Barragens e Histórias que se repetem

índio olhando barragemPor Clovis Horst Lindner

“Por que só fazem barragem onde tem indígena?”, foi a pergunta fatal de um cacique no seminário da FURB “O Outro Lado da Barragem Norte”, no dia 25 de novembro. E ele fez uma lista de realidades onde a história deles, em José Boiteux/Ibirama, se repete Brasil afora. Uma das três barragens do complexo erguido nos anos 1980 para resolver o problema das enchentes no Vale do Itajaí, a Barragem Norte só traz problemas para a terra Xokleng Laclãnõ.

Os problemas são enormes e não vou arrolá-los aqui. Ficou claro para todos que, além de ser um problemão, essa barragem é um crime. “Poderia ser qualificada como genocídio pelas leis da Corte Internacional de Justiça”, disse um professor da UFSC. “Deviam derrubar a barragem”, ele provoca.

Minimizando, um velho cacique contemporizou: “Não somos contra a barragem! Queremos só o nosso direito!”.

Mas eu sou contra a barragem! Porque ela custou uma fortuna, faz 30 anos que só traz problemas, é fonte de uma guerra entre brancos e indígenas e não resolveu o principal problema do Vale do Itajaí, que é a questão das cheias. Faz 30 anos que as três barragens estão em operação e as catástrofes movidas a chuva só fizeram aumentar no nosso querido Vale. Essa barragem é uma pedra de tropeço, nada mais!

E ainda tem gente defendendo mais obras para que, finalmente, nos livremos das enchentes e dos deslizamentos. “Uma grande bobagem”, protestam os ambientalistas. “Obras estruturais não vão resolver os problemas de cheias no Vale”, insiste há anos o ambientalista Lauro Eduardo Bacca. Para ele, não adianta erguer barragens se não cuidamos das florestas.

Todos sabem que o nosso volume de chuvas é regido pelo gigantesco rio aéreo sobre nossas cabeças, a Zona de Convergência do Atlântico Sul. É o Rio Amazonas aéreo, que tem mais água do que aquele que corre na Amazônia. E esse rio, senhores “especialistas” e construtores de barragens, está bem revolto e confuso. Sabem por quê? Porque ninguém bota um freio no desmatamento do nosso maior patrimônio ambiental, a Floresta Amazônica.

Removam a Floresta na Amazônia e vamos ter um caos climático aqui no sul. E não haverá barragem capaz de conter as muitas e muitas enchentes que virão. Aliás, ninguém mencionou isso no Seminário da FURB: a Barragem Norte é um crime ambiental gravíssimo! Se este dinheiro tivesse sido investido em preservação ambiental, teríamos menos catástrofes naturais. Mas como ninguém acredita nisso e obras estruturais rendem votos e propinas, nada vai mudar.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Patira Ferreira.

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