Fim da Amazônia prejudicaria agricultura de EUA e China

gráfico fim da Amazônia e clima

Folha/Quarto Poder

Se a Amazônia fosse desmatada por completo, os problemas climáticos que a ausência da floresta causaria para a agricultura seriam sentidos nos Estados Unidos ou até mesmo a China, afirma um novo estudo.

No trabalho, que integra as simulações digitais sobre o clima global realizadas na última década, a climatologista Deborah Lawrence, da Universidade da Virgínia (EUA), delineia pela primeira vez um cenários sobre como seria o planeta sem as grandes florestas tropicais.

Além de simular como seria a destruição da Amazônia, a cientista americana também considera o que aconteceria se as florestas da bacia do Congo e do Sudeste asiático fossem completamente desmatadas.

“Para todas as grandes florestas devastadas, impactos seriam sentidos muito longe”, diz Lawrence. Esses efeitos, chamados pelos cientistas de “teleconexões”, fariam o desmatamento da Indonésia, por exemplo, afetar a Turquia, ou desmatamento do Congo afetar a França.

“Muitos estudos diferentes dizem que o Meio-Oeste dos EUA, onde nós americanos produzimos nossa comida, pode sofrer, com a destruição da Amazônia”, afirma.

Além de causar problemas como secas prolongadas ou tempestades, um planeta desmatado teria uma cota extra de aquecimento global, diz a cientista. Por causa do desequilíbrio no ciclo hidrológico global, o planeta ficaria 0,7°C mais quente em média –sem contar o aquecimento que seria causado por todo o CO2 emitido pelas áreas desmatadas. Isso equivaleria a todo o aquecimento verificado desde 1850.

“Evaporação nas florestas captura uma parte da radiação solar na forma de um calor latente, que é transportado acima até a troposfera, e então liberado a cerca de 5 km de altitude”, explica Anastassia Makarieva, do Instituto de Física Nuclear de São Petersburgo (Rússia).

“Se a floresta é destruída, há menos evaporação, e parte maior da energia solar se converte em radiação emitida para a superfície da Terra.”
Desmistificando a ideia de que a Amazônia seria o “pulmão do mundo”, Lawrence afirma que ela está mais para “glândula sudorípara” do mundo, porque refresca o planeta por evaporação.

BOMBA BIÓTICA

Makarieva descreveu, ao lado do físico Victor Gorshkov, alguns dos fenômenos simulados nos novos modelos de computador. Notadamente, a dupla consolidou o conceito de “bomba biótica”, o mecanismo pelo qual florestas puxam umidade do oceano para dentro dos continentes.

Alterações nesse fenômeno, diz Lawrence, acabam eventualmente perturbando também os padrões globais de circulação atmosférica, e daí começariam a aparecer as teleconexões climáticas.

Cientistas como Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, defendem que esse tipo de problema já está ocorrendo, e que a seca paulista está ligada ao desmate na Amazônia.

Modelos climáticos, porém, indicam que isso só começaria a surgir a partir de 40% de desmatamento da floresta (hoje está em cerca de 20%). “Acho que é possível, mas não apostaria minha vida nisso”, diz Lawrence. (FSP)

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Lara Schneider.

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