Depois de ataque previamente anunciado ocorrer, Polícia Federal chega à comunidade Kaiowá e Guarani

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Renato Santana – CIMI

O Tekoha – lugar onde se é – Tey’Juçu, dos Kaiowá e Guarani, altura do município de Caarapó (MS), foi mais uma vez atacado na tarde desta terça-feira, 9, por homens armados em caminhonetes. A ofensiva, todavia, não apanhou a comunidade de surpresa. Pela manhã, um sujeito identificado pelos indígenas como proprietário da Fazenda Burana os informou por telefone que seriam atacados entre 14 e 15 horas. A ameaça teria sido a reação do latifundiário diante da negativa das lideranças Kaiowá e Guarani em aceitar uma quantia não especificada de dinheiro para que saíssem da área.

Após o ataque, a Polícia Federal chegou ao Tey’Juçu. De acordo com os indígenas ouvidos pelo Cimi, o bando armado não atacou ninguém da comunidade, mas destruiu tudo o que viu pela frente. O acampamento Kaiowá e Guarani foi posto abaixo. Diferente do que ocorreu nesta segunda, 8, perto do final da tarde, quando grupo armado – os indícios apontam que seja o mesmo desta terça – invadiu o tekoha empoleirado em caminhonetes e a tiros tentou expulsar a comunidade do lugar.

Para ter acesso ao local onde se encontra a sede da fazenda é preciso passar por uma estradinha de terra que cruza com o acampamento eguido pelos Kaiowá e Guarani no tekoha – destruído pelos pistoleiros. Nesta posição estão os indígenas. A estratégia deles foi montar uma barreira na estrada. Cerca de 200 metros à frente deles, sob árvores frondosas, o bando ligado aos latifundiários fica se protegendo do sol, à espreita. Quem esteve por lá na tarde desta terça-feira, conforme apurou a reportagem, pode ver cerca de 35 caminhonetes paradas e os pistoleiros aninhados no sopé da árvore.

“Entramos na área por um outro caminho, desviando de Caarapó. De fato o clima está muito tenso. São perto de 35 caminhonetes e homens armados sob árvores. A Funai estava lá, portanto não pode dizer que nada estava acontecendo”, afirma fonte que não identificamos por razões de segurança.Ainda de acordo com a fonte, nas árvores dentro do círculo preto (fotos ao lado) estavam os capangas armados.

Inversão

Por intermédio de portais sul-mato-grossenses na internet, latifundiários plantadores de soja, e que se dizem proprietários de fazendas incidentes no território tradicional, se anteciparam na manhã desta terça, invertendo os fatos: os indígenas é que teriam atacado o grupo deles quando para lá se dirigiram para ver o que estava acontecendo. Um deles declarou ter sofrido emboscada no último domingo, dia em que os Kaiowá e Guarani retomaram área do tekoha. Por fim, reclamaram que foram até a Força Nacional pedir apoio, mas os agentes afirmaram que só Brasília poderia autorizá-los a atuar.

“Um absurdo completo. Como pode uma comunidade pequena, com muitas mulheres e crianças, atacar um bando com mais de trinta caminhonetes, fortemente armado¿ Quando que nosso povo foi pego fazendo emboscada, indo pra matar fazendeiro¿ Quem é assassinado é a gente, quem passa fome é a gente, quem vive nas beiras das estradas é a gente, os filhos que morrem de fome são os nossos”, defende Otoniel Guarani Kaiowá.

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