Índios da Reserva Terra Indígena Mangueirinha. Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal
Índios da Reserva Terra Indígena Mangueirinha. Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal

A reserva tem mais de 16 mil hectares e faz divisa com os municípios de Coronel Vivida e Chopinzinho. Atualmente, é considerada a maior reserva de Araucária Nativa do mundo, destaca o sociólogo e professor  da Universidade Tecnológica do Paraná ( UTFPR) Antônio Cavalcanti de Almeida.

Por isso, os índios ficam limitados para plantar alimentos, já que não podem cometer o desmatamento. Nas poucas áreas em que isso pode ser feito, eles plantam feijão, soja, milho, entre outros, mas o espaço não garante o alimento para toda a comunidade, garante o sociólogo.

A renda familiar também vem da comercialização de artesanatos, feitos de penas de aves, palhas e madeira, que são oferecidos para os visitantes na própria aldeia e em pontos urbanos próximos.

Os índios da aldeia de Mangueirinha chegaram ao Paraná em meados de 1890 para ajudar na construção de uma estrada que fazia a ligação entre os municípios de Palmas e Chopinzinho, na mesma região. A mão de obra indígena foi contratada pelo governo do Paraná, que na época ainda era província de São Paulo. Ao efetuar o pagamento pelo serviço, o governo foi surpreendido pelos índios, conta Almeida.

Reserva Terra Indígena tem mais de 16 mil hectares. Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal
Reserva Terra Indígena tem mais de 16 mil hectares. Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal

“Eles disseram que não queriam dinheiro como forma de pagamento, mas sim terras. E foi então que o governo aceitou a proposta e delimitou parte das terras da região para os indígenas, que foram trazendo suas famílias aos poucos para o Paraná”, diz o sociólogo, que destacou ainda que a união sempre foi uma característica indígena. “Eles pensaram que não teriam o que fazer com o dinheiro, mas que precisavam de terras para os povos”, acrescentou o sociólogo.

“De lá pra cá foram várias situações históricas em que esses indígenas tiveram que reivindicar suas terras. Eu me lembro, por exemplo, que em 1949 o governo estadual, que era administrado pelo ex-governador Moisés Lupion, dividiu as terras e passou a negociar com os colonos”, lembrou. Conforme Almeida, pouco tempo depois os caingangues e guaranis acabaram conquistando o espaço novamente.

Festividades do Dia do Índio

As festividades contam com comidas típicas como pinhão cozido, “emi”, que é um bolo de milho assado nas cinzas do fogo do chão e frutos e verduras cultivados na reserva como jabitucabas, pitangas, abóboras, entre outros.

As comemorações também contam com danças, atos religiosos e brincadeiras como abo de guerra com cipó, corrida do cesto e pau de sebo.

Reserva tem cerca de 1,5 mil índios. Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal
Reserva tem cerca de 1,5 mil índios. Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal

Vida Urbana

Os índios da reserva de Mangueirinha até tentam manter as tradições dos antepassados, mas com o passar dos anos, acabaram se assemelhando mais a sociedade atual. Parte da consequência disso é porque dentro da reserva foram construídas duas estradas – uma federal e outra estadual.

Muitas fábricas da região também oferecem empregos aos indígenas, destaca o sociólogo. A educação é viável apenas para o ensino fundamental. Os índios que quiseram ter acesso ao Ensino Médio e Superior têm de estudar fora da aldeia. “Alguns até conseguem se formar, mas esse índice ainda é muito pequeno diante da comunidade indígena em geral”, ressalta Almeida.

Sociólogo Antônio Almeida tira fotos do artesanato na aldeia de Mangueirinha. Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal
Sociólogo Antônio Almeida tira fotos do artesanato na aldeia de Mangueirinha. Foto: Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal
Destaque: Foto de Daniel Jaeger Vendruscolo / Arquivo pessoal

 

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