Comissão da Verdade de SP faz audiência sobre Esquadrão da Morte

Bruno Bocchini – Repórter da Agência Brasil

 A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo – Rubens Paiva fez ontem (15) um debate sobre o Esquadrão da Morte paulista, que atuou de 1968 a 1971, durante a ditadura militar. Os especialistas ouvidos destacaram o papel do Estado na organização dos grupos de extermínio e a seletividade das vítimas.

“Se perguntarem para um rapaz que está no curso elementar [ensino médio], ele não sabe o que foi o Esquadrão da Morte. Ninguém sabe que o Esquadrão da Morte era um órgão do Estado. O Estado é que organizou os esquadrões para cumprir o papel de algoz da subversão”, ressaltou o jurista Hélio Bicudo, que atuou como procurador de Justiça no combate ao esquadrão.

Bicudo esteve à frente das investigações do grupo de extermínio formado por policiais civis no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970. Ele foi afastado do caso após um ano de atuação, por influência do governo do estado.

“Mas o que fizemos durante esse ano foi o bastante para mostrar quem era o Esquadrão da Morte. Depois disso, a atuação do esquadrão arrefeceu, e desapareceu da crônica judiciária”, destacou Bicudo.

“Quando começou a acontecer o encontro de cadáveres na periferia, minha primeira representação no Ministério Público foi parar em uma gaveta, desapareceu. ‘Você vai investigar porque você não vai encontrar nada, você vai se desmoralizar e não vai encontrar uma saída’, me disseram. O contrário aconteceu”, acrescentou. Entre os agentes da polícia descobertos como líderes do grupo está o então delegado Sérgio Paranhos Fleury. Ele morreu na madrugada de 1º de maio de 1979, em Ilhabela, litoral paulista.

Segundo a jurista, socióloga e pesquisadora do tema, Alessandra Teixeira, o Esquadrão da Morte de São Paulo, assim como o do Rio de Janeiro, agia de maneira sistemática: torturava, espancava, e executava, com rajada de tiros pelas costas, suspeitos e presos – que eram retirados das unidades prisionais. Os corpos geralmente eram abandonados nas periferias das cidades, mas não ocultados. As vítimas eram geralmente pobres e negros da periferia, ou opositores do regime em vigor.

“E isso foi institucionalizado a partir do momento em que essas pessoas não foram punidas. No Rio de Janeiro, o grupo de policiais que promovia os principais ataques foi efetivamente alçado a uma grande promoção. Eles passaram a ser chamados de os 12 Homens de Ouro e a receber melhores salários. Essa é a maneira como o Estado brasileiro abraçou esses abusos como política de Estado”, ressaltou.

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