Comunidades tradicionais dos Gerais e de Veredas, do distrito de São Joaquim, município de Januária, norte de Minas, retomam seu território tradicional

geraizeiros

Na madrugada do dia 29 de Setembro, cerca de 135 famílias das comunidades de Poções, Barra do Tamboril, Barra do Pindaibal, Brejinho, Cabeceira de Mocambinho, Capoeirão, Capivara e Angical, Distrito de São Joaquim no município de Januária, retomaram  o seu território tradicional.

Nesta ocasião as comunidades costumam festejar com muita alegria o dia de São Miguel Arcanjo, o protetor e guardião dos filhos de Deus e de sua Igreja. Após a retomada, organizaram o Acampamento Geraizeiro do Alegre, que foi abençoado com a folia de Reis ao som de acordeon, pandeiros, violas, violão e da rebeca.

Na década de 1980, os posseiros e pequenos proprietários desta região foram ameaçados, tiveram os seus direitos violados e foram expulsos de seus territórios. Para implantar a monocultura do eucalipto, duas Empresas do setor Siderúrgico florestal de Minas Gerais a PLANTAR E A METALUR (hoje RIMA), adquiriram áreas de mais de 20 mil ha de cerrados e veredas, ricas em nascentes, córregos e lagoas que formam os principais rios, como os córregos do Alegre e do Pindaibal que alimentam o rio Pandeiros, e os córregos Capoeirão, Capivara e Gentio que formam o rio Pardo, estes dois rios importantes afluentes que alimentam e dão vida ao rio São Francisco.

 Durante estes trinta anos, muitas famílias que eram posseiras foram expulsas de suas terras, milhares de ha de terras públicas foram griladas, e os plantios da monocultura do eucalipto acabaram com a mata nativa do cerrado, com a coleta comum dos frutos, as nascentes, veredas e córregos foram aterradas, matando a cultura, os laços familiares   e o modo de vida das comunidades locais.

As comunidades que antes viviam da abundância dos frutos nativos, das ervas medicinais, dos peixes, córregos, veredas e buritis, hoje sofrem com a seca permanente. A cada dia que passa a situação das comunidades vem se agravando pelas consequências sociais a ambientais causadas pelas ações predatórias destas firmas.

As famílias vem  sofrendo pressões e intimidações por parte dos fiscais e funcionários da Empresa PLANTAR. Nestes dias a empresa enviou dois representantes até o local para ouvir as famílias acampadas.

No sonho e desejo de retornar ao território de seus ancestrais, buscando  proteger, recuperar e defender  a terra mãe e seus recursos naturais, as famílias continuam acampadas até que finalize a negociação  envolvendo  o Ministério Público Estadual e a PLANTAR.

Para fortalecer a luta e a organização, estas famílias contam com o apoio e a solidariedade de muitas organizações e pessoas que hoje estão preocupadas com a seca do rio São Francisco. Pois o rio São Francisco começa a secar é com a degradação das nascentes, veredas e os pequenos córregos que o alimentam. E o que as famílias do Acampamento Geraizeiro do Alegre querem é poder retomar o modo tradicional de viver juntamente com a recuperação dos cerrados e veredas que sustentam o rio São Francisco.

Zilah de Mattos

Comissão Pastoral da Terra

Manga, 03 de Outubro de 2014

Enviada para a lista do Cedefes por Pablo Matos Camargo.

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