Homo infirmus, por Paulo Daniel Moraes*

Atenção consumidores do mercado da doença!

A indústria médica e farmacêutica (que são uma única coisa) há algumas décadas descobriu um grande filão para aumentar os seus negócios e o seu lucro. Os economistas e médicos que controlam essas respeitadas empresas perceberam que basta considerar todas as doenças como crônicas para que a sua clientela (eles preferem chamar os pacientes que tem dinheiro de clientes) tivesse um aumento vertiginoso, e a venda de remédios se transformasse em um dos mercados mais lucrativos desses tenebrosos tempos atuais.

Segundo os médicos a serviço desse sistema (e muito poucos conseguem ainda ter uma visão minimamente crítica) nenhuma doença tem cura, todos nós precisamos conviver com as doenças, e em boa parte dos diagnósticos (ou na maioria deles) conviver com a doença significa tomar remédios (e consumir a sofisticada indústria médica hospitalar e laboratorial). É um escândalo a quantidade de remédios que os geriatras receitam para nossos pobres velhos, e um absurdo entupir as pessoas com remédios para hipertensão, diabetes, colesterol (que nem doença é), e que poderiam ser tratadas com simples mudanças de hábitos e com plantas medicinais (orgânicas!).

Na área da psiquiatria, os remédios não são mais receitados para tratar as doenças, como no caso de uma simples depressão. Uma vez caindo nas mãos desses profissionais inescrupulosos, a pessoa tomará o remédio por toda a vida, para prevenir a depressão (!), ou qualquer outro diagnóstico, falso ou superestimado. Em vários tipos de câncer, que até poucos anos atrás eram considerados pelo ‘sistema’ como curáveis, e consequentemente terminado o tratamento não era mais preciso tomar remédio, hoje os pacientes (ou clientes) precisam tomar o remédio por toda a vida.

Os acionistas das indústrias farmacêuticas agradecem a boa saúde de suas ações nas bolsas de valores. Como os remédios são caríssimos, não há problema, obriga-se ou compra-se os gestores da saúde pública para pagá-los, com o dinheiro de todos nós.

Esta lógica perversa teve resultados estrondosos, puxados por um outro componente que nem estava nos cálculos iniciais, mas que redundou no maior de todos os fatores envolvidos nesta equação econômica: a Iatrogenia (!), doenças causadas pelos remédios e pela ação médica. Os pobres pacientes que passaram a aceitar as regras desse sistema e acreditar nas suas poderosas estratégias de marketing e de convencimento, mesmo que não estivessem doentes passaram a ficar, pois cada remédio usado para tratar ou prevenir uma doença acaba causando outras duas ou três, em escala exponencial.

E assim passamos a viver a era do ‘homo infirmus’ (do latim enfermo, doente), pois há muito tempo ele deixou de ser sábio…

*Médico sanitarista e indigenista

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