A Lei de Barros: “Na política é permitido mentir e enganar”, por Alceu Castilho

Existe ética na política? Sim, mas uma ética diferente. Por exemplo: vale enganar, mentir. Pelo menos é o que diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, nesta entrevista ao Estadão que passou despercebida: Levy é um ‘diabo’ mais inteligente.

A repórter pergunta sobre a adoção, pelo governo Dilma Rousseff, da política econômica do PSDB, a qual ela se opôs durante a campanha. Resposta do economista tucano (em defesa de Joaquim Levy):

– É aí que vem o meu cinismo. Eu aprendi uma coisa com Sérgio Motta (falecido ex-ministro das Comunicações), no tempo em que trabalhamos juntos no governo de Fernando Henrique. A política tem um código de ética diferente. Na política é permitido mentir e enganar. Todo mundo faz isso. Evidente que há certos limites. Mas Sérgio dizia: não há um linha ética na política, há uma faixa ética. Aquilo que para nós, cidadãos comuns, ou é ético ou não é ético – não tem outra opção –, na política é diferente.

Então vamos lá. “Todo mundo mente e engana”. Isso explicaria, por exemplo, a promessa do governador Geraldo Alckmin de que não haveria racionamento de água em São Paulo. E estamos em pleno racionamento. Do outro lado, o candidato derrotado, do PT, diz que houve estelionato eleitoral. Pela Lei de Barros, ou Lei de Motta, não houve. Porque “é permitido mentir e enganar”.

A tese não é nova. Sem as palavras mentira e enganação, o tucano e professor de filosofia José Arthur Giannotti já dizia isso, nos anos 90, em plena era FHC. Há uma ética, adiantava ele, em artigo na Folha (cito de memória) e uma ética na política.

Digamos que isso fosse admissível. A questão é a seguinte. Numa eleição, vale qual ética? Se vale essa ética paralela, do vale-tudo, então, por extensão, temos em toda a sociedade uma ética do vale-tudo. Desde que a população fique sabendo – e chame para si todo o cinismo embutido na decisão eleitoral. Resta saber se é esse o mundo que queremos. Todo-mundo-mente-para-todo-mundo e todo-mundo-engana-todo-mundo.

Se, ao menos na eleição, não vale essa ética peculiar da política, ocorre uma violência – dos mais fortes para os mais fracos. Que os deputados, presidentes e governadores se esfaqueiem nas costas em seu mundinho é uma coisa – em si, já extremamente questionável. Agora, em se tratando de eleições, de compromissos firmados com toda uma população, temos, sim, um estelionato.

Ou vários, simultâneos. Com distribuição farta em partidos de diferentes cores ou plumagens. E, se é assim, o cinismo não é só restrito aos políticos, como diz o Mendonça de Barros. Mas a todos que, cientes dessa ética paralela, dessa paraética, dessa pseudoética, faz discursos apaixonados em relação a esses políticos e partidos. E discursos (pseudo)indignados, exclamativos, absolutos.

Isso inclui a imprensa. E também os militantes virtuais.

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