No Cimi
Mais um final de dia melancólico e revoltante no espaço dos Três Poderes. No estacionamento do Anexo II, uma cena que expressa o atual momento porque passa o país. Indígenas, depois de uma tarde toda de espera para participar de uma sessão de homenagem aos 20 anos da criação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, são constrangidos a uma improvisada sessão de desabafos diante de uma vergonhosa negativa de entrarem no plenário 9. Lá dentro, o cambaleante todo poderoso presidente da Câmara permaneceu irredutível diante das solicitações de entrada dos índios. “Estamos jogados que nem cachorro, diante dessa casa que foi construída com nosso dinheiro”, desabafou Gercília Krahô.
Diante do presidente da Comissão, deputado Paulo Pimenta, da Dra. Deborah Duprat, do Ministério Público Federal, de alguns parlamentares e de representantes de entidades de Direitos Humanos, os indígenas externaram seus sentimentos por serem impedidos de participar da audiência comemorativa.
Indignados por serem tratados com total descaso, os indígenas já haviam fechado a rodovia que dá acesso à Câmara. Sentiam-se alijados de um espaço que entendem ser de todos os brasileiros e, portanto, com maior razão aos primeiros habitantes dessas terras.
67 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Neste dia 10 de dezembro, comemorou-se esta declaração fundamental para garantir caminhos de paz e convivência entre os seres humanos. Porém, o momento está sendo de retrocesso. “Não me façam sentir vergonha do meu país”, dizia uma militante dos Direitos Humanos diante daquele cenário no estacionamento.
Os povos indígenas, mais do que ninguém gostariam de celebrar essa expressiva data mundial, tendo o direito de estarem com seus aliados na Câmara dos Deputados. Porém, o que mais uma vez encontraram foi uma portaria fechada por policiais.
“Estamos na luta e não podemos parar um minuto”, afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos, ao se retirar e tentar, mais uma vez, viabilizar a entrada dos indígenas na Câmara. “Gostaria muito de receber vocês aí dentro. Mas garanto a vocês que numa próxima vez serão recebidos de forma diferente e lá dentro, pois o atual presidente da casa está com os dias contados”.
A delegação de quase 200 indígenas ficou revoltada diante das portas fechadas. “Quando chegam em nossas aldeias sempre recebemos todo mundo com muito respeito. Agora quando chegamos aqui para exigir nossos direitos fecham as portas na nossa cara”, disse uma liderança. “Será que a Dilma vai demarcar nossas terras? É isso que queremos. Só isso”, interrogou uma mulher Krahô.
Mas nada faz os guerreiros e lideranças desistir da luta. Continuarão fazendo contatos, conversações, manifestações, protocolar documentos, visitar gabinetes de ministros e parlamentares, encontros com representantes da ONU, dentre outras atividades. Muitos rituais, cantos, rezas.
As lideranças e guerreiros têm consciência de que o país passa por um momento difícil e sabem que os interesses e forças conservadoras estão avançando e ameaçando os direitos da maioria do povo brasileiro especialmente os pobres no campo e na cidade, as populações e povos tradicionais.
Dessa forma os povos indígenas vão encerrando um ano de intensas mobilizações e lutas para manter os seus direitos e avançarem na consolidação de seus projetos de Bem Viver, com paz e dignidade em seus territórios.
fotos: Laila Menezes
Egon Heck – Cimi Secretariado