Um casal de africanos ficou preso por 20 horas em uma delegacia na França por tentar pagar suas compras em um hipermercado com uma nota de 500 euros. O caso, divulgado na quinta-feira, provocou protestos de associações de luta contra o racismo.
Havia suspeitas de que a nota fosse falsa, mas ela era verdadeira. O casal da Guiné, no entanto, permaneceu detido para interrogatório em Douai, no norte da França, até que a autenticidade da cédula – equivalente a R$ 1,5 mil – fosse finalmente comprovada por um banco.
O casal, não identificado pela imprensa francesa, havia tentado pagar suas compras no valor de 210 euros em um hipermercado da rede Leclerc em Douai com a nota violeta, cuja circulação é rara.
Ao ver a nota pouco comum, a caixa do supermercado, sem utilizar o aparelho para detectar dinheiro falso, disponível na loja, preferiu alertar os responsáveis da rede, que por sua vez chamaram a polícia.
“Temos detectores de dinheiro falso, mas eles não são 100% confiáveis. É uma nota muito rara, isso provoca suspeitas”, afirmou a gerência do hipermercado ao jornal regional La Voix du Nord.
A polícia, por sua vez, também não utilizou nenhum equipamento para analisar o dinheiro e manteve o casal detido entre a tarde de segunda-feira e a manhã de terça-feira.
“Foi necessário aguardar a perícia de um banco e efetuar investigações porque o papel da nota parecia estranho. Há problemas de tráfico de dinheiro falso na região”, declarou o procurador de Douai, Éric Vaillant, ressaltando que “lamentava” a detenção indevida do casal de africanos.
“É normal que a polícia faça o seu trabalho, mas é preciso criar outros sistemas mais aperfeiçoados para evitar que as pessoas passem a noite na delegacia por causa de uma nota de dinheiro verdadeira”, declarou o procurador.
Protestos
O incidente gerou protestos de associações, que viram no caso “humilhação” à comunidade africana.
“Isso mostra que qualquer africano que utilize uma nota de 500 euros em um comércio é visto como alguém que usa dinheiro falso. Nos sentimos humilhados”, afirmou Aggeex Hutin, presidente da associação Cedyfart Africa International, que luta contra discriminações, à rádio France Info.
“Onde isso vai parar? Pessoas são privadas de liberdade na França por terem utilizado uma nota conforme à regulamentação. Os policiais nem se deram ao trabalho de verificar o dinheiro, embora houvesse detectores no supermercado. Houve um abuso inaceitável”, disse Hutin.
Na quinta-feira uma manifestação com representantes das associações Movimento contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos (MRAP, na sigla em francês) e Cedyfart Africa foi organizada em Douai.
O diretor da segurança pública da região, Didier Perroudon, negou que o casal tenha sido preso por ser negro. Ele afirmou que os policiais tinham dúvidas sobre a autenticidade da nota e que os bancos já estavam fechados no momento da intervenção.
“Tivemos de esperar o dia seguinte para realizar a perícia”, afirmou a autoridade policial para justificar a detenção do casal, que passou a noite na delegacia.
Em um comunicado, a rede Leclerc afirma que os funcionários da loja “somente aplicaram os procedimentos de segurança, reforçados em decorrência de um tráfico de dinheiro falso na região”.
“Não temos como interferir na ação policial e não podemos ser acusados de discriminação”, diz o comunicado do grupo, ressaltando que o casal africano “é evidentemente bem-vindo no estabelecimento”.