Para denunciar destruição ambiental, Pataxó ocupam fazenda e apreendem equipamentos da Suzano

Comunidade Indígena Pataxó, no Cimi

Com o objetivo de chamar atenção da sociedade e, principalmente, dos órgãos públicos estaduais e federais para a severa destruição ambiental em curso na região, cerca de 300 indígenas do povo Pataxó ocuparam na manhã desta segunda-feira (21) uma monocultura de eucalipto na fazenda Nedila, no município de Prado, na Bahia. Eles também apreenderam dez equipamentos agrícolas de propriedade da empresa de papel e celulose Suzano, segunda maior produtora mundial de celulose de eucalipto, de acordo com informações da própria empresa.

Em nota pública, os Pataxó afirmam que já é possível perceber os efeitos nocivos da plantação para os seres humanos, na fauna, flora e, mais gravemente, nos rios e nascentes. Também afirmam que grandes áreas da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do mundo, estão sendo desmatadas diuturnamente.

“Nós acusamos os órgãos responsáveis pela liberação e fiscalização, como a Secretaria do Meio Ambiente de Prado e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por conivência ou, no mínimo, negligência nessa situação”, declaram na nota. Eles pedem a presença de representantes de órgãos, como a Funai, a Secretaria do Meio Ambiente do município do Prado e do ICMBio, dos responsáveis pela empresa Suzano, e solicitam a presença da imprensa para denunciar as violações cometidas contra os povos indígenas da região.

Leia na íntegra a nota Órgãos públicos autorizam a destruição da vida na Terra Indígena Pataxó:

Órgãos públicos autorizam a destruição da vida na Terra Indígena Pataxó

Na manhã do dia 21 de setembro, nós, cerca de 300 indígenas Pataxó, ocupamos a fazenda Nedila, no município do Prado, estado da Bahia, local onde está sendo implementada uma monocultura de eucalipto. A nossa principal reivindicação é que parem de imediato o plantio, pois está causando grande destruição ao meio ambiente. A plantação ainda não está em fase adulta, mas já se vê os efeitos nocivos aos seres humanos, à fauna e à flora.

Os rios estão sendo fechados para a construção de barragens, as nascentes estão sendo aterradas e a Mata Atlântica está sendo derrubada incessantemente por enormes máquinas que trabalham diuturnamente.

Nós acusamos os órgãos responsáveis pela liberação e fiscalização, como a Secretaria do Meio Ambiente de Prado e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por conivência ou, no mínimo, negligência nessa situação. Fazemos também uma dura acusação contra a prefeita Mayra Brito de ser anti-indígena e, por isso, ter autorizado o plantio dos eucaliptos, pois dessa forma destruirá os povos indígenas, que ficarão sem água e sem alimento. Ou seja, sem vida.

Nossas comunidades garantem que empreendimentos implantados dessa maneira também são causadores de graves conflitos sociais, violações de direitos humanos e prejuízos ambientais irreparáveis. Nessas circunstâncias quem autorizou desmatar o entorno da terra indígena também está desrespeitando e golpeando a Constituição Federal de 1988 e conflitando com a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). É importante lembrar que todas as leis, sejam dos municípios e/ou dos estados, NÃO podem entrar em contradição e ferir a Constituição Federal do Brasil.

Dessa forma, repudiamos qualquer tentativa de desqualificar e criminalizar o movimento coletivo. Nesse momento, tudo que queremos é ser informados sobre esse projeto que está afetando diretamente as comunidades. Queremos que tudo seja resolvido em concordância com as Leis. Exigimos que os Art. 231 e 232 da Constituição Federal do Brasil sejam respeitosamente observados, corretamente interpretados e integralmente aplicados em favor do direito, da justiça e da paz nos territórios indígenas.

Exigimos a presença de órgãos, como a Funai, a Secretaria do Meio Ambiente do município do Prado e o ICMBio, dos responsáveis pela empresa Suzano e pelos setores responsáveis, e solicitamos também a presença da imprensa para que possamos denunciar as violações cometidas contra os povos indígenas da região.

No momento, cerca de 10 máquinas agrícolas de propriedade da empresa Suzano encontram-se sob nossa responsabilidade. Nosso objetivo é dar visibilidade ao movimento e garantir uma ação efetiva dos órgãos.

Comunidade Indígena Pataxó

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