Capitalismo real: Em 2016, 1% da população mundial terá mais que o resto

Diário Liberdade

São previsões da organização não governamental Oxfam Intermón no seu relatório “Riqueza: ter tudo e querer mais”. O estudo sai à luz antes da próxima reunião anual do Forum Econômico de Davos, que reúne a elite econômica mundial nessa cidade suíça.

Os dados e previsões difundidos por Oxfam são contundentes: daqui a um ano, o aumento das desigualdades levará o mundo capitalista atual a que 1% das pessoas mais ricas tenham maior riqueza do que as restantes 7.000 milhões de habitantes do planeta.

A crise tem aumentado nos últimos anos a fenda da desigualdade, enriquecendo os mais ricos, com destaque para os setores farmacêutico, financeiro e de seguros, em uma concentração da riqueza sem precedentes na história humana.

70 milhões de pessoas formam esse 1% de elite mais rica do mundo cujo acúmulo de riquezas não deixa de crescer face ao empobrecimento da maioria. Concretamente, 50% da riqueza do planeta estará em breve em mãos desse grupo de grandes capitalistas.

No relatório, difundido hoje mesmo, afirma-se que 20% dos milmilionários que aparecem na lista Forbes de 2014 têm interesses nos setores financeiro e de seguros. Além disso, essa mesma percentagem viu como o valor de sua fortuna aumentava 11% nos doze meses anteriores a março de 2014, quando se publicou a lista. No entanto, entre 2013 e 2014 a riqueza que experimentou um maior incremento foi a dos milmilionários que, segundo a lista Forbes, têm interesses ou desenvolvem atividades nos setores farmacêutico e de atendimento sanitário.

Ambos setores (farmacêutico e da saúde) gastaram em lobby uns 500 milhões de dólares, o que permitiu aos milmilionários com interesses nestes âmbitos incrementarem a sua fortuna em 47% no último ano.

A organização assistencial que realizou o estudo considera necessário situar a luta contra a desigualdade como “objetivo internacional”. Propõe também um “esforço fiscal justo e euqitativo”, aumentando a carga tributária do capital. O freio à evasão e à fraude fiscal das grandes empresas são outras propostas, dentro de uma conceção reformista que não põe em causa o próprio sistema capitalista.

A defesa de serviços públicos gratuitos e universais, a fixação de salários mínimos e o apoio específico às mulheres, especialmente prejudicadas pelo injusto sistema capitalista, são outras indicações da ONG Oxfam, assim como a defesa de sistemas de proteção social “adequados” para as pessoas mais pobres, incluindo sistemas de garantia de rendimentos mínimos.

Nada se diz no estudo, de resto, sobre a intrínseca tendência do capitalismo, a nível histórico, para a acumulação de capital como objetivo fundamental. O alargamento do mercado e a progressiva submissão dos valores de uso aos valores de troca, num quadro de relacionamento capital trabalho baseado na relação de extorsão salarial, constitui a única via para garantir o incremento das mais-valias e taxas de lucro por parte da classe dominante e exploradora. Uma lógica sistêmica de crescente expropriação de força de trabalho que conduz inevitavelmente para a desigualdade.

A experiência histórica e as projeções futuras indicam que não há reforma “humanizadora” possível do sistema e que a lógica capitalista mundializada só pode ser retificada quebrando e ultrapassando o próprio capitalismo como sistema histórico.

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