Vidas pela vida, vidas pelo reino: 30 anos de martírio da Irmã Cleusa Rody e dos 18 anos de Galdino Pataxó

Equipe Sul da Bahia, Cimi Regional Leste

A Comunidade Irmã Cleusa das Missionária Agostinianas Recoletas (MAR) de Itabuna conjuntamente com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Equipe sul da Bahia, fizeram memória dos 30 anos de martírio da Irmã Cleusa Carolina Rody Coelho. A celebração foi realizada no dia 27 de abril de 2015, na região da Água Vermelha, no Posto Indígena Caramuru, do Povo Pataxó Hã-Hã-Hãe que também lembrou os 18 anos do martírio de Galdino Pataxó queimado vivo por jovens da classe média em Brasília.

A celebração carregada de simbologias e emoções ocorreu com a presença das Missionárias Agostinianas, Missionários (as) do Cimi e representantes do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe. Depoimentos, cânticos, e momentos de profundas lembranças marcaram o evento.

Irmã Cleusa Carolina Rody Coelho, pertencente à Congregação das Missionárias Agostinianas Recoletas, Natural de Cachoeiro do Itapemirim – ES recebeu o hábito religioso no dia 02 de outubro de 1952 e adotou o nome religioso de Sor Maria Ângelis Coelho de São José. Emitiu seus primeiros votos religiosos em 03 de outubro de 1953.

Em 1982, foi autorizada pela sua congregação a assumir a Pastoral Indígena da Prelazia de Lábrea. Mais tarde, foi nomeada coordenadora da Sub-Regional Norte 1 do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que abrangia as Prelazias de Lábrea e Coari. Em defesa da terra e da paz indígena, justamente no exercício de seu trabalho missionário, Irmã Cleusa, no dia 28 de abril de 1985, foi cruelmente assassinada, às margens do rio Paciá. O corpo da Irmã Cleusa foi achado nu e escalpelado. O braço direito tinha sido decepado, a mão direita jamais foi achada; a cabeça e o tórax estavam crivados por mais de cinquenta chumbos de espingarda de caça, além de apresentar costelas quebradas, crânio e coluna vertebral fraturados. Dedicou 32 anos de sua vida missionária ao serviço dos mais empobrecidos: os hansenianos, os presidiários, os cegos, os menores de rua, os índios.

Esta opção da Irmã Cleusa pelos pobres, nos faz lembrar uma fala de Dom Pedro Casaldáliga na Romarias dos Mártires:

“…O que eu peço de vocês é que não esqueçam dos pobres; o que eu peço de vocês é que não esqueçam a opção pelos pobres, essencial ao Evangelho, à Igreja de Jesus. A opção pelos pobres. E esses pobres se concretizam nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos sem-terra, nos prisioneiros… Nos muitos filhos e filhas de Deus proibidos de viver com dignidade e com liberdade”.

Durante a celebração ao fazermos memória de Irmã Cleusa, de Galdino Pataxó, de Vicente Canhãs, de Pe. João Bosco, de tantas outras lideranças indígenas e missionários (as) que doaram suas vidas, para que tivéssemos vida, Haroldo Heleno, missionário do Cimi lembrou que neste mesmo discurso de Dom Pedro Casaldáliga, ele nos alertava:

“…. Eu peço também para vocês que não esqueçam do sangue dos mártires. Tem gente, na própria Igreja, que acha que chega de falar de mártires. O dia que chegar de falar de mártires deveríamos apagar o Novo Testamento, fechar o rosto de Jesus. Assumam a Romaria dos Mártires, multipliquem a Romaria dos Mártires, sempre, recordemos bem, assumindo as causas dos mártires. Pelas causas pelas quais morreram, nós vamos dedicar, vamos doar, e se for preciso morrer, a nossa própria vida também…”

Dona Maura Titiah, liderança do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe e Sula Pataxó, irmã de Galdino fizeram um relato emocionante sobre a importância de lembrarmos aqueles que doaram suas vidas como Galdino na luta pela reconquista de suas terras:

Se hoje estamos pisando livres em nossas Terras é graças ao sangue derramado por estes Mártires, portanto esta celebração é mais que justa e até porque todos eles estão presentes aqui neste momento celebrando conosco”.

A celebração foi encerrada com uma rica partilha de produtos e alimentos que a comunidade trouxe para comemorarmos a vitória daqueles que acreditam na luta, que supera a dor, avança sobre a Cruz até chegar na Ressurreição.

Nós somos o povo da esperança, o povo da Páscoa. O outro mundo possível somos nós!

Imagem: Equipe Sul da Bahia / Cimi Regional Leste

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