Na madrugada deste sábado, 19, uma vila com cerca de 60 moradores no Bairro Liberdade, em Altamira, foi atingida pelo desbarrancamento de parte de um grande aterro feito pela empresa Norte Energia para a construção de moradias destinadas a famílias que serão desalojadas em função da construção da hidrelétrica de Belo Monte.
De acordo com o morador da vila Ildomar Bezerra de Souza, por volta das 11:30 h de sexta começou a chover forte na cidade, e pouco tempo depois as casas das famílias foram invadidas por enxurradas de água barrenta e lama. “A gente mora na beirada de um enorme barranco de terra que a Norte Energia fez, um aterro monstruoso, pra construir moradias para atingidos pela usina. Quando a água começou a entrar na minha casa, fiquei muito assustado e já ouvi vizinhos baterem na porta, com criança no colo, porque o barranco estava caindo. Entrou lama em tudo que é lugar, o único poço que temos na vila, onde todo mundo pega água, foi soterrado, queimou minha geladeira, meu ventilador, e passamos a noite toda correndo, com medo de que a lama derrubasse tudo”, conta Ildomar.
Segundo os moradores da vila, a empresa teria derrubado um grande trecho de floresta para fazer o aterro, o que transformou a área em local de extremo risco de desmoronamento.
Na manhã deste sábado, os moradores acionaram o corpo de bombeiros, que não compareceu alegando muito trabalho em outros locais também atingidos pela chuva. Já o Conselho Tutelar foi ao local para verificar a segurança das inúmeras crianças que moram na vila, e, de acordo com os moradores, ficou de acionar o Ministério Público Federal contra a Norte Energia.
“Um funcionário da prefeitura também esteve aqui, mas disse pra gente ficar calado, não falar com ninguém, que segunda ele ia ver o que dava pra fazer. Estamos com muito medo, dessa vez só morreu um cachorro, mas aqui chove muito e da próxima vez tudo pode ser soterrado. A Norte Energia nunca veio conversar com a gente, não quer se responsabilizar, mas achamos que temos que ser removidos o mais rápido possível, temos muito medo de morrer”, disse Ildomar.
Obras precárias
Ainda segundo o morador, um vizinho informou que no canteiro de obras do reassentamento duas casas também desmoronaram. “Quando a gente tentou ir la pra ver, os seguranças da obra não deixaram a gente entrar. Mas imagina o perigo, estão fazendo casas sobre terra fofa, sem nenhuma segurança. Se me perguntar, com um pouco mais de chuva tudo aquilo cai também. Eu que não moraria nesse reassentamento”.
Casas de reassentamento construidas sobre aterro (Anderson Barbosa/Fractures Photo Collective)
Denúncias de precariedade nos projetos de reassentamento da Norte Energia não são novidade em Altamira. Em setembro, o Ministério Público Federal recomendou ao Ibama que fiscalizasse e paralisasse as obreas de outro reassentamento, o Jatobá, uma vez que as instalações das mais de mil casas estavam completamente irregulares. Entre os problemas detectados, estão irregularidades nas instalações elétricas e nas tomadas, pavimentação de ruas inadequada, mudança nos modelos de casas anunciadas à população, construções feitas sem autorização da prefeitura e em desacordo com o código de obras do município de Altamira, entre outros.