Papa: ”Escutemos o grito das vítimas das minas”

IHU – Todo o setor da mineração, indubitavelmente, é chamado a fazer uma mudança radical de paradigma para melhorar a situação em muitos países.” Esse é o alerta lançado pelo Papa Francisco na mensagem enviada nessa sexta-feira, 17, ao Pontifício Conselho Justiça e Paz, por ocasião da abertura do dia de reflexão sobre o tema “Unidos em Deus, ouvimos um grito”, promovido e organizado pelo dicastério com os representantes de comunidades afetadas por atividades de extração provenientes de países da África, da Ásia e da América, e em particular com a rede latino-americana Iglesias y Minería.

A reportagem é de Gianni Cardinale, publicada no jornal Avvenire. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A essa “mudança de paradigma”, acrescentou o pontífice, “podem fazer a sua contribuição os governos nos países de origem das sociedades multinacionais e daqueles em que estas operam, os empresários e os investidores, as autoridades locais que supervisionam o desenvolvimento das operações de mineração, os operários e os seus representantes, as cadeias de fornecimento internacionais com os vários intermediários e aqueles que atuam nos mercados dessas matérias, os consumidores de mercadorias para a realização das quais nos servimos de minerais”.

Todas essas pessoas, destaca o papa, “são chamadas a adotar um comportamento inspirado pelo fato de que constituímos uma única família humana”, que, como indicada a encíclica Laudato si’, “tudo está inter-relacionado, e o cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros” (n. 70).

Na sua mensagem, o pontífice sublinha que os participantes, no dia de reflexão, reconectando-se a uma passagem da exortação apostólica Evangelii gaudium, se reúnem em Roma “para ecoar o grito das inúmeras pessoas, famílias e comunidades que sofrem direta ou indiretamente por causa das consequências muito frequentemente negativas das atividades de mineração”.

Um grito “pelos terrenos perdidos”. Um grito “pela extração de riquezas do solo que, paradoxalmente, não produziu riqueza para as populações locais que empobreceram”. Um “grito de dor” em reação “às violências, às ameaças e à corrupção”. Um “grito de indignação e de ajuda” pelas “violações dos direitos humanos, clamorosa ou discretamente pisoteados no que diz respeito à saúde das populações, as condições de trabalho, às vezes a escravidão e o tráfico de pessoas que alimenta o trágico fenômeno da prostituição”. Um “grito de tristeza e de impotência” pela “poluição das águas, do ar e dos solos”. Um “grito de incompreensão” pela “ausência de processos inclusivos e de apoio por parte daquelas autoridades civis, locais e nacionais que têm o fundamental dever de promover o bem comum”.

O dia de reflexão, que acontece até este domingo no Salesianum de Roma, foi apresentado nessa sexta-feira na Sala de Imprensa vaticana pelo presidente do Pontifício Conselho promotor, o cardeal Peter Turkson, que apontou o dedo contra as responsabilidades dos “investidores, empresários, bancos, políticos e governantes dos países onde se encontram jazidas, ou dos países onde residem as sedes gerais das multinacionais mineradoras”, e pelo missionário comboniano Dario Bossi, que contou o compromisso da Iglesias y Minería, a a rede de cerca de 70 grupos de base cristãos latino-americanos, há muito tempo ao lado das comunidades locais.

Particularmente comoventes foram os testemunhos de alguns delegados de várias comunidades, como as de Héritier Wembo Nyama, da República Democrática do Congo (que mostrou as queimaduras no braço e nas costas provocadas por alguns policiais que o jogaram no fogo durante uma marcha de protesto contra a empresa de mineração), do indiano Prassant Kumar Paikray, do chileno Juan Guillermo Peñaloza Sierra, e da brasileira Patrícia Generoso Thomas.

Imagem: Reprodução da  internet

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