Eleições: Não há anjos, nem demônios. Mas queremos acreditar que existem, por Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Duas versões de um mesmo acontecimento são confrontadas.

A primeira, está fundamentada em fontes com diferentes pontos de vista, dados de instituições confiáveis, informações investigadas e checadas em longa apuração. Passa no crivo da lógica, mas é chata pra diabo.

A segunda baseia-se em uma teoria mirabolante, conspiratória e deliciosa, que coloca uma outra pessoa, candidato, empresa ou governo em maus lençóis. Não faz sentido algum, mas ajuda a reafirmar a sua visão de mundo.

Em qual você prefere acreditar?

A maioria responde “a primeira”, quando observada pelo coletivo, e “a segunda” no silêncio do anonimato – o lugar quentinho em que nos refugiamos da razão, aquela castradora maldita.

E quando alguém traz dados para mostrar que a “segunda” não se confirma, é prontamente convidado a se retirar ou a calar-se. E não estou falando apenas das eleições. Isso acontece o tempo todo.

Sugestão: se você quer chegar vivo até o final de outubro, ou melhor, se você preza sua sanidade mental e quer continuar assim, refugie-se no alto do seu cinismo. Agora e sempre.

Não acredite no que a internet diz, ou no que a imprensa diz, ou no que seus candidatos dizem.

Desconfie de seus amigos, chefes, colegas, vizinhos, governos.

Ponha em xeque os ensinamentos de sua família, do seu professor, de seu guru espiritual ou daqueles que dizem falar em nome do seu deus.

Duvide deste blogueiro cabeçudo.

Esteja aberto a pontos de vista diferentes dos seus, sem necessariamente comprar as ideias neles presentes.

Absorva o máximo de informação possível, de fontes com visões diferentes das coisas.

Depois, com calma, converse, verifique, reflita, analise.

Pense. Não deixe que pensem por você.

Garanto que o mundo ficará muito menos colorido e sem graça. Mas a vida não é conto de fadas. Infelizmente, a vida é isso aí que está diante dos seus olhos mesmo, crua, seca e dura. Acostume-se e pare de fugir, criando bandidos e mocinhos, heróis e vilões, onde eles não existem.

O pior é que, ainda por cima, sou obrigado a ouvir que maconha é que afasta as pessoas da realidade.

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