Especialistas calculam que Vale terá de arcar com US$ 2 bilhões para despesas com tragédia em Mariana

IHU

O rompimento das barragens da Samarco em Mariana, já considerado o maior desastre ambiental de Minas Gerais, deverá fazer com que a Vale realize um provisionamento para arcar com as despesas que virão por conta do acidente. Especialistas consultados pelo Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, acreditam que será necessário um provisionamento de ao menos US$ 2 bilhões para gastos que devem ocorrer ao longo dos próximos cinco anos, apesar de lembrarem que todos os impactos da tragédia ainda são difíceis de ser mensurados. A Vale controla a Samarco ao lado da australiana BHP Billinton, em uma joint venture.

A reportagem é de Fernanda Guimarães, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 12-11-2015.

O acidente soterrou Bento Rodrigues, distrito de Mariana. A lama, com resíduos de minério, já chegaram ao Rio Doce, afetando o abastecimento de água em diversas cidades da região, inclusive no Espírito Santo. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estima que a lama começará a chegar hoje no mar do Estado capixaba.

Um eventual fechamento permanente da Samarco significaria uma despesa adicional de US$ 3 bilhões para a Vale eBHP Billinton, de acordo com Credit Suisse, ou seja US$ 1,5 bilhão para cada. Isso porque a dívida líquida da companhia está hoje em US$ 2,93 bilhões. O documento, enviado ao mercado, aponta que essa estimativa não considera desembolso com seguro.

Ontem, em nota, a Vale informou que “tem atuado ativamente nas ações para garantir a integridade das pessoas afetadas pelo acidente ocorrido nas barragens de rejeitos de Fundão e Santarém, em Mariana”. Além disso destacou que realizou no último fim de semana, uma verificação detalhada das condições estruturais de 115 barragens mais relevantes da empresa.

O analista do Credit que acompanha o setor, Paul McTaggart, avaliou, ainda, que para a BHP as outras despesas associadas ao acidente seriam de US$ 400 milhões nos próximos dois anos, sendo a mesma despesa do lado da brasileira Vale. A Vale informou que sua produção Fábrica Nova/Timbopeba, no Sistema Sudeste, poderá ser negativamente impactada em 3 milhões de toneladas em 2015 e 9 milhões de toneladas em 2016, após o acidente ocorrido com a barragem de rejeitos da Samarco. A BHP também já revisou sua meta de produção.

O consultor Luciano Borges, da Ad Hoc Consultores Associados, calcula que nos próximos anos os custos advindos do acidente deverão girar entre US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões. Além disso, ele lembra sobre o efeito na imagem da atividade da mineração no Brasil. Com isso, pela Vale ser brasileira, os impactos serão muito maiores do que para sua sócia na Samarco, a BHP Billinton. “Esse é um problema que vai custar muito caro. Será uma espada na cabeça da Vale e BHP ao menos nos próximos cinco anos”, destaca.

O especialista lembra ainda que uma consequência natural após a tragédia será a discussão em torno do processo de fiscalização ambiental e produtivo da mineração.

Borges lembra que, até então, a pior tragédia em Minas envolvendo o rompimento de barragens foi em 2001, quando a barragem Mineração Rio Verde se rompeu em Macacos, distrito de Nova Lima, que causou a morte de cinco operários e deixou rastro de rejeitos por quilômetro. “Mas o caso em Mariana é inédito pelas proporções”, destaca o especialista.

O governo do Espírito Santo deverá multar a Samarco pelos danos causados pela enxurrada de lama que chega ao Estado. A multa será proporcional ao patrimônio da empresa e também ao dano causado.

A Samarco possui seguro de riscos operacionais, mas o valor das indenizações, calculado por fontes de mercado em R$ 1 bilhão, ficará muito abaixo do total que deverá ser arcado pela companhia.

O acidente acontece em um momento que a Vale luta para cortar custos e aumentar sua eficiência para atravessar o ciclo de baixa do minério de ferro. A estratégia é manter seu balanço saudável até o início da produção de seu maior projeto, o S11D, que somará um volume de 90 milhões de tonelada de minério de ferro à mineradora.

No terceiro trimestre deste ano, a Vale reportou um prejuízo líquido de R$ 6,66 bilhões, praticamente o dobro do registrado um ano antes. Apesar de ter atingido produção recorde de minério de ferro no período, a última linha do balanço foi afetada pelo menor preço do insumo e pelo efeito contábil da desvalorização do real em relação ao dólar. Mesmo em um cenário difícil, a empresa conseguiu uma redução expressiva de custos e da dívida.

Procurada, a Vale não comentou.

Foto: Corpo de Bombeiros.

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