Nesta eleição, vote pela retirada de crucifixos de instituições públicas, por Leonardo Sakamoto

E se, no local onde está o crucifixo do plenário do Supremo Tribunal Federal, colocássemos o escudo da gloriosa e centenária Sociedade Esportiva Palmeiras?
E se, no local onde está o crucifixo do plenário do Supremo Tribunal Federal, colocássemos o escudo da gloriosa e centenária Sociedade Esportiva Palmeiras?

Leonardo Sakamoto

Defendo fortemente que a retirada de símbolos religiosos de prédios públicos seja realizada por todos os que ocupam cargos públicos no país. Pessoas são eleitas para representar cidadãos de todas as crenças (inclusive os que acreditam em nada) e não apenas cristãos.

A discussão não é nova no país ou mesmo neste blog, mas acho que é obrigação cívica resgatá-la em época de eleições.

A questão da retirada de crucifixos, imagens e afins de repartições gerou polêmicas ao longo da história a partir do momento em que um Estado se afirma laico. A França retirou os símbolos religiosos de sedes de governos, tribunais e escolas públicas no final do século 19. Nossa primeira Constituição republicana já contemplava a separação entre Estado e Igreja, mas estamos mais de 120 anos atrasados em cumprir a promessas dos legisladores de então.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil chegou a lançar uma nota, no passado, em que rejeitou “a criação de ‘mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União’, pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar nossas raízes históricas”. Adoro quando alguém apela para as “raízes históricas” para discutir algo.

A escravidão está em nossas raízes históricas.

A sociedade patriarcal está em nossas raízes históricas.

A desigualdade social estrutural está em nossas raízes históricas.

A exploração irracional dos recursos naturais está em nossas raízes históricas.

A submissão da mulher como reprodutora e mercadoria sexual está em nossas raízes históricas.

As decisões de Estado serem tomadas por meia dúzia de iluminados ignorando a participação popular estão em nossas raízes históricas.

Lavar a honra com sangue está em nossas raízes históricas.

Caçar índios no mato está em nossas raízes históricas.

E isso para falar apenas de Brasil. Até porque queimar pessoas na fogueira por intolerância de pensamento está nas raízes históricas de muita gente…

Quando o ser humano consegue caminhar a ponto de ver no horizonte a possibilidade de se livrar das amarras de suas “raízes históricas”, obtendo a liberdade para acreditar ou não, fazer ou não fazer, ser o que quiser ser, instituições importantes trazem justificativas fracas como essa, que fariam São Tomás de Aquino corar de vergonha intelectual.

Por outro lado, o pessoal ultraconservador sente aquele comichão de alegria e excitação.

Iniciativas dos três poderes e do ministério público têm tentado garantir a saudável separação entre igreja e Estado, autorizando que crucifixos que adornavam repartições fossem retirados. Algumas dessas ações têm vida curta, mas o que importa é que há um processo de conscientização e ação em andamento. Lento, mas há.

É necessário que se retirem adornos e referência religiosas de edifícios públicos, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Não é porque o país tem uma maioria de católicos que espíritas, judeus, muçulmanos, enfim, minorias, precisem aceitar um símbolo cristão em um espaço do Estado.

As denominações cristãs são parte interessada em várias polêmicas judiciais – de pesquisas com célula-tronco à extensão do direito ao aborto. Se esses elementos estão escancaradamente presentes nos locais onde são tomadas as decisões sem que ninguém se mexa para retirá-las, como garantir que as decisões serão isentas?

O Estado deve garantir que todas as religiões tenham liberdade para exercer seus cultos, tenham seus templos, igrejas e terreiros e ostentem seus símbolos publicamente. Não pode se envolver, positiva ou negativamente, em nenhuma delas. Estado é Estado. Religião é religião.

“Ah, mas então vamos retirar o Cristo Redentor do morro do Corcovado. E vamos acabar com os feriados religiosos no Brasil”. Como é política deste blog ignorar previamente comentários com argumentos bobos, sobre isso, digo apenas: Ahã, Claudia, senta lá.

Não sou eu quem pede isso e sim Mateus. É, Mateus. O coletor de impostos que registrou a fala do revolucionário de barba, que pregava a igualdade entre os povos. Não, Marx não. Jesus de Nazaré.

No capítulo 22, versículo 21 do livro atribuído ao evangelista, está registrado: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”.

Nesta eleição, você, pessoa de fé naquilo que não vê ou de fé apenas naquilo que vê, vote em quem prometer tirar crucifixos de gabinetes e plenários e enviá-los ao seu devido lugar. Ou seja, qualquer um longe das paredes das instituições que pertencem a todos e todas, independente do credo.

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