“É uma expressão de poder utilizada na tortura”, diz Maria do Rosário sobre agressão de Bolsonaro

Bolsonaro repetiu agressão dirigida a Maria do Rosário em 2003 | Foto: Tânia Rêgo/ABr
Bolsonaro repetiu agressão dirigida a Maria do Rosário em 2003 | Foto: Tânia Rêgo/ABr

Samir Oliveira – Sul21

Na tarde desta terça-feira (9) o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse, na tribuna da Câmara, que só não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merece. Trata-se da segunda vez que o parlamentar do PP agride a petista com esse tipo de discurso – a primeira foi em 2003, quando ambos também eram congressistas.

Ex-ministra dos Direitos Humanos do governo Dilma Rousseff (PT), Maria do Rosário cobra ações efetivas da Câmara dos Deputados contra os discursos de ódio proferidos por Bolsonaro. “O que me incomoda profundamente é a atitude da instituição. Eu não quero solidariedade, eu quero uma atitude. Eu vim aqui para trabalhar, prefiro que as pessoas cobrem da instituição que essas posturas não aconteçam mais”, disse a deputada em entrevista ao Sul21.

Ela afirma que ainda está analisando as medidas que seu mandato irá tomar contra o parlamentar do PP, mas se mostra descrente quanto à possibilidade de ele responder dentro da Câmara por seus discursos de ódio. “É um absurdo, não é a primeira vez que isso acontece, mas em todas as vezes o Parlamento deixou assim”, lamenta.

A deputada afirma que o discurso de Bolsonaro agride mulheres diariamente e recorda que o estupro foi uma forma recorrente de tortura utilizada contra as prisioneiras durante a ditadura militar – cujos governos o deputado também defende. “O que me deixa especialmente indignada e, ao mesmo tempo, entristecida, é que as expressões utilizadas por ele promovem a violência. É uma expressão de poder utilizada nas estruturas de tortura, muitas mulheres foram torturadas com violência sexual. Quando ele está dizendo que eu não mereço ser estuprada, ele quer dizer que alguém merece?”, questiona.

Em seu perfil no twitter, a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) informou que seu partido irá ingressar com uma representação contra Bolsonaro no Conselho de Ética da Câmara. Ela também lamentou a impunidade contra discursos e práticas machistas no Parlamento. “Ele agride as mulheres e se empodera pelas recorrentes absolvições”, disse.

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) disse, através de seu perfil no Facebook, que “a Corregedoria e o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados não podem mais tolerar os abusos deste deputado viúvo da ditadura militar”.

No RS

Em nome da bancada do PT na Assembleia Legislativa, o deputado Valdeci Oliveira repudiou a manifestação feita pelo deputado Bolsonaro , classificando-as de absurdas, vis e antidemocráticas. “Ao afirmar que só não estupraria a ex-ministra dos Direitos Humanos porque ela não merece, Bolsonaro deveria ser processado por quebra do decoro parlamentar e incitação à violência”, entende o líder petista.

“É uma barbaridade que um parlamentar diga isto”, frisou, ressaltando que Bolsonaro repete afirmações e atitudes feitas por ele nos corredores do Congresso Nacional em 2003, contra Maria do Rosário e a a própria presidenta Dilma Rousseff, por estas terem criticado a ditadura militar. “Estimular a violência e o estupro é demais, ultrapassa qualquer limite. O Congresso tem que punir este cidadão; ele não pode, na tribuna daquela Casa, ter atitudes machistas, retrógradas e insanas como esta”, vaticinou, ao defender uma representação criminal contra Bolsonaro.

´”E vergonhoso ver um deputado federal utilizar a tribuna para afirmar que temos o dia internacional da vagabundagem porque os direitos humanos, no Brasil, só servem para defender bandidos, marginais, sequestradores e corruptos. Esta postura é absurda, autoritária, exige um grande movimento de homens, mulheres e todos que defendem uma sociedade mais justa, sem discriminação ou preconceitos”, concluiu.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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