“Onde há megaevento, há aumento da especulação imobiliária. Antes mesmo de começar, a Copa já definiu seus perdedores e vencedores. Os perdedores fomos nós, moradores da periferia, que vimos o aluguel abocanhar a nossa renda. As vencedoras foram as grandes empreiteiras, que levaram dinheiro público a rodo para obras de finalidade social duvidosa. Como denúncia, ocupamos suas sedes na última semana, ao lançar a campanha “Copa sem povo, tô na rua de novo”, escrevem Guilherme Boulos, Josué Rocha e Maria das Dores, membros da coordenação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e da Frente de Resistência Urbana, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo. Segundo eles, “ao lutarmos, não fazemos vista grossa aos conservadores mais atrasados que agora querem pegar a onda das mobilizações sociais. Se temos diferenças com o governo Dilma Rousseff (PT), somos também categóricos em dizer que Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) não nos representam. Representam, ao contrário, o atraso neoliberal”. Eis o artigo
IHU On-Line – Nos últimos meses, a luta do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) por moradia digna e reforma urbana ganhou destaque. Mas ela não vem de agora. O movimento realiza sua luta há 20 anos, ainda que sob o silêncio da mídia e o descaso dos sucessivos governos.
O fortalecimento recente do movimento está ligado, paradoxalmente, a efeitos colaterais do crescimento econômico. O setor da construção civil recebeu incentivos do governo e foi beneficiado com a relativa facilitação do crédito. Com isso, o mercado imobiliário se aqueceu, as empreiteiras engordaram seu patrimônio e a especulação foi às alturas.
Os efeitos se fizeram sentir pelos trabalhadores mais pobres. Boa parte não tem casa própria. O valor do aluguel aumentou brutalmente. Desde 2008, o aumento médio em São Paulo foi de 97% e no Rio de 144%, segundo o índice Fipe/Zap. No mesmo período, a inflação medida pelo IPCA ficou em 40%.
O resultado foi um aprofundamento da lógica de expulsão dos mais pobres para mais longe. Em Itaquera, onde está ocorrendo a Ocupação Copa do Povo, milhares de moradores foram expulsos para periferias ainda mais distantes: Guaianazes, Cidade Tiradentes ou mesmo para municípios como Ferraz de Vasconcelos. Ir para mais longe significa mais tempo no transporte e serviços públicos e infraestrutura urbana mais precários. O que o Bolsa Famíliae o aumento progressivo do salário mínimo deram com uma mão o aluguel mais caro tirou com outra.
A intensificação das ocupações de terrenos e prédios ociosos foi a forma de resistência popular a esse processo. Aqueles que não aceitaram ser jogados para buracos ainda mais distantes estão ocupando terras –terras ociosas utilizadas para especulação imobiliária. Só com esse contexto permite a compreensão de ocupações como Vila Nova Palestina (com 8.000 famílias em São Paulo), Favela da Telerj (com 5.000 famílias no Rio) e Copa do Povo, que em uma semana chegou a 4.000 barracos.
A Copa foi um agravante. Onde há megaevento, há aumento da especulação imobiliária. Antes mesmo de começar, aCopa já definiu seus perdedores e vencedores. Os perdedores fomos nós, moradores da periferia, que vimos o aluguel abocanhar a nossa renda. As vencedoras foram as grandes empreiteiras, que levaram dinheiro público a rodo para obras de finalidade social duvidosa. Como denúncia, ocupamos suas sedes na última semana, ao lançar a campanha “Copa sem povo, tô na rua de novo”.
Mas, ao lutarmos, não fazemos vista grossa aos conservadores mais atrasados que agora querem pegar a onda das mobilizações sociais. Se temos diferenças com o governo Dilma Rousseff (PT), somos também categóricos em dizer que Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) não nos representam. Representam, ao contrário, o atraso neoliberal.
A cidade privada para poucos é a cidade da privação para a maioria. Essa mudança passa por uma profunda reforma urbana, que não virá do Congresso, com seus parlamentares financiados até o pescoço pelo capital imobiliário. Ela vem de baixo. A história dos povos ensina que as transformações são resultado de movimentos populares de massa, que enfrentam as relações de poder constituídas. Chamamos isso de poder popular. É isso que quer o MTST.