Sobre a Bahia, seus linxamentos e confinamento racial

Nossa Gente não tá Nem Ai Para seu Carguinho, Seu Tutorial de Versinho, Seu Classificado de Editais e Sua Arrogância Acadêmica

Por Hamilton Borgesdos Santos (Walê), em Reaja nas Ruas

Escrevi dias atrás sobre a truculência das Rondas Especiais (Rondesp), seu caráter genocida, a forma com que zomba da vida e da dignidade humana. A Rondesp é uma polícia produtora e coletora de corpos pretos, agindo como uma ave de rapina que tem endereço certo. Sua forma de agir: nossos locais de moradia, nossas comunidades que nem sentem o cheiro das políticas públicas que essa gente perfumada tanto fala nas intermináveis conferências que se faz nos intervalos do circo eleitoral. Nossa gente vive sem a presença do Estado, com exceção do “ESTADO DE EXCEÇÃO” que a polícia incrementa.

A quem é endereçada a máquina de guerra do governo de Rui Costa, que é veemente na defesa do indefensável modus operandi de uma polícia baseada no confronto, enfrentamento e morte, que afasta de si o princípio da legalidade que o governador tanto reclama sem entender?  O Governo acha que nossa vida está em jogo. Jaques Wagner erigiu o baralho do crime inspirado nos ases do mal da guerra total americana. Rui trata sua polícia genocida como artilheiro num jogo de futebol. Tirar nossas vidas é um gol de placa: ele goza com os aplausos dos oficiais da policia mais violenta do Brasil.

Nós, pretos e pretas, moradores de bairros populares, maconheiros, analfabetos e semianalfabetos, ex-detentas e mulheres de detentos, de detentas e ex-detentas, ex-presidiários, professoras, advogados, dentistas, trabalhadores braçais, uma imensidão de gente que sente rugir nas hemácias, no sangue historicamente derramado, o solavanco do colonialismo engendrado pelas falácias políticas de um governo de supremacia branca no Estado mais negro do Brasil somos, na visão desse governo, inimigo a ser abatido e eles, os brancos de todas colorações ideológicas, não poupam as escritas legais para justificar esse massacre. Os argumentos do governador sobre se tem ou não passagem, a rendição do Ministério Público Estadual aos apelos do governo, a hipocrisia de ativistas esquizofrênicos entre seus salários para nos amaciar nas ruas e invisibilizar nossa luta e enfrentamento criam um caldo em que não podemos mergulhar: Não é tudo misturado. Precisamos separar nós dos traidores.

A nossa dor sai do tambor das armas dos soldados  que os debatezinhos sobre CONSEG (Conferencia de Segurança Publica com Cidadania) ou a colaboração no PRONASCI fizeram girar. Os cúmplices desse escândalo moral tentam tatear uma ideia de que fazem seu papel ao lado do inimigo, mas todas e todos sabemos a quem servem esses boçais, silenciosos na sombra da casa grande. Que faturem seus salários e aprovem seus projetos, mas não em nosso nome. Somos um Movimento de Maioria Negra filiadas e filiados a 4ª Internacional  Panafricanista.

Nesse momento de profunda dor, choramos a morte dos abatidos no Cabula. Mas também dos abatidos ainda no Viradouro em Cachoeira, no Beiru, na Liberdade, Vitória da Conquista e em toda essa Bahia mergulhada em sangue. Não esquecemos dos corpos tombados durante a eleição passada e sabemos quem se calou e entrou em crise com a Reaja para eleger o que está aí.

“VOTO NEGRO CONSCIENTE, RUI, OTTO E DILMA PRESIDENTE!”

A Reaja não se comove com esse choro hipócrita que não faz nada além de se lamentar na internet. A Reaja segue com os familiares de vítimas que estão ameaçadas por policiais, policiais estes que nos ameaçam em rede social. Somos ameaçadas diuturnamente, através das redes sociais, telefones e no corpo a corpo. Queremos proteção pra todo mundo e agora e não uma viagem confortável a Brasília pra resolver nosso problema pessoal.

Já nos acusaram de Messias do Arrebento, dando a entender que nossa tática seria sazonal e que se perderia no limbo da cooptação ou no universo pomposo das palestras, encontros e coquetéis. Disseram que queríamos “nos aparecer” com nossa abordagem contundente sobre o escárnio que vivemos. Até aqui seguimos, já anunciamos nosso silêncio por não vermos mais sentido em cobrar do Estado o respeito a nossa dignidade. Mas somos chamados por nossas comunidades, ocupadas pelos poderio militar que muito preto e preta de mercado ajudou a construir. Nossa gente nos chama para ser o muro de contenção nas manifestações justas que o tempo exige. Temos um comando que vem das ruas, somos o comando com nossas bandeiras pretas e nossas falas sem cabrestos. Não submetemos nossas dores ao calendário político-eleitoral. Nosso tempo de luta é agora e diante de tanta dor, sofrimento, sangue, corpos negros no chão, famílias negras sofrendo e chorando não podemos adiar nossa disposição de luta e mobilização a contento dos interesses diversos, se não do nosso povo.

A conjuntura nos pede para prosseguir, organizar na base, refletir os rumos que devemos tomar daqui pra frente, proteger-nos dos ataques que disferem contra nós. Articular com irmãs e irmãos pelo mundo e com quem reconhece nossa luta cotidiana sem massagens. Agradecemos aos amigos e amigas que nos apoiam nessa dura jornada. Repudiamos quem ainda espera nos jogar nos ostracismo. Nossa visibilidade se dá pela imprensa branca da Bahia e pela impressa negra e de combate do Brasil. Criar invisibilidade sobre o nosso sacrifício é nos chamar de inimigos. Inimigos da Reaja, da ASFAP e da Assiciação de Familiares de Vítimas do Estado racista brasileiro, núcleos que formamos e que se preparam nas vilas, favelas e presídios para seu grande pulo.

Escrevemos sobre a Rondesp e seu longo rosário de execuções e mortes. Agora falamos de nossos mortos, honramos nossos mortos chamando-os para que nos acompanhem nessa jornada por justiça. Nossos mortos deixaram suas mães, irmãs, irmãos, pais e avós sangrando na Bahia. Foram vítimas de um linchamento secular que nós combatemos e agora vamos gritar seus nomes.

Tributo a Negro Blul e aos mortos da Vila Moisés

Contra o Genocídio do Povo Negro Nenhum Passo Atrás

Foto: II Marcha contra o genocídio do Povo Negro

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ney D’dãn.

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