Quem matou Gaia? Entrevistas com Mírian França, Patrícia Bezerra e Gina Moura

Por Melquíades Júnior, no Diário do Nordeste

Na tarde do último Natal, há exatos dois meses, um casal que passeia entre o caminho da Pedra Furada e a Vila de Jericoacoara avista um corpo de mulher deitado sobre areia rodeada de vegetação rasteira em cima da duna. De lá para cá, não se sabe quem matou a italiana Gaia Molinari. Vestida de biquíni, com uma mochila nas costas, cabeça ferida como se a golpes de pedra. Forte pancada na testa, outra evidente agressão no queixo. Mãos roxeadas, como se houveram amarrado, e marcas no pescoço que, depois, a perícia confirma estrangulamento. Quem matou Gaia? Foi encontrada na região do Serrote, mas ali mesmo assassinada?

Conhecido paraíso de tranquilidade, Jericoacoara, pertencente ao município de Jijoca, é repercutida, mas não por seu cartão postal.

Gaia estava a passeio e foi encontrada no vazio da região do Serrote. Crime cercado de mistérios. Nas primeiras horas em que o corpo é encontrado, um suspeito logo foi apontado. “Edinho é perturbado da cabeça e já furou um”, diz um dono de pousada. “Ele acabou morrendo”, esclarece o próprio ‘Edinho’. Do lado de fora da casa de Edson Veríssimo, ali considerado suspeito, pessoas se aglomeravam. Policiais o pegam em casa para prestar depoimentos, depois é liberado para casa. Para a polícia, continua suspeito de envolvimento. Assim como um italiano, um uruguaio e brasileiros, entre eles Mirian França.

Suspeita principal, a farmacêutica carioca viajou para Jericoacoara com Gaia. As duas teriam se conhecido em Fortaleza com desejos parecidos. Passear. Mas Mirian voltou para Fortaleza sem Gaia e esse é apenas um dos muitos questionamentos levantados pela delegada Patrícia Bezerra, que preside o inquérito.

Acusada, presa, exposta e se dizendo pressionada psicologicamente, Mirian França se torna peça importante de um quebra-cabeças. Sua prisão tem repercussão na medida em que a morte de Gaia causou interesse público.

Mas há muitas peças soltas, e os desdobramentos podem ser imprevisíveis. Tentamos, se não montar, encontrar quem as encaixe. Com exclusividade, Mírian França, Patrícia Bezerra e Gina Moura nos concedem entrevistas em que ouvem a pergunta: Quem matou Gaia?

Entrevista com Mirian França“Não menti para a Polícia, não posso pagar pelo que não fiz” 

Você matou Gaia, ou teve algum envolvimento no crime de morte dela?

Não tive nada a ver com isso, absolutamente, nenhuma relação com isso. Ajudei a Polícia desde o início. Não vieram atrás de mim. Eles me ligaram, falaram hora e onde eu deveria me apresentar, às 6h da manhã, que era o horário que estaria aberto. Eu me apresentei no posto policial (em Canoa Quebrada, para onde foi depois de Jeri), eles me trouxeram pra Fortaleza prestar depoimento. Eu sempre falei que estava com dificuldades de me lembrar de tudo que tinha acontecido. Estava fazendo um esforço grande para poder ajudar. A medida que fui me lembrando de outras coisas procurei a Polícia, liguei, informei. Foram me buscar pra fazer reconhecimento de suspeito, mostrar fotos. Tinham o meu endereço o tempo inteiro.

A Polícia fala em contradições suas. Porque teriam colocado você da posição de testemunha para suspeita?

Não entendi ainda como fui envolvida nisso. Desde o meu primeiro depoimento, quando falei para a delegada que estava com dificuldade de lembrar de toda a situação ali, mas que estava fazendo um esforço para lembrar. Contei pra ela o que tinha acontecido, um pouco da nossa viagem, do que conheci da Gaia. O meu segundo depoimento já foi muito sob pressão. Mas falei novamente toda a história do primeiro depoimento. As ditas contradições eu não entendo, pois no terceiro depoimento eu também falei novamente as mesmas coisas.

Que pressões são essas a que se refere?

As pessoas estavam pressionando muito. Reiterei o que tinha dito, mas as pessoas me olhando com desconfiança. Não tinha ninguém ali do meu lado e já foi um momento bastante tenso porque a Polícia me pegou no dia 28 (de dezembro) pela manhã onde eu estava hospedada, me levaram para Jeri. Passei o dia inteiro escoltada. Não percebi o que estava acontecendo comigo. No final da tarde, fui colocada numa delegacia para prestar depoimento, numa sala isolada de outras pessoas. O celular já tinha sido tirado de mim. Mostrei pra Polícia como acessava o celular. Nesse dia, antes de eu chegar na delegacia, uma policial tinha falado que estavam achando que a Gaia tinha morrido no dia 25 e não no dia 24. Fiquei pensando: caramba, ela passou a noite inteira sendo torturada, agredida? Eu estava sentindo muito medo, desesperada. E não percebendo por que já estava sendo considerada suspeita.

Como ficou sabendo da morte de Gaia?

A reserva lá em Jericoacoara estava no meu nome. Quando a dona da pousada soube, o contato da Gaia era eu, meu número estava lá nos registros. Eu já estava em Canoa Quebrada. Fiquei chocada, paralisada, não aceitando aquilo.

Vocês viajaram juntas. Porque saiu de Jericoacoara sem ela?

Tínhamos que estar no ônibus de 22h30 para voltar pra Fortaleza. A maior parte do tempo fiquei na pousada. Quando deu a hora, a Gaia não estava por lá. Procurei por ela, mandei mensagem no ‘whatsapp’, mas estava na hora do ônibus sair, eu pensei que ela tinha ficado para uma das festas que aconteciam no local. Estava me sentindo tão segura naquele local, e acho que a Gaia também. O fato de ter saído sem ela não foi falta de amizade, de preocupação, que abandonei a menina pra morrer. Era um dia de festa. Eu achei que ela estava ali, perdeu a hora do ônibus e ficou para uma festa. Nunca imaginei que uma coisa dessa iria acontecer.

Você chegou a imaginar o que pode ter ocorrido?

Depois da notícia, eu não lembrava direito de tudo que tinha acontecido ali. Comecei a ir lembrando de todas as coisas, desde o dia em que a gente chegou, com quem a gente conversou, coisas que tinha me falado, o que comentou de outras pessoas. Procurei resgatar todas essas lembranças para ajudar o máximo possível. Claro, elaborei várias coisas na minha cabeça, do que poderia ter acontecido, mas não quero entrar nesse aspecto para não influenciar na investigação e expor outras pessoas. Eu passei para a Polícia, mas não quero dizer aqui.

Como foram os dias na prisão?

Muito difíceis. A cadeia é um ambiente muito hostil. Passei os primeiros seis dias na sela comum, com as outras presas que chegavam ali, sem nenhuma condição de higiene. É um local em que eles te jogavam ali, você só recebia almoço e janta. Nem água a gente tinha. Bebia do chuveiro. Nem era chuveiro, na verdade, era um cano em que caía água. Antes de ser entregue na Decap (Delegacia de Capturas) eu passei a noite inteira com os policiais, sob pressão psicológica. Sendo acusada de coisas que não fiz.

Como o quê?

Como por exemplo mentir. Fui levada de Jericoacoara direto para a ‘Captura’. Cheguei ali não lembrava direito das coisas que aconteceram comigo naquela noite. Eu cheguei na cela gritando muito, falando para as pessoas que estava sendo acusada de assassinato e não lembrava o que tinha acontecido. Eu conheci muitas meninas e todas elas nessa mesma solidariedade. Fiquei surpresa com isso. Não pensava que na cadeia era assim, a hostilidade maior veio mesmo do sistema carcerário.

Acha que ser mulher, negra, em algum momento isso interferiu diante das acusações?

O racismo hoje em dia é uma coisa que você só sente, as pessoas não falam abertamente sobre isso. Se fui vítima de racismo, não sei porque as pessoas não falam nada abertamente. Mas é claro que achei estranho, dentre várias pessoas que estavam sendo consideradas suspeitas, pessoas estrangeiras que estavam ali, eu, que sou uma negra, fui exposta desse jeito, considerada suspeita e nem entendo o porquê. O que eu senti muito, vi e escutei de verdade, foi um preconceito muito grande contra a mulher. Eu tive que me justificar várias vezes porque eu sou uma mulher viajando sozinha. Porque não tenho namorado, não sou casada, ainda não tenho filhos. A minha vida sexual foi muito exposta, investigada pela Polícia, como se isso tivesse alguma relevância para o caso. Se está acontecendo um preconceito racial não se fala, mas contra a mulher foi uma coisa gritante que percebi ali.

O inquérito não terminou. Sua prisão foi revogada, mas tem medo de ser apontada culpada?

Medo não, porque já tem muito tempo que estou sendo investigada e não encontraram e nem vão encontrar nada que me associe com esse crime. Mas não sei o que pensar em relação a isso. Tem muita coisa errada nessa situação toda.

Em que sentido?

Tinha muitas pessoas que estavam sendo consideradas suspeitas e eu fui a única que fui exposta. Desde o primeiro momento que estava ainda sendo considerada uma testemunha. Não fui eu que procurei a imprensa, que liberei meu nome. Saiu ali como testemunha de um caso de assassinato, ninguém sabia o que tinha acontecido, quem fez isso com a Gaia e meu nome foi liberado como testemunha. Eu achei um absurdo. No segundo momento, que fui considerada suspeita, fiquei chocada. Eu não fiz isso, eu não tenho nenhuma relação com isso. Meu nome foi exposto como quem estava mentindo durante o depoimento. Ninguém expôs ainda quais foram as mentiras que poderiam ter prejudicado o caso, se tiveram.

O que vai fazer de agora em diante?

Daqui a pouco o País vai esquecer disso, esses 15 minutos vão passar rapidamente. Mas enquanto não descobrirem o que aconteceu com a Gaia, sempre vai ter a dúvida, que eu de alguma forma possa ter feito ou participado do assassinato de uma pessoa.

Eu sempre estudei, minha mãe zelou muito pela minha educação. Fui aluna de escola pública. Com muito sacrifício consegui passar para o vestibular numa universidade pública também. Eu me formei na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em Farmácia, fui direto para a pós-graduação, fiz mestrado, hoje, estou no doutorado. Investigo a imunologia da doença da leishmaniose para o desenvolvimento de uma vacina preventiva, mas também para identificar como que se dá a resposta imunológica à doença. É essa a minha linha de pesquisa atualmente. Nao sei como vai ficar agora com essa situação toda. Vai existir sempre a dúvida. O preconceito está aí na cabeça, não só da polícia, mas da sociedade.

*Farmacêutica, acusada pela polícia de envolvimento da morte de Gaia Molinari

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Delegada aponta contradições de Mirian

Para a presidente do inquérito, a prisão da farmacêutica teve “muita consistência” e foi bem fundamentada

Por Emerson Rodrigues e Melquíades Júnior

A delegada Patrícia Bezerra, da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur), explicou, pela primeira vez, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, quais seriam as principais contradições nos depoimentos da carioca Mirian França, que a fizeram pedir a prisão temporária da mulher apontada como suspeita da morte da turista italiana Gaia Molinari.

A estrangeira foi encontrada morta na Praia de Jericoacoara, no dia 25 de dezembro do ano passado. A Polícia afirma ter duas linhas de investigação para o crime. A primeira é passional, e a segunda permanece em sigilo. Cerca de 15 laudos periciais ainda devem ser liberados pela Perícia Forense (Pefoce), pois foram solicitados no decorrer das investigações.

Conforme a presidente do inquérito policial, que já contava até ontem com cerca de 500 páginas, uma das afirmações de Mirian que a não convenceram é de que ficou nervosa perante a Polícia e pode ter se enganado. Patrícia Bezerra salientou que Mirian teria prestado dois depoimentos nos quais contou, com detalhes, como foram os dias vividos por ela e Gaia em Jericoacoara. “No primeiro depoimento, ela sentou na minha frente no dia 26 e, enquanto eu iniciava o procedimento para ouvi-la, ficou lendo anotações. Perguntei o que era e ela disse que era um diário que tinha feito dos dias que passou com Gaia em Jericoacoara e havia passado a noite escrevendo para não esquecer nenhum detalhe. Perguntou se podia ler o diário e eu consenti. O primeiro depoimento dela foi todo baseado em escritos dela mesma”, afirmou a delegada. Conforme a Polícia, nesses primeiros depoimentos Mirian direciona toda a investigação para um italiano, instrutor de windsurf.

No entanto, durante uma acareação com o estrangeiro, ela volta atrás e teria dado outra versão, na qual passaria a dar respostas negativas para suas afirmações anteriores.

“Ela disse no primeiro depoimento que a última vez que viu a amiga com vida, foi quando Gaia saiu para a praia com ele, às 13h45 do dia 24. À noite, ela disse que se encontrou com o italiano na pousada e perguntou onde estava Gaia e o mesmo disse que não sabia, pois teria ido dormir”, disse a delegada sobre o depoimento.

Mirian teria afirmado também que o homem “deu em cima” de Gaia todos os dias, mas as investidas não teriam sido correspondidas pela italiana. A delegada destacou que, com base nas informações do depoimento de Mirian, a equipe da Deprotur, sob seu comando, foi verificar os detalhes e álibis. Quando os policiais chegaram a Jericoacoara, o italiano foi ouvido e negou tudo. “Ele disse que conheceu Gaia e encontrou-se com ela duas vezes. Teria recebido uma mensagem dela no dia 24 pedindo para marcar uma aula (de windsurf) às 16/17h, mas ela não apareceu. A história dos dois não batia”, disse Patrícia.

Sobre a conversa à noite com Miriam sobre Gaia, a delegada conta que o estrangeiro disse que não fala português e Miriam nunca tinha falado com ele. “Perguntei pra ela como eles tiveram esse diálogo, e ela disse que entendeu que ele tinha dito isso. Eu a ouvi no dia 26 em Fortaleza e no dia 28 em Jericoacoara. Ela reafirmou a história depois que ele tinha negado sem ela saber. Quando coloquei os dois frente a frente, ela desmoronou e retirou todas as afirmações que tinha feito sobre o italiano. Eles tomavam café todo dia, confirma? Não. Ele dava em cima dela? Não. Saiu com ela da pousada? Não”.

Outro “erro” nas declarações de Mirian que despertaram a atenção da Polícia foi o tempo de permanência de Gaia em Jericoacoara. Inicialmente, Mirian teria dito, em depoimento, que Gaia foi liberada pelo dono do hostel, onde trabalhava em Fortaleza, até a manhã do dia 25. O empresário, segundo a Polícia, teria liberado a italiana apenas até a manhã do dia 24. “Ela iria servir o café da manhã do dia 24. Dia 23, mandou uma mensagem para ele (dono do hostel) dizendo que estava doente, ao que teve como resposta que tudo bem. A Mirian não falou isso para gente. Descobrimos lá que Gaia passou o dia 23 doente e trocou a passagem para o dia 24. Ela trocou porque adoeceu, ninguém sabe porquê ela adoeceu e o que causou essa doença”, afirmou Patrícia.

De acordo com a delegada, na noite do dia 22 de dezembro, Mirian e Gaia saíram para jantar e comeram a mesma coisa: peixe, arroz e salada. No dia seguinte, somente Gaia passou mal. “Indagamos a Mirian qual o motivo disso e ela relatou que não passou mal porque tem um estômago muito forte”.

O comportamento de Miriam na noite do dia 24, na qual Gaia teria sido morta, também é visto como uma “contradição absurda” pela Polícia. “Uma turista em Jericoacoara, em seu último dia na cidade e passar o dia trancada na pousada, na recepção? Pois elas já tinham feito o check-out ao meio dia. Ela ficou transitando da rede para um sofá, sem falar com ninguém. Isso é estranho. Na noite de Natal, ela não falar com ninguém, enrolada numa manta, num calor que fazia naquela noite, segundo testemunhas?”.

Maconha

Não foram somente as contradições que fizeram com que Mirian fosse apontada pela Polícia como suspeita. A suposta ligação dela com um traficante de drogas de Jericoacoara também teria pesado na decisão da delegada de pedir a prisão da farmacêutica. “Ela disse várias vezes em depoimento que era usuária contumaz de maconha e teria feito uso de ‘skank’ (tipo de maconha mais forte) em Jericoacoara”, afirmou a delegada.

Mirian teria conseguido a droga com esse homem, com quem também teria mantido relações sexuais. A Polícia apreendeu maconha na bolsa da farmacêutica, no dia em que teve a prisão temporária decretada. Ela teria permanecido durante todo o tempo na Delegacia com a droga na bolsa. O entorpecente foi descoberto somente no momento em que ela foi revistada e teve que entregar seus pertences antes de ser conduzida para a Delegacia de Capturas (Decap).

A delegada Patrícia Bezerra rebateu acusações de que a prisão de Mirian não teve fundamentação legal e seria motivada por preconceito. “A prisão teve muita consistência. A decisão do juiz foi muito fundamentada. Disseram que deferiu a prisão sem ler. Despachei com ele uma hora da manhã do dia 28 para dia 29. O magistrado se trancou no gabinete e saiu quatro horas depois com a decisão”, afirmou.

Ao fim de dois meses e com mais de 500 páginas, o inquérito sobre a morte de Gaia deve ser concluído até o dia 11 de março, mas a Polícia pode pedir prorrogação do prazo à Justiça.

Sobre a afirmação de Mirian de que esteve presa sob condições sub-humanas na Decap e até bebido água de um chuveiro, a Polícia Civil informou que “para todos os presos que estão custodiados na Decap é fornecida alimentação e água para consumo”.

A opinião da Defensora Pública Gina Moura

Para a Defensoria Pública do Estado, as contradições apontadas pela Polícia não teriam relevância dentro da investigação do crime. “A Mirian prestou todos os depoimentos, de forma exaustiva. Foi um total líquido de 14 horas em depoimentos. Foi bem solicita a tudo o que a investigação pediu”, afirma a defensora Gina Moura. De acordo com ela, funcionários da pousada esclareceram que Mirian procurou por Gaia, que não estava na piscina no horário em que foi procurada. “Uma testemunha disse que Gaia foi vista a última vez por volta de 18h30. Antes, no meio da tarde, por volta de 13h45, seria o último horário que se encontrou com Mirian. A vítima teria dito que ia para uma aula de windsurf. Mirian deduziu que ela teria ido junto com o instrutor italiano. Na acareação, ele disse que não saiu junto a Gaia. Mas a questão é que eles terem ou não saído juntos não tem peso. A interpretação que eu e meus colegas temos é de que é um detalhe que não tem relevância porque depois disso Gaia foi vista novamente. A Mirian foi vista de hora em hora. Às 22h20 ela saiu de Jericoacoara para pegar o ônibus para Fortaleza. Essa viagem já fazia parte do cronograma de viagem dela antes de vir para a Capital”, Afirma Gina Moura.

A defensora pública acrescenta que Mirian não pagou todas as despesas para a Gaia. “Ela fez reserva para duas pessoas por um período maior de estadia. Quando percebeu que a mãe não iria mais, foi para o site mochileiros.Com atrás de alguém que tivesse interesse na viagem. Não há aí nenhum resquício de contato entre Mirian e Gaia nesse site. Há provas de que ela, inclusive, tentou cancelar a segunda passagem e não conseguiu. Pediu também reembolso à pousada, que não concedeu. Seria dado em crédito de hospedagem. O que ela fez: reduziu o período de estadia duas pessoas. Mostramos de forma documental que esse contato ocorreu muito antes”. Ainda conforme Gina Moura, sobre o consumo de maconha, em nenhum depoimento Mirian negou ser usuária. “A minha impressão é de que houve uma exploração muito grande pela própria Polícia, de que o temperamento, o comportamento, da Mirian foi muito mais usado do ponto de vista subjetivo do que a parte objetiva do delito”.

“Em que circunstância ocorreu, qual foi a dinâmica? Objetivamente, essas questões maiores foram deixadas de lado. Tem algumas informações da Polícia que não estão ainda nem no inquérito, mas guardadas na gaveta. O fato objetivo ainda tem que ser muito esclarecido. Isso não é novidade, foi dito a exaustao”, diz a defensora.

‘Se a Polícia não aparece, tinham me matado’

Próximo ao corpo de Gaia um estilingue foi encontrado. Virou elemento catalisador para o anúncio informal do primeiro suspeito. Dali a ocuparem a frente da casa de Edson Veríssimo, o Edinho, foram poucas horas.

Ter matado um homem com faca, e ser apontado como de comportamento impulsivo, além do estilingue encontrado, fizeram de Edson o possível autor da morte da italiana.

“Mas faz tempo que teve esse negócio aí, muitos anos, não sei nem quem é essa ‘Maia'”. Tempo de quando matou e em que usava estilingue. “O meu era amarelo, lá disseram que era vermelho”. Policiais civis e militares conduziram Edinho para Fortaleza, onde prestou depoimentos e foi submetido ao reconhecimento de Mirian França.

Já de volta a Jericoacoara, acenando com as mãos e a cabeça, a mãe e a irmã tentam dizer que ele ‘não bate bem da cabeça’. Com um sorriso no rosto, Edson Veríssimo, de 28 anos, se diz grato por não ter nenhum envolvimento no caso. Fecha o sorriso e repreende a mãe, que tenta participar da conversa e dizer que Edson faz tempo não está dentro dele, “desde que viciou nas drogas. Já surtou, levei pra Sobral, Fortaleza, ficou internado lá”.

Exame de DNA

No período da manhã, ajuda a encilhar cavalos de passeio. À tarde fica em casa. Segundo a família, não saiu de casa por toda a noite de 24 de dezembro. Raimunda Veríssimo, a mãe, diz que a situação em frente de casa só acalmou quando saiu o resultado negativo para o DNA de Edinho junto aos restos mortais de Gaia Molinari. O rapaz voltou a sair de casa com certa tranquilidade.

“Pararam de vir aqui, ficar perguntando. Eu sofro muito. Eu ouvia as pessoas dizerem que era só ele sair de casa que iam fazer justiça”, diz a mãe. Mas nem tudo está resolvido. De acordo com a delegada Patrícia Bezerra, nenhuma das peças de alguma forma apontadas está descartada, uma vez que há exames ainda não concluídos, de modo que o próprio inquérito ainad está em andamento.

A Mirian e Edson incluem-se outros nomes que não foram revelados mas entram, para a Polícia, no rol de suspeitos de possível envolvimento.

Edinho deixa de repreender a mãe que tentava participar da conversa e admite que “tem problemas” na cabeça. “Mas não fui eu (que matei Gaia). A baladeira que encontraram lá era vermelha. Eu não usava vermelha. Era amarela. Eu não tenho nada a ver com isso aí”.

Emerson Rodrigues/Melquíades Júnior
Editor de Polícia/Repórter

Foto de Melquíades Júnior: “Mírian concede entrevista com exclusividade horas antes de embarcar para o Rio de Janeiro”.

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