Documentário sobre ameaçados de morte no campo será exibido durante festival em Goiânia

400_10550013_890456120983291_4871723986249071386_oO curta-metragem ‘Ameaçados’, dirigido por Júlia Mariano, será exibido nesta quinta-feira (9) no Teatro Goiânia, na capital de Goiás, durante a 14º edição do festival Goiânia Mostra Curtas. O documentário tem a produção da Osmose Filmes e Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ameaçados aborda a situação dos jurados de morte no estado do Pará

Elvis Marques, setor de comunicação da CPT

“No Brasil profundo, onde lei e justiça dependem de nome e sobrenome, a luta por um pedaço de terra vira uma questão de vida ou morte. Ameaçados mostra pequenos agricultores do sul e sudeste do Pará que lutam por um pedaço de terra para plantar e viver”, descreve a Osmose Filmes.

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Em agosto, o documentário foi exibido durante a 25º edição do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. Além disso, os participantes do festival colocaram o audiovisual entre os dez favoritos – categoria Brasil. Clique aqui e assista a um breve trecho do documentário apresentado no evento.

O Goiânia Mostra Curtas teve início no dia último dia 7 e segue até o dia 12 de outubro. A participação no evento é gratuita.  

Serviço

14º Goiânia Mostra Curtas – Documentário Ameaçados

Exibição acontece dia 09/10 (quinta-feira)

Onde: Teatro Goiânia – localizado na Avenida Anhanguera esquina com a Avenida Tocantins, Centro, Goiânia/Goiás.

Entrada gratuita

Mais informações: http://goo.gl/45saNJ

 

Ficha Técnica

Ameaçados

Pará, Brasil

2014 • cor • digital / 22 minutos • Documentário

Direção, roteiro e fotografia: Júlia Mariano
Produção: CPT (Comissão Pastoral da Terra) e Osmose Filmes
Produção Executiva: Júlia Mariano
Trilha Sonora: Tuzé de Abreu, Ricardo Luedy
Edição: Julia Bernstein
Contato: [email protected]

 

Confira abaixo a crítica de Pither Lopes sobre o curta:

Ameaçados: retrato de um povo perseguido

Por Pither Lopes – kinoforum.org.br/

Reinterpretar o novo mundo que à nossa frente se coloca, cada vez mais instável, hostil e inseguro, tornou-se como nunca essencial. A mídia globalizada, com seus crescentes processos de manipulação, não oferece as investigações, respostas e análises com a densidade necessária. A câmera jornalística, genérica e superficial, foi sequestrada pelos interesses dos conglomerados empresariais.

Nesse embate pelo novo front do olhar, o documentário, que se constitui a um só tempo escudo crítico e pausa reflexiva, vê-se como gênero eleito de primeira necessidade; uma linguagem que se revela inevitável à sobrevivência do espírito ético. Em Ameaçados, a diretora Julia Mariano se apropria com maestria dessa ferramenta cinematográfica para investigar a tragédia de um Brasil profundo, a história de sujeitos abandonados a própria sorte.

Figurando entre os favoritos do público na 25° Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, Ameaçados retrata o cotidiano de pequenos agricultores do sul e sudeste do Pará que lutam por um pedaço de terra para plantarem e garantirem sua subsistência. Lugar onde a lei está do lado dos poderosos, a luta pela sobrevivência e por um pedaço de terra virou questão de vida ou morte.

Para compor seu documentário, Julia optou por dar voz àqueles que não são ouvidos, aos marginalizados e perseguidos por um sistema opressor. A diretora construiu um retrato revelador e coerente do estado que registra 70% dos casos de trabalho escravo no Brasil e que possui o maior número de assassinatos no campo. O mesmo estado que em que foi assassinada a missionária Dorothy Stang, perseguida por fazendeiros porque defendia o uso sustentável da terra.

O documentário, que se utiliza de voz off e entrevistas, adquiriu uma estrutura certeira, abordando as questões mais caras ao tema. Além de trazer à tela a saga de trabalhadores vítimas de um sistema que controla pessoas e compromete a qualidade de vida de milhares de brasileiros, a cineasta parte para a denúncia das violações dos direitos humanos e da omissão do estado.

A intervenção do próprio poder público, tentando impor um modelo de desenvolvimento para essas regiões nas últimas décadas favoreceu grupos econômicos, pecuaristas, madeireiros e grandes mineradoras. Consequentemente, elimina e expulsa indígenas, quilombolas, trabalhadores e sem terras.

Para que o povo esteja presente nas telas, não basta que ele exista, é necessário que alguém faça documentários. E, mais que isso, estabeleça asserções sobre o mundo que é mostrado na tela. O cineasta alemão Wim Wenders gostava de dizer que “a política mais importante é aquela que fazemos com o olhar”. Em Ameaçados, Julia Mariano honra com esse compromisso, trazendo a tona uma história que permanece soterrada, fruto da alienação de boa parte dos brasileiros.

A exibição de Ameaçados na programação do festival acontece num ótimo momento para o Brasil. Em tempos de eleições, é preciso trazer para a pauta as discussões em relação ao equivocado modelo agrário do país, que concentra a maior parte da terra nas mãos de poucos. Para propor uma reforma agrária, é preciso contrariar os interesses do capital financeiro que cresce enquanto o cidadão comum perece.

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