Desde que foi divulgado que a senadora Kátia Abreu teria sido convidada para o ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, alguns colegas me perguntaram se Dilma não poderia ser acusada de estelionato eleitoral.
Para responder a essa indagação, primeiro, claro, é necessário esperar o anúncio oficial. Porque a esquerda que ainda sobrou no PT está em pânico com a suposta indicação e deve estar ameaçando se acorrentar a uma colheitadeira de soja ou beber agrotóxico.
Dito isso, é preciso lembrar que o governo Dilma não é um governo sensível à dignidade no campo. Indígenas foram aviltados em seus direitos, quilombolas ignorados, camponeses desterrados, trabalhadores rurais tiveram que suar a camisa para manter direitos conquistados, enfim, vocês conhecem a história.
Em suma, um governo que tem dado importância primeiro à defesa de uma noção deturpada de desenvolvimento (em que o de cima sobe e o de baixo desce). Só depois, à ralé que será impactada diretamente no processo de colocar em marcha essa noção. E não me venham falar de Bolsa Família que ele não é, nem de perto, compensação para o rolo-compressor do “progresso”. E ai da ralé se estiver no meio do caminho! O pessoal da região da Volta Grande do rio Xingu que o diga com Belo Monte…
Ou seja, nesse contexto e com um governo com esse espírito, não é surpresa Kátia Abreu assumir um ministério. Ainda mais quando a política agrícola que ela colocaria em marcha não difere muito da que já existe hoje – de prioridade aos grandes empreendimentos agropecuários ligados à indústria e à exportação em detrimento às dificuldades encontradas pela pequena agricultura familiar.
Ela discorda da forma como o combate ao trabalho escravo ocorre no Brasil? Estou desde 1999 acompanhando o tema e posso afirmar que não seria a primeira nem a última pessoa que ocupou aquela cadeira a fazer isso.
Aliás, para muita gente, é até melhor que ela vá para o ministério e não crie mais entraves no Congresso.
Do ponto de vista simbólico, é claro, a coisa muda de figura. Pois oferecer esse cargo a uma pessoa que representa o que há de mais atrasado no pensamento e na prática do setor agropecuário é uma ofensa a todos que tiveram seus direitos negados no campo. E também aos que ainda vão ter nos próximos quatro anos.
Pois, certamente, a senadora usará o peso do cargo e sua boa oratória para fazer uma disputa política em outro nível, não mais na planície do Congresso Nacional mas com a chancela presidencial.
Se isso se concretizar, isso dirá muito sobre ela. Não sobre Kátia Abreu, que estará apenas defendendo suas posições bem conhecidas. Mas sobre Dilma e o Brasil que ela prometeu no segundo turno das eleições.
Diante disso, a minha surpresa não é com indicações ministeriais. Mas com os ultraconservadores, que estão na rua denunciando o governo “bolivariano” do PT.
Pessoal… Vai pra casa.
E dá lugar para a esquerda. Que essa sim vai ter muito o que protestar.