Lucas Azevedo
Do UOL, em Porto Alegre
A prefeitura da cidade gaúcha de São Borja (594 km de Porto Alegre), na fronteira com a Argentina, resolveu agir por conta própria e reforçar a segurança no cemitério Jardim da Paz. Depois que a CNV (Comissão Nacional da Verdade) divulgou que pretende exumar o corpo do ex-presidente João Goulart para tentar identificar vestígios de veneno que o tivesse levado à morte, em 1976, o receio de que o jazigo da família seja danificado por vândalos alertou o prefeito Antônio Carlos Almeida (PDT).
“Vai que alguém invente de violar ou mexer no túmulo, e a prefeitura não fizer sua parte de proteção e controle? Preferimos evitar qualquer tipo de transtorno”, disse Almeida, que disse estar gastando cerca de R$ 3.000 mensais para a vigilância. O imponente jazigo da família Goulart é ponto de visita do município, até porque, ao lado de Jango, jaz também o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro Leonel Brizola.
O Executivo municipal fez dois pedidos de auxílio a quem entendeu ser responsável pela segurança por direito: a BM (Brigada Militar) e ao Exército. Desde a última segunda-feira (13), quando as solicitações formais foram enviadas, o prefeito aguarda uma resposta.
Entretanto, informalmente, Exército e o comando dos brigadianos já disseram que não pretendem destacar seus quadros para a segurança dos mortos ilustres. A BM afirma que não tem como destinar soldados especificamente para cuidar o túmulo, enquanto o Exército, que a área não pertence à sua jurisdição. Desde a última terça-feira (14), seguranças de uma empresa privada se dividem em turnos para resguardar a integridade do jazigo da família Goulart – até agora, sem registrar nenhum contratempo.
Sob suspeita
Jango morreu em dezembro 1976, no exílio, na Argentina, quando preparava seu retorno ao Brasil. A história oficial conta que o ex-presidente perdeu a vida após um ataque cardíaco. Por outro lado, ganha força a hipótese de que Jango tenha sido envenenado por agentes da ditadura militar uruguaia, a pedido dos colegas brasileiros, dentro da Operação Condor (aliança entre as ditaduras militares da América do Sul, com o intuito de eliminar opositores).
Essa nova leitura ganhou força há poucos anos, quando o ex-agente da ditadura uruguaia Mário Neira Barreiro voltou à imprensa defendendo que o ex-presidente havia sido assassinado – ele teria tomado uma cápsula com veneno escondida em seus comprimidos para o coração. Preso em um albergue de regime semiaberto, em Porto Alegre, Barreiro deu entrevistas dando detalhes da suposta operação de assassinato de Jango – cujo retorno ao Brasil era temido pelos generais.
No início do mês, a CNV e o MPF (Ministério Público Federal) informaram que pretendem exumar o corpo de Jango. Uma força-tarefa de peritos internacionais, entre eles, russos, está sendo organizada para viajar a São Borja. Além da CNV, da Secretaria de Direitos Humanos, da PF (Polícia Federal), da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, devem participar da exumação representantes da Cruz Vermelha Internacional. O procedimento, entretanto, ainda depende de autorização da Justiça, o que deve ocorrer até agosto.
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Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.