Cerca de 1200 camponeses participam da abertura do 6° Congresso da Cloc

Até a próxima sexta-feira, os 1200 delegados de 21 países da América Latina participam da atividade que acontece em Buenos Aires. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) é representada neste Congresso pelo coordenador do Regional Nordeste 2 (CPT-NE2), José Carlos Lima da Silva, e Elizabete Flores, da CPT Mato Grosso

Da CLOC – Via Campesina / CPT

“Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam. Mas outros, outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem pestanejar, e quem se aproxima se incendeia. Que esse congresso sirva para incendiar essa chama.”

Foram com esses versos do escritor Eduardo Galeano que a argentina Deolinda Carrizo, do povoado tradicional indígena Vilela, começou o 6º Congresso Continental da CLOC – Via Campesina, nesta terça-feira (14).

Após dois anos de preparação e centenas de quilômetros percorridos, mais de 1200 delegados de 21 países da América Latina e Caribe se reúnem até a próxima sexta-feira (17), em Buenos Aireis, na Argentina, para discutir os principais desafios dos camponeses e traçar uma agenda conjunta de mobilização para os próximos anos.

Responsável pela Secretaria Operativa da CLOC, Deolinda relembrou o processo de criação da Coordenação Latinoamericana e Caribenha das Organizações do Campo (CLOC).

“Iniciamos esse processo continental, no final dos anos 80, porque não íamos celebrar o descobrimento da América. Nos juntamos para dizer que havia resistência camponesa, indígena e popular”, recordou Deolinda.

O surgimento de uma organização camponesa na América Latina foi impulsionada, em grande medida, pelas articulações em torno da “Campanha 500 anos de resistência indígena, negra e popular”, que agrupou forças contrárias às comemorações do descobrimento da América pelos colonizadores europeus.

Com a criação da CLOC, em 1994, como resultado dessas mobilizações continentais, foram erguidas diversas bandeiras de luta relacionadas com a pauta do campo e da libertação dos povos latinos diante da ofensiva neoliberal.

“Nos unimos, caminhamos e hoje podemos dizer juntos que derrotamos a ALCA, o Tratado de Livre Comércio das Américas. Tratados que ainda tentam sepultar este fogo que segue andando”, rememorou Deolinda.

Já a integrante histórica da CLOC, atualmente ministra boliviana de Desenvolvimento Rural e Terra, Nemesia Achacollo, refletiu sobre o atual processo de transformação social ocorrido depois da ascensão de governos progressistas na região.

“Nós estamos vivendo um processo de mudança. Um irmão que foi membro desde a construção da CLOC se tornou o presidente Evo Morales. Um companheiro camponês, indígena, em busca dos direitos humanos e com respeito à mãe terra. Hoje vivemos os frutos da revolução bolivariana. Apesar de não estar presente fisicamente, o presidente Chávez e a revolução bolivariana vive entre todos”, afirmou Nemesia.

Inimigo comum

Apesar das memórias positivas da resistência camponesa, os povos estão cada dia mais expostos ao modelo de sociedade vigente no mundo. Para o integrante da MNCI e integrante da Secretaria Operativa da CLOC, Diego Montón, o capital financeiro é a principal ameaça à soberania dos povos.

“Apesar dos avanços, o capital financeiro e as corporações têm conseguido que nossas economias se concentrem e se centralizem. Atualmente, está ocorrendo uma enorme ofensiva das corporações transnacionais sobre nosso continente e em todo o mundo”, assegurou Diego.

Segundo o dirigente, o principal objetivo do congresso é reiterar o combate ao modelo capitalista, romper com o sectarismo e construir unidade entre as forças progressistas.

“Viemos a esse congresso para fortalecer a articulação continental, superar as falhas para além de todas as conquistas, romper divergências, fortalecer nossos mecanismos de poder e estabelecer uma verdadeira agenda de luta continental contra esse projeto do capital financeiro”, afirmou.

E esse processo não pode estar alijado da defesa da soberania alimentar, também ponderou Diego. “Se não recuperarmos a soberania alimentar não sustentaremos esse processo ascendente de lutas na América Latina. E não pode haver soberania alimentar sem agricultura camponesa, que por sinal só se concretizará com uma reforma agrária popular e integral que aconteça do Caribe até a Terra do Fogo”.

O evento, que tem como lema “Contra o capitalismo, por soberania dos nossos povos, América unida segue em luta”, continua até sexta-feira (17), quando se pretende elaborar apontamentos conjuntos dos camponeses para os próximos anos.

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