Por que se demoram as greves da educação?

Elaine Tavares – Palavras Insurgentes

A semana que chega apresenta mais uma greve na educação. Em Florianópolis, estão parados os trabalhadores municipais – incluindo professores – os professores estaduais e, agora, o técnico-administrativos em educação da UFSC.  E, no geral, essas greves que envolvem trabalhadores da educação demoram demais. Algumas chegam a durar três meses. Nesse meio tempo não há aulas e se acontecem, são precárias. A pergunta então que não quer calar é justamente essa: por que são tão longas essas greves?

A resposta parece simples. Os governos estão se lixando para a educação.  Observem que quando há alguma paralisação no setor produtivo – fábricas, empresas etc… – ou em algum setor público mais visível – como é o caso dos garis, as negociações são rápidas. Para um empresário, uma fábrica parada implica em milhões de prejuízo, ou o lixo acumulado nas  ruas repercute mal e de maneira muito acelerada para um governante. Então, eles são céleres na resolução dos problemas.

Mas, uma greve na educação provoca o quê? Que tipo de dano? Aparentemente, nenhum. No caso da educação municipal, há um certo desconforto para os pais que precisam encontrar outro lugar para deixar os filhos. Mas é só. Três meses sem aula, ao que parece, não prejudica ninguém. Nas primeiras semanas há uma certa gritaria, mas depois as coisas se acomodam e a vida segue. Para os governantes é até bom. Não precisam gastar com merenda, com luz ou água. É só ficar no vai em vem de reuniões infrutíferas, queimando o filme dos trabalhadores, pois, ao final, são eles os que aparecem como culpados do transtorno.

A educação é só um tema ritual no programa de governo dos prefeitos, governadores e presidentes. Arrisco dizer que em casos muito singulares, como quando Paulo Freire foi secretário da educação, esse assunto realmente teve alguma relevância. As campanhas políticas sempre apresentam propostas mirabolantes para a educação, mas, no frigir dos ovos, tudo segue igual, entra governo, sai governo, seja de que partido for. Claro, há experiências legais, mas são apenas as exceções, o que confirma a regra.

Educação mesmo é coisa séria, tem a ver com ensinar a ler o mundo, a ser crítico, autônomo, capaz de criar, inventar, subverter. Precisaria de um corpo de professores bem pagos, bem formados, cheios de entusiasmo pelo ensino, com tempo para ler, estudar e preparar boas aulas. Também precisaria de um corpo técnico bem qualificado, comprometido com o processo, engajado na tarefa do ensinar e aprender. Teria de ter uma estrutura material capaz de acolher com qualidade os alunos, laboratórios, espaços de lazer. E tudo isso é o que não há. Por isso são necessárias as lutas. E parece um paradoxo que um trabalhador da educação tenha que abandonar seu ofício para lutar por algo que deveria ser um direito de todos. Mas é assim que é.

O salário, cujo reajuste da inflação seria o mínimo a ser dado anualmente, nunca cresce. Por vezes, nem o índice de perda da inflação é reposto, ou se é, os governantes ainda querem fazer em vezes, achatando e corroendo ainda mais o vencimento. Os trabalhadores público sequer têm data-base, que é aquela data específica, no geral em maio, que os patrões são obrigados por lei a reajustar os salários. Pois bem, os governantes não estão obrigados a isso, e é por conta de não terem data-base, que os trabalhadores públicos precisam da greve para reivindicar reajustes ou melhorias nas condições de trabalho.

Na semana que passou, o novo ministro da educação, o filósofo Janine Ribeiro, declarou que os trabalhadores estão sendo intransigentes declarando greve  – professores e técnicos. Que eles deveriam dialogar mais. Ora, que declaração infeliz. O ministro, que chegou ontem ao cargo, mas é um professor de carreira, deveria saber muito bem que os trabalhadores vivem pendurados em mesas de negociação, que mais são de enrolação, uma vez que não avançam em nada. E, no mais das vezes, ainda servem para desfazer os acordos feitos em greve. Diálogo é o que mais querem, nunca encontrando. O governo prefere pagar em dia os juros de uma dívida ilegal a remunerar bem seus professores e técnicos. Exige “paciência” dos trabalhadores, e permanece ajoelhado diante da dívida odiosa.

E é assim que, ajudados pela mídia comercial, eles vão tornando vilões aqueles que são as vítimas do sistema. Os meios de comunicação são capazes de endeusar jovens sem causa que caminham contra uma abstrata “corrupção”, e tornar demônios os trabalhadores que lutam por uma vida digna, não só para eles, mas também para todos os que utilizam o serviço público. Os que lutam são hoje xingados de “vermelhos, petistas, governistas” ou um sem mais de nomes ideologizados. E a massa desinformada compra o pacote, enxovalhando aqueles que realmente querem um mundo melhor. É a total inversão de valores. Fracasso total da própria educação, que não consegue forma seres perguntadores  e críticos.

É fazendo esse ciclo que chegamos à resposta da pergunta sobre por que se demoram as greves da educação. Interessa a quem manda manter as gentes na ignorância. Dizia Simón Rodríguez, o educador das Américas: “Ensinem, e terão quem saiba. Eduquem, e terão quem faça”. Pois assim é. A política de educação  está voltada para ensinar apenas o necessário para que as pessoas possam se movimentar no mundo. Mas não há preocupação em educar, porque aí os véus podem cair: “que aprendam as crianças a serem perguntadoras, para que pedindo os porquês, se acostumem a obedecer a razão e não a autoridade, como os limitados, ou aos costumes, como os estúpidos”.

Assim, olhos abertos para a forma como os governantes tratam os trabalhadores da educação. Observem como César Souza, Raimundo Colombo e Dilma Roussef lidam com os professores e os técnico-administrativos em educação e perguntem-se: Porquê? A batalha dos professores e TAEs é legítima e necessária. No mundo capitalista, o trabalhador tem apenas o seu corpo – sua força de trabalho – para vender. E, no embate com o capital, precisa garantir o melhor para si. Por isso, a luta.

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