Sobre uma História do Insensível- O caso da Casa de Marighella

Carteira do PCB de Carlos Marighella. Fonte: Brasil - Liberdade e Democracia
Carteira do PCB de Carlos Marighella. Fonte: Brasil – Liberdade e Democracia

“Não ficarei tão só no campo da arte,
e anônimo e firme sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio a própria sorte”.
 Trecho do poema “ Liberdade” de  Carlos Marighella.
São Paulo, Presídio Especial, em 1939.

Por Alenice Baete, Coletivo Carranca

Me causou indignação a negação do pedido de tombamento em âmbito estadual por parte do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural-IPAC da Bahia de uma casa da Baixa dos Sapateiros em Salvador, Bahia. Saber que nela o revolucionário Carlos Marighella passou parte de sua vida com sua família, e que este mesmo sítio tem inspirado ao longo dos últimos decênios múltiplos significados sobre a sua memória. Marighella herdou dos pais a combatividade- um operário imigrante italiano e uma negra descendente dos haussás, conhecidos por participarem de sublevações contra a escravidão e exploração dos trabalhadores.

O proponente do pedido de tombamento da casa, o arquiteto com vários prêmios no exterior, Márcio Ferraz (que também já foi coordenador do Programa Monumenta do Ministério da Cultura) e o autor da obra: “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, Mário Magalhães (jornalista e ombudsman da Folha de S. Paulo) que o digam… grandes conhecedores da sua biografia e da sua real importância para a memória da resistência no Brasil. Magalhães (2012) lembra ainda do seu reconhecido papel como escritor e poeta. Camarada de Jorge Amado, o Engenheiro Marighella foi líder e militante do Partido Comunista, encarcerado e torturado em tempos de repressão foi eleito deputado federal nos anos quarenta. Desarmado, este estrategista guerrilheiro foi morto por agentes da ditadura militar, fortemente armados, em São Paulo, no ano de 1969. Seu assassinato completará 45 anos no dia 04 de novembro.

Mas em tempos de “Comissão Nacional da Verdade” fica não compreendida a negação do tombamento da “Casa Marighella” solicitada por especialistas no assunto… Nos alenta então a singela herma do político e também Engenheiro Rubens Paiva, outra vítima da ditadura militar, torturado e assassinado em 1971 em um quartel militar. Trata-se de um importante monumento erguido há poucos dias em um logradouro no Rio de Janeiro (pela associação dos Engenheiros, e não pelo governo). Talvez servirá para nos provocar lembranças de “delicadas e invisíveis histórias”- nada transparentes, e do destoante e insensível papel da “escolha” sob o prisma da cultura brasileira… “alheio a própria sorte”.

Outras Fontes Consultadas:

MAGALHÃES, Mário. “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

MAGALHÃES, Mário.  Estado da Bahia se nega a tombar casa onde Carlos Marighella cresceu, em 11 de setembro de 2014. In: http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br, acesso em 13 de setembro de 2014.

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