Antes de Itaipu

Indígenas sofriam com violência e expulsão mesmo décadas antes do alagamento do Rio Paraná

por  e , em A Pública

De acordo com o relatório do CTI, que subsidiou os trabalhos da CNV, a pressão sobre os indígenas começou, no oeste do Paraná, no início do século XX. A ocupação das terras por não-índios era, até então, restrita à região central do estado, delimitada pelas áreas onde hoje estão os municípios de Santo Antônio da Platina, ao norte, e Francisco Beltrão, ao sul.

Mas, em 1902, a Cia. Mate Laranjeira começou a explorar a região a partir da retirada de madeira da vegetação nativa e produção de erva-mate – que seria exportada para a Argentina – usando, para isso, trabalho forçado dos indígenas. A partir da década de 1920, posseiros expandiram a ocupação para o oeste do Paraná. O governo do estado passou na década seguinte a conceder para empresas terras consideradas devolutas na região, de modo a continuar a consolidação das fronteiras com o Paraguai.

A colonização avançou sobre as terra dos índios na década de 1940, antecedidas por ofensivas de jagunços que tentavam, com armas, expulsar os Guarani das propriedades concedidas pelo governo – um processo que perdurou até pelo menos a década de 1960.

 

“Naquele tempo nós tínhamos medo do branco”, contou Vitória Barros, de 75 anos, que hoje vive em Tekoha Nhemboete, à Pública. Ela era adolescente no início dos anos 1960, quando fugiu “pro mato”: “Eles vinham pra assustar, mesmo. Com arma, fazia tiro e nós corríamos. Naquele tempo tinha administrador, jagunço. E matavam mesmo”.

O decreto-lei de 1939 que criou o Parque Nacional do Iguaçu também aumentou a pressão fundiária da região. A área consistia em 185 mil hectares de terra próximos ao local onde ficaria, posteriormente, a represa de Itaipu. Os Guarani foram “violentamente expulsos da área”, como caracteriza o relatório do CTI, ao longo dos anos 1940. Os não indígenas, no entanto, permaneceriam até 1967, quando todo o espaço seria efetivamente desapropriado para dar lugar ao parque.

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