Em Brasília, educadores da Reforma Agrária marcham por uma educação pública e de qualidade

O ato iniciou com uma intervenção em frente ao Ministério da Educação (MEC) para denunciar o fechamento das escolas do campo e a mercantilização da educação pública no país

Da Página do MST 

A marcha realizada pelos 1500 participantes do 2° Encontro Nacional dos Educadores da Reforma Agrária (Enera), pela Esplanada dos Ministérios em Brasília (DF), nesta quarta-feira (23), iniciou com uma intervenção em frente ao Ministério da Educação (MEC) para denunciar o fechamento das escolas do campo e a mercantilização da educação pública no país.

Para Divina Lopes, do setor de educação do Movimento, vivemos num período de crise em que o capital precisa pensar novas formas de se reproduzir e uma dessas frentes é o avanço cada vez maior sobre a educação.

“É inadmissível que no último período 37 mil escolas tenham sido fechadas no campo. Não podemos aceitar que no Brasil ainda existam mais de 13 milhões de analfabetos. O avanço do agronegócio e da lógica mercantil dos empresários da educação tem que ser barrado. E hoje, o 2° Enera se coloca em luta com um ato de denúncia, mas também, marchamos em defesa de uma educação pública e de qualidade para todos os brasileiros”, afirma.

Segundo dados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), nos últimos 15 anos, mais de 37 mil unidades educacionais foram fechados no meio rural. Isso significa uma média de oito escolas rurais fechadas por dia em todo país.

Somente entre entre 2002-2010, as matrículas na rede pública diminuíram 12,5% enquanto na rede privada, no mesmo período, aumentaram 5,2%. Nos últimos dez anos as instituições privadas abocanharam 4,4 milhões de alunos no período com a ajuda de dinheiro público, enquanto as instituições públicas receberam quase três vezes menos alunos: 1,5 milhão.

Seguindo a caminhada os educadores e educadoras pararam em frete ao Ministério da Justiça para mostrar repúdio ao projeto de Lei 2016/15, que restringe o direito à livre manifestação, podendo enquadrar militantes como terroristas.

Os Sem Terra também chamaram atenção para os massacres dos povos indígenas no Brasil. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entre os anos de 2003 e 2014, 390 indígenas foram assassinados no Mato Grosso do Sul, um total que representa 52% dos casos registrados em todo o país.

Atiliana Brunetto, dirigente assentada do MST e indígena, chamou atenção para essas mortes e exigiu a aceleração no processo de demarcação dos territórios.

“O Estado brasileiro está matando o nosso povo indígena. Todas as famílias indígenas são desrespeitadas quando o governo resolve paralisar as demarcações das terras. Nós, educadores, lutamos por vida, terra e também pelos povos indígenas. A questão indígena não é apenas mais um caso da política ou jurídico, ela é um caso de vidas humanas. Isso fez com que nós, população indígena, fossemos para fora do país pedir proteção”, salienta.

Brunetto refere-se a 30ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que aconteceu em Genebra, na Suíça no último dia (20), em que o líder dos Guarani-Kaiowá Eliseu Lopes denunciou o acirramento dos conflitos indígenas no país.

“Hoje estamos decididos a lutar até a morte se assim preciso for. Como indígena e Sem Terra, acredito que o papel da classe trabalhadora é defender nossas terras, lutar pela natureza, pelo nosso povo. Temos que nos unir para garantir que os nossos direitos enquanto cidadãos sejam respeitados por esse Congresso que não nos representa”, enfatiza.

Os Sem Terra terminaram a marcha ocupando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para denunciar o agronegócio e seu modelo de inserção na sociedade e nas escolas públicas com projetos como Agrinho, programa tem como objetivo a formação de professores e dos alunos para a utilização do uso de agrotóxicos, tratando o tema como fator necessário para a expansão da economia agrária no país.

A Ministra Kátia Abreu, uma das principais representantes do agronegócio no governo federal também foi criticada no ato.

Durante a ação, a polícia militar do Distrito Federal jogou spray de pimenta para impedir a entrada dos manifestantes no prédio, que tiveram que recuar para que não desencadeasse um conflito.

Para Alexandre Conceição, da coordenação nacional do Movimento, a mobilização é importante para chamar a atenção do Congresso e da sociedade para a onda de retrocessos em todas as áreas impostas pelo Capital.

“Viemos até Brasília para fazer uma reflexão sobre a educação e a privatização da educação, mas principalmente, fazer uma denúncia contra a lei do terrorismo e o massacre dos povos indígenas, uma denúncia contra a ministra Kátia Abreu, que representa um modelo de desenvolvimento destruidor para o campo e a partir disso, somar os esforços do campo e da cidade para fazermos uma verdadeira transformação para a sociedade”, finaliza Conceição.

Foto: Foto: Mídia Ninja

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