Em defesa do CIMI, dos povos indígenas e na luta pela CPI do Genocídio!

Fórum Unitário dos Movimentos Sociais e Sindicais do Campo e da Cidade

Na segunda reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que acontece nesta terça-feira (6), às 14h30, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, os movimentos sociais e sindicais vêm através desta nota pública, mais uma vez, manifestar seu total repúdio a essa absurda tentativa de criminalização de uma organização que merece nosso total respeito e que ao longo de sua história vem realizando um importante trabalho na defesa dos direitos dos povos indígenas do Brasil. 

Em 1972, religiosos e leigos, inspirados pela Conferência de Barbados, criaram o CIMI, organização vinculada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com a missão de garantir que os povos indígenas permanecessem em suas terras e vivessem conforme a sua própria cultura, modos e costumes. A sua atuação missionária conferiu um novo sentido ao trabalho da igreja católica junto aos povos indígenas.

A proposta do Conselho é clara: o missionário deve inculturar-se, ou seja, passar a viver junto aos indígenas conforme os costumes dos povos. Não mais o missionário levaria Boas Novas aos povos; ao contrário, o missionário traria as Boas Novas dos povos para a sociedade envolvente e para a Igreja. Mais do que isso: o missionário faria o anúncio destas vidas em busca do Bem Viver ameríndio e denunciaria tudo o que afligisse tais comunidades ou atentasse contra os seus direitos humanos e sociais.

Em plena ditadura militar, em seu período mais cruel e cercado de ufanismo, o CIMI passou a ser um inimigo do governo autoritário, o que não foge muito a regra do atual momento que estamos passando em Mato Grosso do Sul, tempos difíceis, que nos fazem lembrar e muito da repressão ditatorial.

Na época da Ditadura o CIMI organizava as Assembleia Indígenas. Foram mais de uma dezena, até os anos 1980. A ideia era que as lideranças se conhecessem e partilhassem os problemas, denúncias e culturas. Este pode ser considerado o embrião do movimento indígena nacional, em luta por direitos coletivos. O processo desemboca na redemocratização e na batalha da Constituinte, onde os povos saem vitoriosos com os artigos 231 e 232. De 1988 em diante a luta passa a ser pela demarcação das terras indígenas e consolidação dos direitos humanos e sociais.

Lá se vão 43 anos de atuação desta importante organização junto aos povos indígenas de todo o país, contando com os grupos em situação de isolamento voluntário, os índios livres, do Oiapoque ao Chuí. O Cimi já teve integrantes assassinados, como no caso de Vicente Cañas, morto em 1987 por fazendeiros na Terra Indígena Enawenê-Nawê, no Mato Grosso, além de dezenas de ameaças, emboscadas, agressões e detenções.

A perseguição à organização em Mato Grosso do Sul é só mais uma nestes anos todos de história e nós, dos movimentos sociais e sindicais, temos a certeza que esta CPI possui uma única intenção, que é a de impedir que os direitos constitucionais indígenas sejam cumpridos. A Comissão vem para desviar a atenção dos crimes e da violência praticada contra os povos nativos e, dessa forma, impedir a demarcação e o respeito aos territórios indígenas.

Nos últimos 12 anos, ao menos 585 indígenas cometeram suicídio e outros 390 foram assassinados em MS. O estado tem 23 milhões de bovinos que ocupam aproximadamente, coincidentemente, também, 23 milhões de hectares de terra, isso quer dizer 1 hectare por animal. Enquanto isso, com a morosidade e a paralisação dos processos de demarcação, os cerca de 45 mil Guarani Kaiowá, continuam espremidos em apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais.

Neste sentido, unidos, cobramos que a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul também instaure uma Comissão Parlamentar para investigar o genocídio dos índios no estado e reiteramos o nosso apoio ao CIMI e a todos os nossos irmãos e irmãs indígenas, que batalham dia a dia, para conseguir a demarcação de seus territórios, na busca por uma vida mais digna e humana.

Campo Grande, MS, 06 de outubro de 2015.

– Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.
– Central Única dos Trabalhadores – CUT.
– Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE.
– Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul – FETEMS.
– Coletivo Terra Vermelha – CTV.
– Movimento de Luta Camponesa pela Reforma Agrária – MCLRA.
– Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de MS – Fetagri.
– Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI.
– Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares – RENAP.
– Centro de Documentação e Apoio aos Movimentos Populares – CEDAMPO.
– Tribunal Popular da Terra – TPT.
– Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU.
– União da Juventude Comunista – UJC.
– Partido Comunista do Brasil – PCdoB.
– Partido Comunista Brasileiro – PCB.
– Conselho Terena.
– Movimento das Mulheres Camponesas – MMC.
– Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza Tupã y – CDDH.
– Irmãs Catequistas Franciscanas.
– Sindicato dos Bancários de Campo Grande e Região.
– Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde, Trabalho e Previdência Social – SINTSPREV/MS.
– Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul – PT/MS.

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