Alceu Castilho, autor do livro que denuncia “Partido da Terra”, explica como sistema político brasileiro — totalmente vulnerável ao dinheiro — deu ao setor mais atrasado do país poder inédito sobre sociedade
Após analisar a declaração de bens entregues à Justiça Eleitoral por 3 mil políticos eleitos entre 2008 e 2010, e escrever o livro O Partido da Terra, o jornalista e escritor Alceu Castilho afirma: mais que uma bancada, temos um sistema político ruralista. “Chama atenção que muitos tenham a cara de pau de declarar como suas terras griladas, ou seja, da União – não sei quantos mil hectares de terra do Incra, por exemplo. Isso mostra a imensa desfaçatez em burlar as leis do país.”
Se nem em declarações oficiais eles têm discrição, imagine onde têm o domínio – observa Alceu. “Nos rincões do país, onde o Estado não chega, a polícia não chega, a lei é a da pistolagem, o cartório é tomado pelo poder ruralista, o juiz e os desembargadores são também proprietários de terra… ali eles dominam de modo patriarcal, patrimonialista, clientelista e coronelista.”
O poder ruralista, associado às sinistras mazelas do campo brasileiro – grilagem, desmatamento, trabalho escravo e infantil – vem conseguindo lavar sua imagem, com a ajuda de um marketing sofisticado e da velha mídia: “Os mesmos jornais que questionavam a grilagem de terras no extremo oeste do estado de SP — onde nos anos 1950 florestas foram desmatadas e a terra, grilada –, hoje defendem essas famílias”, afirma o jornalista.
Nas eleições de 2014, o JBS Friboi, maior frigorífico do mundo, fez doações para 11 partidos, que elegeram 378 deputados federais e 24 dos 27 senadores – não só da bancada ruralista, mas em geral — inclusive a maior parte dos deputados eleitos do PT. Resultado: hoje com 189 deputados federais e 18 senadores, a bancada ruralista terá mais de 200 parlamentares na próxima legislatura. É sobre esse poder crescente, a ser enfrentado, que o jornalista fala nesta entrevista.