Brasileiras dizem que viveram “inferno” em cadeia da Venezuela

As bandeiras marcam os limites da fronteira do Brasil com Venezuela (Foto: Jorge Macêdo)
As bandeiras marcam os limites da fronteira do Brasil com Venezuela (Foto: Jorge Macêdo)

Cora Gonzalo, de Pacaraima (RR) e Andrezza Trajano, de Boa Vista (RR) – Amazônia Real

As duas brasileiras que ficaram presas por 59 dias numa cadeia da Venezuela, por acusação de contrabando de alimentos, chegaram no sábado (25) ao Brasil após uma viagem de 700 quilômetros de Puerto Ordaz, no Estado de Bolívar. Na cidade brasileira de Pacaraima, as irmãs Lucineide de Sousa Silva, 28, e Luciana Pereira da Silva, 24, afirmaram à reportagem da agência Amazônia Real que viveram um “inferno” no presídio feminino.

Na sexta-feira (24), a Justiça da Venezuela concedeu a liberdade às duas brasileiras. Elas foram notificadas que terão que se apresentar a cada 30 dias na Delegacia Policial de Santa Elena de Uairén, na fronteira com Pacaraima, distante a 215 quilômetros de Boa Vista (RR), onde moram com a família.

“No dia da nossa prisão os militares do Exército da Venezuela viram meu peito vazando leite, pois eu estava amamentando meu filho, e nem por isso se sensibilizaram. Lá dentro da cadeia tinha muita briga entre as presas. Sentimos muito medo. Fiquei doente, passaram 20 dias para me levar ao médico. Dormimos no colchão feito animais. Aquele lugar é um inferno. Nossa vontade é nunca mais pisar naquele país”, afirmou Lucineide de Sousa Silva, mãe de um bebê, que ficou com a família em Boa Vista durante os quase dois meses de prisão.

Durante a entrevista em Pacaraima, Lucineide de Sousa Silva e Luciana Pereira da Silva não autorizaram ser fotografadas ou filmadas. Elas voltaram ao Brasil acompanhadas pelo advogado venezuelano, Nelson Antonio Páez Castro. Ele disse à reportagem da agência Amazônia Real, que as irmãs foram libertadas após admitirem o crime de contrabando. “Elas tiveram que se declarar culpadas, assim, não irão a julgamento. Vão se apresentar no Centro de Coordenação Policial de Santa Elena de Uairén durante cinco anos”, afirmou o advogado.

As duas irmãs brasileiras foram presas no dia 25 de agosto por militares do Exército venezuelano em Santa Elena do Uairén, na fronteira com Pacaraima. Elas transportavam mercadorias que tiveram a venda proibida por decreto do presidente Nicolás Maduro. Depois foram transferidas para uma delegacia em Puerto Ordaz e, em seguida, à cadeia feminina em San Félix, também no Estado de Bolívar.

O decreto de Maduro proibiu a venda para exportação de 21 alimentos da cesta básica, entre eles, arroz, feijão, café, óleo, margarina, açúcar, além de produtos da higiene pessoal, medicamentos, materiais escolares e da construção civil.

O objetivo da medida é combater o contrabando nas fronteiras com o Brasil e a Colômbia e diminuir a escassez de alimentos aos cidadãos venezuelanos. O decreto pune quem descumprir a lei com prisão de seis meses a 14 anos. Mais de 800 venezuelanos estão presos por causa da legislação do país.

O medo de novas prisões por causa do decreto de Maduro, também chamado de Lei de Preços Justos, provocou impacto negativo no turismo de brasileiros ao país. Os brasileiros buscam o comércio de Santa Elena do Uairén porque encontram produtos até 300% mais baratos que no Brasil.

Denúncia de tentativa extorsão

O advogado Nelson Antonio Páez Castro disse que as duas brasileiras foram vítimas de tentativa de extorsão durante a prisão por militares do Exército da Venezuela. Ele denunciou o caso à Justiça do país vizinho. “Os militares do Exército queriam R$ 3 mil para deixá-las seguir viagem, mas como elas não tinham dinheiro, pois já tinham gastado nas compras, foram levadas para o quartel”, afirmou Nelson Páez.

Sobre o decreto do presidente Nicolás Maduro, que proibiu a venda de produtos da cesta básica na chamada Lei de Preços Justos e que já prendeu mais de 800 pessoas no país, o advogado venezuelano, Nelson Antonio Páez Castro, disse que era inconstitucional. “O decreto é inconstitucional. O governo está passando por cima de vários acordos internacionais. Pessoas inocentes não podem ser tratadas como criminosas”, afirmou.

A reportagem não localizou neste domingo (26) funcionários do Consulado da Venezuela em Boa Vista (RR) para comentar as declarações do advogado Nelson Páez.

Em matéria já publicada pela agência Amazônia Real, autoridades do Brasil afirmaram que denúncias de extorsão e abusos de policiais venezuelanos contra brasileiros devem ser denunciados na sede da Receita Federal na cidade de Pacaraima, em Roraima.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.