Projeto GATI apoia ações de extrativismo e recuperação ambiental na TI Xakriabá

Ritual Xakriabá, durante abertura da oficina na aldeia Caatinguinha. Foto: ©Carlos Ferraz/Projeto GATI
Ritual Xakriabá, durante abertura da oficina na aldeia Caatinguinha. Foto: ©Carlos Ferraz/Projeto GATI

Entre os meses de agosto e setembro, a Associação Indígena Xakriabá da Aldeia Barreiro Preto (AIXBP) juntamente com Projeto GATI (Gestão Ambiental e Territorial Indígena – GEF/PNUD/Funai) e parceiros iniciaram as atividades da iniciativa “Fortalecimento do Extrativismo Tradicional Xakriabá nas áreas de Cerrado e Caatinga da TI Xakriabá”. A ação visa promover a valorização do conhecimento tradicional indígena de extrativismo para o uso e produção sustentável de produtos florestais não madeireiros das áreas de Caatinga e Cerrado na TI. Visa também a promoção da segurança alimentar e nutricional Xakriabá e ao mesmo tempo, incentiva a geração de renda, facilitando o acesso dos produtos indígenas ao mercado.

A iniciativa é executada pela AIXBP e tem apoio técnico, logístico e financeiro do Projeto GATI, do Centro de Agricultura Alternativo do Norte de Minas Gerais (CAA), da Coordenação Regional Minas Gerais e Espírito Santo/Funai e Coordenação Técnica Local de São João das Missões/Funai e do Programa Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-Ecos) administrado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

AS OFICINAS DE DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO

O primeiro passo inicial da iniciativa aconteceu em junho, a partir de um calendário de ações, definido em junho durante a primeira reunião de mobilização (saiba mais). Em agosto foram realizadas as oficinas de diagnóstico participativo do extrativismo Xakriabá, nas aldeias Barreiro Preto, Caatinguinha, Vargens, Sumaré e Peruaçu. Participaram da oficina cerca de 150 pessoas, dentre elas: pajé, grupos de cultura, comunidade escolar, AIS, lideranças e membros das associações indígenas.

Durante as oficinas os Xakriabá elaboraram mapas mentais dos ecossistemas da TI onde foram destacados os pontos de coleta de frutos e remédios do Cerrado e da Caatinga. Esses mapas proporcionaram reflexão sobre o território, o extrativismo praticado e sua sustentabilidade.

Também construíram uma matriz, contendo as frutas consideradas mais importantes, tais como pequi, buriti, coquinho azedo, umbu, cabeça de nego, cagaita, cajuzinho e outras. A matriz também destacou espécies, período de florada e coleta, como, quem e onde coletam; equipamentos e estruturas usadas. Na ocasião, os Xakriabá definiram  os extrativistas responsáveis pela mobilização comunitária a fim de fazer coleta e beneficiamento dos frutos em seus períodos.

Na aldeia de Peruaçú em especial, foi feita uma breve apresentação e diálogo sobre o “Projeto Ações de Recuperação das Veredas da Aldeia do Peruaçu e do Fortalecimento do Agroextrativismo na aldeia Sumaré II”. O projeto foi recentemente aprovado no 19° edital do PPP-ECOS e tem como proponente a Associação Indígena Xacriabá Aldeias Sumaré II / Peruaçu. A sua elaboração técnica também foi via Projeto GATI. A iniciativa visa cercar 400 hectares de vereda na aldeia Peruaçu, para evitar o pisoteio do gado da região e com isso proporcionar a recuperação de uma importante área que se encontra degradada da TI Xakriabá. O projeto vai contemplar ainda um curso com os extrativistas da aldeia Sumaré II sobre manejo, produção, beneficiamento dos produtos extrativistas das veredas e apoiar a estrutura de uma mini usina de beneficiamento dos frutos.

Nessas oficinas também foram definidas estratégias para acessar o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Para isso, agendaram reuniões entre as lideranças Xakriabá com a Secretaria Municipal de Agricultura de São João das Missões e a diretoria das escolas da TI a fim de esclarecer dúvidas e estabelecer formas de apoio.

A OFICINA TRADUZIDA EM POESIA

Durante a oficina, a jovem Maiane Barbosa, escreveu e declamou uma poesia que reflete o processo de aprendizado e diálogo que todos presenciaram. Leia abaixo, na íntegra a poesia:

“Nesta oficina
Aprendi o que eu não sabia
Vou levar esta lição hoje e todo dia.
Agradeço a Deus
Por estar aqui
Aprendi sobre as frutas
E também sobre o pequi

Aqui na aldeia Caatinguinha
Tem frutos com fartura
Tem cagaita e umbú
Que dá pra fazer doce com rapadura

O pequi é um santo remédio
E também serve para alimentar
Dá pra fazer paçoca
Para nós povo Xakriabá
Nós estamos aqui com muita felicidade
Aprendendo sobre as frutas
E as suas utilidades

Os frutos da reserva
Devemos preservar
Faz parte da cultura
E do dia a dia dos Xakriabá
A cabeça de negro
Presta bastante atenção
Não rume pau nos galhos
Quando tá madura ele cai no chão

Quando chegar a colheita
É hora de conversar
Devemos mobilizar as pessoas
Para os frutos ir pegar
Agosto e setembro
A cagaita começa a florescer
Janeiro e fevereiro
Já é hora de colher

Quando for colher umbu
Basta apenas balançar
Pois maduro ele cai
Não precisa os galhos quebrar
Um grupo ficou definido para estas frutas coletar
Vamos fazer tantas coisas
E não podemos desperdiçar

Obrigada a todos
Por esta explicação
Aprendi muito e vou levar esta lição”.

Enviada para a lista CEDEFES por Pablo Matos Camargo.

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