Grécia representa saída à esquerda e isso é ‘insuportável’ para UE, diz ex-senador italiano

“toda discussão de impostos e cortes vale pouco. O que é necessário é destruir o governo de esquerda da Grécia. Esse é o objetivo e tudo será feito para que isso aconteça”

A discussão sobre a dívida grega com credores internacionais não é a principal questão em jogo na UE (União Europeia) nesse momento. Mesmo com o default técnico após o não pagamento de € 1,6 bi ao FMI, o fundamental aos dirigentes europeus é frear uma alternativa real à esquerda, representada pelo partido Syriza na Grécia.

Essa é análise do ítalo-brasileiro José Luiz del Roio, ex-senador italiano pela região da Lombardia. Em entrevista a Opera Mundi, ele analisa como uma possível saída da Grécia do bloco europeu poderia “desmantelar o projeto tecnocrático e neoliberal da UE”.

“Se os gregos não morrerem (com o calote da dívida com credores e uma possível saída da UE), a esquerda passa a ser uma alternativa real à burocracia europeia. Nesse cenário, toda discussão de impostos e cortes vale pouco. O que é necessário é destruir o governo de esquerda da Grécia. Esse é o objetivo e tudo será feito para que isso aconteça”, analisa.

Assista trechos da entrevista de José Luís del Roio a Opera Mundi:

Del Roio também alerta que, caso a Grécia saia da UE, grupos de extrema-direita também irão radicalizar a sua luta pela saída do bloco. Mesmo diante desse cenário, afirma del Roio, a burocracia europeia prefere o fascismo e o racismo a um projeto que conteste o neoliberalismo da região.

“A expressão máxima contrária à UE vem da extrema-direita, com o renascimento do fascismo, do crescimento de um racismo violento e de movimentos nacionalistas. Mas o que preocupa mesmo é a Grécia, um país de 10 milhões de habitantes, pois Atenas é uma saída possível à esquerda. E isso é insuportável para a burocracia europeia”, analisa.

Saída da UE e referendo

O ex-senador também comenta sobre a convocatória feita pelo premiê Tsipras de uma consulta popular, perguntando ao povo grego se quer ou não seguir com medidas de austeridades. “A convocação é uma bofetada na cara da burocracia europeia”, diz del Roio, ressaltando a característica antidemocrática do órgão executivo da UE, que já havia aprovado anos antes a Constituição europeia a despeito da rejeição de alguns países manifestada em referendos internos.

Para José Luís del Roio uma possível saída da União Europeia faria bem à Grécia. Além de autonomia para gerenciar a crise econômica, poderia obter parceiros estratégicos para superar o modelo de austeridade.

“Para um país de 10 milhões de habitantes como a Grécia, um parceiro como a Rússia seria um respiro. E não podemos nos esquecer que a Grécia é um paraíso composto por mais de 6 mil ilhas. Ou seja, o turismo na região é muito forte e capaz de impulsionar economia sem depender do bloco europeu”, afirma.

Foto: Opera Mundi TV. José Luís del Roio acredita que União Europeia prefere fascismo e racismo a uma saída à esquerda para crise.

Leia também a entrevista com o geógrafo David Harvey:
‘UE tem que entender que alternativa a Syriza na Grécia é partido fascista’

 

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