Alunos protestam após declarações preconceituosas de professor, no ES

Manifestantes fazem roda na Ufes em protesto contra racismo (Foto: Viviane Machado/ G1 ES)
Manifestantes fazem roda na Ufes em protesto contra racismo (Foto: Viviane Machado/ G1 ES)

Com cartazes, jovens caminharam pela Ufes e foram até a reitoria. Alunos denunciaram professor por dizer que tem ‘preferência por brancos’

Viviane Machado – Do G1 ES

Alunos fizeram uma manifestação na tarde desta quarta-feira (5), dentro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), motivada pelas declarações preconceituosas de um professor de Economia da instituição, Manoel Luiz Malaguti. Com cartazes e gritando palavras de ordem, os jovens caminharam pelo campus de Goiabeiras, em Vitória, e chegaram a interditar os dois sentidos da Avenida Fernando Ferrari durante alguns minutos. O Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Ufes informou que o educador foi afastado das aulas com a turma que presenciou as declarações, para que não haja mais desgaste.

Segundo um grupo de alunos, a discussão começou durante uma aula de Introdução à Economia Política, nesta segunda-feira (3), na turma do segundo período de Ciências Sociais. Na ocasião, Malaguti teria feito afirmações preconceituosas. Os estudantes contaram que ele disse que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”. A declaração foi negada pelo educador, mas ele afirmou a preferência por um profissional branco.

A manifestação desta quarta-feira, denominada “Ato contra o racismo na Ufes”, foi um evento mobilizado nas redes sociais. Os jovens caminharam pelo campus de Goiabeiras, em Vitória, foram para a reitoria e em seguida interditaram os dois sentidos da Avenida Fernando Ferrari, por alguns minutos. A via foi liberada às 17h33. Depois, eles foram para a frente do Teatro Universitário e fizeram uma grande roda.

O universitário Leonardo Muniz, que participou da manifestação, contou que é da turma que presenciou as declarações. Ele disse que essa não foi a primeira afirmação preconceituosa do professor.

“Fizemos esse ato para mostrar para os jovens negros que o preconceito existe não somente na Ufes, mas em todas as universidades do país. A luta é para que se institucionalize o ensino da cultura negra no ensino básico”, disse.

A chefe do departamento de Economia da Ufes, Ana Carolina Gilberti, explicou que foi feito um manifesto, disponibilizado na internet. “Não aceitamos posição racista no nosso departamento e estamos à disposição das instâncias responsáveis”, falou.

Alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) denunciaram um professor de Economia por ter dito frases de caráter racista e preconceituoso durante uma aula, na tarde desta segunda-feira (3). De acordo com uma publicação feita pelo Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais da Ufes em uma rede social, o professor teria dito que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”, por exemplo. Cartazes com a foto do mestre e com o título “Professor Racista” estão espalhadas pelo campus.

“Ele disse que os negros e pobres não tinham acesso à cultura, deixando claro que eles não atingiram o nível cultural dos brancos. Em seguida afirmou: ‘Estudantes cotistas diminuem a qualidade da universidade. Eu detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro’”, relatou uma aluna de 19 anos.

Em entrevista ao Gazeta Online, o professor negou ter dito que “detestaria ser atendido por um negro”, mas reafirmou a escolha por um médico branco, caso tivesse que optar entre um esse profissional e um, de mesmo currículo, só que negro. “Em função da possibilidade estatística de esse médico branco ter tido uma formação mais preciosa, mais cultivada, eu escolheria o médico branco. Mas eu disse isso como um exemplo do que a sociedade faz”, falou Malaguti.

Apesar de confirmar a afirmação, o professor disse não ver qualquer tipo de preconceito em sua fala. Segundo ele, a explicação é “biológica e genética”. “Há uma dificuldade muito grande de se livrar desses conceitos e preconceitos que tem uma família desprivilegiada, sem acesso à cultura, à literatura, a outros idiomas e a meios de comunicação sofisticados. Obviamente, essas famílias terão maiores dificuldades de enfrentar um curso universitário naquilo que ele se propõe. Então, há uma maior dificuldade do cotista negro, o que não quer dizer que ele é inferior”, destacou.

Ufes
Segundo a Ouvidoria da Ufes, a denúncia recebida nesta terça-feira (4) contra o professor que teria pronunciado afirmações de caráter racista e preconceituoso em sala de aula foi encaminhada no mesmo dia ao diretor do Centro de Ensino onde o professor trabalha, que já instalou uma sindicância para analisar o caso. A comissão de sindicância tem um prazo de 90 dias para concluir a apuração dos fatos e, se as denúncias forem comprovadas, o resultado da sindicância será encaminhado à Reitoria para a abertura de um inquérito administrativo.

Segundo informações já publicadas por meio de portarias, no período de 2010 a 2014, o professor respondeu a quatro processos administrativos, com punições que variaram de pagamento de multa a suspensão disciplinar por um período de 30 dias. As portarias não informam o que motivou a abertura dos processos.

Desembargador
Depois de acompanhar na imprensa o relato dos alunos, o desembargador Willian Silva entrou com uma representação criminal junto ao Ministério Público Federal (MPF/ES), nesta terça-feira (4). De acordo com o magistrado, a fala de Manoel Luiz Malaguti configura crime de injúria racial, com base no artigo 140 do Código Penal.

O desembargador ainda afirmou que, a partir do momento em que o professor fez a declaração, ele colocou o negro em condição de inferioridade. “Eu peguei o jornal e li a afirmação de que ele ‘detestaria ser atendido por um médico negro’. Por causa disso, entrei com a representação. Eu, como negro, me senti ofendido e parte legítima para acionar o MPF”, falou Silva.

O Ministério Público Federal (MPF/ES) informou que recebeu a representação criminal e instaurou procedimento investigativo que vai apurar a conduta de professor.

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