Economia solidária e felicidade interna bruta: as ideias de Paul Singer para enfrentar crise moral do capitalismo

Por Marco Weissheimer, em Sul21

A economia solidária é a única alternativa ao capitalismo não porque é mais eficaz economicamente que a capitalista, mas sim porque ela é solidária e precisamos da solidariedade para ser felizes e vivermos em paz. As pessoas estão cansadas deste modo de vida onde têm que competir o tempo todo sem parar. Por isso, o essencial na ideia de economia solidária está na segunda parte da expressão: a solidariedade. As afirmações são do economista Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária, que veio a Porto Alegre segunda-feira (26) para conversar com trabalhadoras e trabalhadores da economia solidária do Rio Grande do Sul, na atividade de encerramento dos trabalhos da Subcomissão de Economia Solidária, presidida pelo deputado estadual Zé Nunes (PT).

O plenarinho da Assembleia Legislativa ficou pequeno para a palestra de Paul Singer. O público formado em sua esmagadora maioria por mulheres, representantes de empreendimentos de economia solidária, teve que se acomodar em outras duas salas para acompanhar a atividade por meio de telões. “Estou comovido com o que estou vendo aqui”, disse Paul Singer. “Não é só aqui, tenho visto isso em outros países também; há alguma coisa impactante acontecendo no mundo inteiro”, destacou o economista que, aos 83 anos, tem viajado para vários países para levar a experiência das políticas e das práticas de economia solidária implementadas no Brasil nos últimos anos. Nestas viagens, Singer disse ter presenciado o mesmo sentimento: as pessoas estão cansadas de um modo vida onde tem que competir e concorrer o tempo todo.

“Capitalismo passa por uma crise moral”

O economista reconheceu um certo paradoxo em sua posição. O mundo, disse, é mais do que nunca capitalista, baseado no liberalismo cuja essência econômica é a ideia da concorrência. “O capitalismo fomenta a ideia da concorrência em praticamente todos os níveis da vida humana, como se fosse a única motivação capaz de fazer as pessoas fazerem o que devem fazer. É exatamente isso que a economia solidária nega. A ideia de um comércio justo é incompatível com o capitalismo”, assinalou Singer. Para ele, o capitalismo passa por uma crise moral no mundo inteiro. O problema não é exatamente a sua eficácia econômica, mas o modo de vida que ele engendra. E a insatisfação com esse modo de vida é crescente, especialmente entre os jovens. “Estive recentemente no congresso europeu de economia solidária, em Berlim, e a presença da juventude é muito animadora”, relatou.

Em busca da “Felicidade Interna Bruta”

O FIB nasceu em 1972, elaborado pelo rei butanês Jigme Singya Wangchuck. Com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o reino do Butão começou a colocar esse conceito em prática, atraindo a atenção do resto do mundo com uma fórmula para medir o progresso de uma nação. Segundo esse conceito, o cálculo da riqueza de um país deve considerar outros aspectos além do desenvolvimento econômico, como a conservação do meio ambiente e a qualidade da vida das pessoas. O índice está baseado na ideia de que o objetivo principal de uma sociedade não deveria ser somente o crescimento econômico, mas a integração de todas as dimensões da vida humana em busca de um bom viver, em harmonia com a natureza. Com cerca de 750 mil habitantes, o Butão se tornará, antes de 2020, o primeiro do mundo a produzir todos os seus alimentos com práticas de agricultura ecológica. A partir desta data, o uso de agrotóxicos estará proibido.

“O mais importante da economia solidária é a prática da solidariedade. Se vocês querem ser felizes, sejam solidários”, enfatizou Paul Singer. Esse conceito, advertiu, ultrapassa a dimensão meramente econômica. “As trocas solidárias são a essência da economia solidária. O significado dessa ideia transcende a esfera da economia. Economia solidária é uma forma de ser feliz e a gente só pode ser feliz se tem a consciência tranquila. E só temos a consciência tranquila se tratamos bem as outras pessoas”. A prática da solidariedade, insistiu o economista, é o principal ingrediente desta receita.

Os problemas da política nacional de economia solidária

Ao analisar a política nacional de economia solidária, o economista assinalou que os poucos recursos de que ela dispõe devem ficar ainda menores com o ajuste fiscal e apontou problemas nas parcerias com estados e municípios. “Fazemos uma política por meio de convênios. Temos hoje mais de 200 convênios, geralmente com estados e municípios, e a grande maioria fracassou. O grande problema é que os nossos parceiros, que recebem o dinheiro para fazer as coisas, acabam não fazendo por insuficiência técnica. Nossos governos estaduais e municipais não estão preparados para implementar essas políticas. A solução para isso é mais democracia, mais conselhos e fóruns de economia solidária que ajudem os governos a implementar as políticas”, disse Singer.

Quanto ao futuro das políticas nacionais de economia solidária, Paul Singer manifestou confiança no novo ministro do Trabalho e da Previdência Social, Miguel Rossetto, e no novo Secretário do Trabalho do ministério, José Lopez Feijóo. “Com essas pessoas no ministério, estou tranquilo. Teremos o apoio que precisamos. A economia solidária não vai perecer pela falta de apoio político. Precisamos é de mais reuniões como essa, onde possamos conversar e resolver juntos os problemas. O que não podemos perder de vista é que a função principal da economia solidária é propiciar que as pessoas possam se realizar integralmente como seres humanos”.

Paul Singer participou da atividade de encerramento dos trabalhos da Subcomissão de Economia Solidária, presidida pelo deputado estadual Zé Nunes (PT). Foto: Raquel Wunsch
Paul Singer participou da atividade de encerramento dos trabalhos da Subcomissão de Economia Solidária, presidida pelo deputado estadual Zé Nunes (PT). Foto: Raquel Wunsch

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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