Novos transgênicos argentinos reproduzem modelo destrutivo do agronegócio

Paulo Emanuel Lopes – Adital

A aprovação de novas sementes transgênicas, desta vez produzidas por centros de pesquisa argentinos, com apoio de conglomerados internacionais do setor do agronegócio, está gerando repúdio dos movimentos sociais organizados. São elas: uma soja resistente às secas e uma espécie de batata resistente ao vírus PVY (Potato vírus “y”). Há ainda estudos para liberação de uma cana-de-açúcar resistente ao glifosato. O aparente avanço tecnológico esconde um modelo que destrói o meio ambiente e pode estar provocando o envenenamento da população, advertem os ambientalistas.

A partir de uma campanha, que procurou dar destaque à capacidade de inovação da ciência argentina, a ex-presidenta Cristina Kirchner anunciou, em outubro deste ano, a aprovação dessa nova variedade de soja, resistente à seca, e da referida batata. Os estudos foram conduzidos pela Universidade Nacional do Litoral (UNL), em conjunto com a empresa Indear [Instituto de Agrobiotecnologia de Rosario], empresa de pesquisa e desenvolvimento do Grupo Bioceres, que possui como um de seus principais acionistas o empresário argentino Gustavo Grobocopatel, conhecido como “Rei da Soja”.

Em abril deste ano, já havia sido aprovada pelo governo a comercialização de uma soja tolerante aos agrotóxicos glifosato, glufosinato de amônio e herbicida 2,4D. Vale ressaltar que o 2,4D, comercializado pela multinacional Dow AgroSciences, foi utilizado no chamado “agente laranja”, arma química utilizada pelo Governo dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, para desfolhar as árvores, causando uma série de efeitos devastadores na saúde da população civil.

Estímulo a um modelo que compromete a saúde da população

A denúncia dos movimentos é que, além dos danos que as sementes geneticamente alteradas podem causar à saúde da população, ainda não totalmente conhecidos, a utilização de tais sementes estimula um modelo de desenvolvimento baseado na utilização de agrotóxicos em larga escala nas plantações.

Congresso de medicina reuniu, na Universidade de Buenos Aires, estudantes e especialistas para debater questões sanitárias ligadas aos agrotóxicos. Foto: divulgação.

O glifosfato, vale ressaltar, já foi confirmado pela Organização Mundial de Saúde como uma substância cancerígena.

http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=84585

A utilização desses “defensivos agrícolas”, segundo a linguagem adotada pelas empresas do setor, pode estar envenenando a alimentação da população consumidora, além de comprometer seriamente a saúde dos agricultores que manejam tais produtos e das famílias que vivem nos arredores das plantações. Trata-se de uma população estimada em 12 milhões de pessoas.

Os coletivos Médicos dos Povos Fumigados e Advogados dos Povos Fumigados buscam conscientizar a população dos riscos de tais defensivos, e estabelecer legalmente zonas de proibição de fumigações próximas às zonas habitadas.

Durante o 3º Congresso de Médicos dos Povos Fumigados, ocorrido na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, a problemática chegou à sociedade argentina. Por ocasião do Congresso a demanda dessas populações foi levada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), http://www.biodiversidadla.org/Principal/Secciones/Noticias/Agrotoxicos_en_la_Argentina_Se_solicita_la_intervencion_de_la_Comision_Interamericana_de_Derechos_Humanos para que se obrigue o Estado argentino a que “adote urgentemente medidas eficazes para manter a salvo a saúde e a vida das crianças e adolescentes que vivem no País da exposição direta e indireta aos agrotóxicos (…) assim como pelo consumo de alimentos com resíduos destes”.

Para a Renace (Rede Nacional de Ação Ecológica Argentina), há uma série de consequência que podem ocorrer a partir da introdução dessas novas sementes, como aumento da dependência dos mercados globais; expansão da fronteira agrícola, que estimula a expulsão de pequenos agricultores e povos indígenas; perda da biodiversidade das sementes; entre outros.

Há ainda o receio que, assim como ocorreu com a soja RR (Round up Ready, tolerante ao herbicida Round-up de Monsanto), essas novas variedades genéticas avancem sobre os países vizinhos como Paraguai, Bolívia e Brasil, sem controle dos órgãos responsáveis.

Com informações do Grain https://www.grain.org/es

Movimentos sociais lutam por um modelo de agricultura que tenha como foco a saúde da população, e não o lucro das corporações. Foto: Reprodução

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