Nota sobre visita de solidariedade aos povos indígenas do sul e extremo sul da Bahia

Aconteceu no período de 05 a 08 de novembro de 2015, uma jornada de solidariedade aos povos indígenas do sul e extremo sul da Bahia, a referida jornada foi realizada pelo Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Movimento dos Trabalhadores Rurais –MST – Regional Extremo Sul, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia – Cepedes, e contou ainda com a participação  de 12 jovens do Comitê de Solidariedade com a América Latina (LAG), que é uma organização norueguesa que trabalha para divulgar informações sobre a realidade na América Latina.

A jornada teve início com o deslocamento da Comitiva em direção ao Monte Pascoal, percorrendo todo seu entorno dentro do território Barra Velha indo em direção ao território Pataxó do Cahy/Pequi, parando na Aldeia Mucugê, recém retomadas pelos Pataxó diante da invasão do eucalipto sobre suas áreas e a demora no processo de regularização do território. Na Aldeia Mucugê a comitiva teve a oportunidade de conversar com lideranças desta aldeia e das aldeias do Craveiro, Monte Dourado, que relataram de forma muito contundente o processo de agressão ambiental, e de violação de direitos praticados pelas empresas de celulose na região, contando com o apoio dos poderes político e econômico da região e com a perseguição dos órgãos ambientais governamentais. Denunciaram também os efeitos maléficos das medidas legislativas que tentam retirar e negar seus direitos, como a PEC 215. Ao final da visita a comitiva se comprometeu em se somar nas denúncias e fez um convite para que as lideranças pudessem se juntar nas lutas conjuntas que ocorrem no extremo sul da Bahia, contra o latifúndio e contra as empresas se celulose.

No dia 06, a comitiva visitou a Aldeia Nova Esperança, que tem um história bem simbólica: No dia 04 de março de 2013, cerca de 1.500 mulheres do MST da regional Extremo Sul, ocuparam está área que se chamava Fazenda Água Vermelha, que se encontrava em poder da empresa Veracel, após a ocupação as mulheres derrubaram uma boa parte do eucalipto plantado, a ação fez parte da jornada de lutas das mulheres camponesas para cobrar do Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra) agilidade nos processos de desapropriação dos latifúndios das grandes áreas de cultivo de eucalipto. Por ser uma área que faz parte do território Barra Velha reivindicada pelos Pataxó, no dia 11 de março as lideranças Pataxó puderam retornar ao seu território, hoje vivem ali cerca de 35 famílias indígenas.

As lideranças denunciaram as constantes ameaças que sofrem por parte da empresas e de fazendeiros da região, a comitiva pode percorrer a área e perceber o enorme prejuízo ambiental provocado pelo plantio extensivo do eucalipto, o uso indiscriminado de agrotóxico pela empresa tem prejudicado todo o entorno da aldeia, que se encontra cercada pelo “deserto verde”, até mesmo o plantio de café iniciado pela comunidade encontra-se prejudicado pelas mazelas que o eucalipto fez e faz a terra. Ao final da visita as lideranças colocaram também outros desafios que atingem diretamente a comunidade, a exemplo da PEC 215 e a postura do judiciário brasileiro na perseguição das lideranças e das lutas dos povos indígenas, o cacique Branco informou sobre uma audiência que haverá no dia 17 próximo na Justiça Federal de Eunápolis, pois a veracel continua insistindo em voltar para a área, mas ele informou que a comunidade não permitirá que isto venha a acontecer. Mas uma vez a comitiva se comprometeu em levar as denúncias da comunidade não só as autoridades brasileira, mas também repassar para as autoridades e governo norueguês, já que existe muito capital econômico norueguês investidos nas empresas de celulose no Brasil.

No dia 07 a comitiva passou no XII Encontro da Brigada Elias Gonçalves do MST que estava acontecendo em Porto Seguro, na oportunidade os Pataxó que haviam se somado na caminhada falou sobre a necessidade da luta conjunta dos indígenas e do MST, já que todos luta por um mesmo objetivo: A TERRA.

A Comitiva andou até a Aldeia Coroa Vermelha onde se encontrou com uma delegação de 47 lideranças Pataxó e Tupinambá de Belmonte, que estava indo a Brasília, reivindicar uma série de ações por parte das autoridades que venham a regularizar seus territórios, bem como denunciar as ameaças que vem sofrendo na região. Mas segundo Kahum Pataxó, secretario de Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo sul da Bahia – FINPAT, um dos principais objetivos da viagem das lideranças é a de participar das manifestações contra a PEC 215, programada para o próximo dia 11 na Capital Federal.

No dia 07 a noite e durante todo o dia 08 a comitiva esteve presente na Aldeia Serra do Padeiro no sul da Bahia, oportunidade onde puderam observar, todo uma organização e determinação de uma comunidade na luta pela garantia de seus direitos e de suas terras. Visita as roças familiares, rocas comunitárias, casas de farinha, rios recuperados. Perguntando a uma das jovens da LAG, qual era a principal diferença entre os plantios de eucalipto e aquela mata onde ela experimentava diversos, sons, sabores e cores, ela resumiu em uma única frase: “Aqui tem Vida”. Encerramos a visita e a jornada com uma conversa com o Cacique Babau e lideranças da Serra do Padeiro, e com jovens de diversas aldeias do povo Tupinambá, que haviam indo a Serra para jogar bola. Um momento muito rico de sabedoria, de interação e de animação para a luta.

Após a caminhada os organizadores da Jornada de solidariedade e em consonância com as comunidades visitadas e suas lideranças, foram fechadas agendas de lutas, propostas de intercâmbios, compromissos da continuidade na articulação e mobilização pela garantia dos direitos e na defesa da VIDA.

Diga ao povo que avance, Avançaremos! 

 

Itabuna, 10 de novembro de 2015.

Conselho Indigenista Missionário

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