DR: Uma nova revista, sob a inspiração de divas iconoclastas

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

No conspurcado cenário midiático brasileiro, sete mulheres se uniram para criar uma nova revista online, irreverente já a partir da fan-page, fotos e mimes que a anunciaram, do Editorial de lançamento (transcrito abaixo) e, agora, do próprio conteúdo: DR. Mas quem são essas criaturas que posaram tão sisudamente para a foto acima e se autodenominam Divas, afinal?

Embora o viés curricular acadêmico prevaleça, há de tudo um pouco. Ana Kiffer é ligada a literatura e cultura, além de professora da PUC-Rio; Barbara Santos se apresenta pelo Centro de Teatro do Oprimido, Kuringa-Berlim; Fernanda Bruno estuda mídia e subjetividade, como professora da UFRJ; Mariana Patrício, professora do CCE da PUC-RJ, pesquisa Temas de Dança; Oiara Bonilla é antropóloga e professora da UFF; Tatiana Roque, professora da UFRJ, mexe com filosofia e história da ciência; e Thamyra Thamara de Araujo é fotógrafa, jornalista e mestre em Cultura e Territorialidade pela UFF.

Neste primeiro número, o leque é igualmente variado. Elas anunciam: Entrevista exclusiva com Isabelle Stengers (Filósofa, Universidade Livre de Bruxelas) e Vinciane Despret (Filósofa e psicóloga, Universidade Livre de Liège). Dossiê: Subjetividades, política e mídia, com artigos de Anna Lucia Enne (UFF), Fernanda Bruno (UFRJ) e Tatiana Roque (UFRJ). Matérias de Thamyra Thamara de Araújo (Anastácia Contemporânea), Oiara Bonilla (UFF) e Artionka Capiberibe (Unicamp). DR com… Nietzsche, por Mariana Patrício (PUC-Rio).

O projeto gráfico da revista é da Indisciplinar-UFMG, composta por André Victor, Luiza Magalhães, Natacha Rena, Octávio Mendes e Sarah Mattos. A fotografia da capa, de Leandra Lek. E, como correspondentes, a DR elenca Natacha Rena (UFMG) e Rosana Pinheiro Machado (Oxford University). O site é www.revistadr.com.br.

 Abaixo, como prometido, vai o editorial deste primeiro número, no qual as Divas se apresentam e à revista.

EDITORIAL

DR é uma revista de política e de cultura feita por mulheres. Surgiu da dificuldade de discutir política com homens e do desejo de conversar sem colocar o pau na mesa.

Não colocar o pau na mesa é discutir política sem ter que ganhar a discussão ou deter a razão final. Também não somos uma revista acadêmica feita por especialistas. Desejamos falar daquilo que não sabemos e dialogar com um público mais amplo. A política concerne a todos e se diz de muitas maneiras.

Nossa DR é anti-capitalista.

O capitalismo não é independente das produções subjetivas que engendra, dos usos da linguagem, das formas de vida que impõe. Por isso mesmo, construir alternativas é também prefigurar outras formas de falar e de se relacionar.

DR é uma proposta de conversa atenta ao tom, na qual seja possível ter voz sem precisar incorporar a linguagem da verdade. É o desejo de falar num tom que não é necessariamente feminino (de fato não sabemos exatamente o que isso significa), mas que recuse a autoridade e a expertise que são, de fato, hoje (ainda) exercidas majoritariamente por homens.

E, já que somos historicamente tachadas como emotivas, loucas e maníacas por DR, vamos fazer DR mesmo! E afirmar o sentido político dessa prática.

Como em toda DR, não sabemos exatamente aonde isso vai dar. Mas só se faz DR com quem a gente se importa, e sobre assuntos que nos são cruciais. Nos importamos com o efeito de nossa fala, sabendo que é sempre possível retornar sobre as palavras, reconhecer seus equívocos, prestando atenção ao modo como afetam o seu destinatário. Isso também é fazer política. Fazer DR é, portanto, buscar se colocar em posição de igualdade diante dx outrx, apostar que a relação é o que importa.

Um cuidado, uma atenção às conexões.

 

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